Antes de tomar o primeiro gole do café da manhã, Geraldo Alckmin lê um relatório da Secretaria de Segurança Pública sobre a criminalidade em São Paulo. Foram 23 mortes no fim de semana, mas pelo menos houve uma boa notícia: uma quadrilha de seqüestradores foi desbaratada após a libertação de uma vítima, com a recuperação do resgate pela Polícia Civil. Já no gabinete, o governador recebe o relatório diário da Secretaria da Fazenda sobre a arrecadação no estado. ¥As coisas podem estar começando a melhorar¥, diz, depois de verificar uma queda menor na receita. Em entrevista à Parabólica, Alckmin usa seu estilo conciliador ao falar de política e diz que o grande esforço do candidato tucano à Presidência, José Serra, deve ser chegar ao segundo turno das eleições. ¥A partir daí, é outra eleição¥, afirma. Ele defende a reforma política como prioridade, por considerá-la ¥a mãe de todas as reformas¥. Sem ela, teme uma crise social e econômica.
O nervosismo se instalou na campanha presidencial do PSDB?
A campanha só vai começar depois do último apito da Copa do Mundo. Se o PSDB fizer acordo com o PMDB, terá um bom tempo na televisão. Nosso candidato, José Serra, está bem posicionado, pois chegou ao patamar de 18% muito rapidamente. O grande esforço é ir para o segundo turno. Aí, no segundo turno, será outra eleição.
O engajamento do partido e dos aliados ainda não se deu. A base que hoje sustenta o Governo Fernando Henrique está rachada. Como aglutinar todos os partidos?
Em política, não se obriga. Política se conquista. E tem de conquistar a base aliada, estimular os partidos para conquistar o eleitor. Serra é o candidato mais preparado, tem um bom programa de governo para o país e pode passar isso na televisão. O eleitor pode sentir mais confiança nesta fase. É preciso conquistar a confiança do eleitor.
Mas as pesquisas não estão animadoras para o candidato Serra, que ficou estagnado nas últimas semanas.
Vou contar uma história que ouvi aqui em São Paulo, numa festa feita para a colônia árabe em que esteve presente, além do Almir Gabriel, o governador Anthony Garotinho. Ele disse que havia um pote de mel e as formigas tentavam subir e todas escorregavam, nunca chegando até o mel. De repente, uma chegou lá. Ela não era mais forte, não era tanajura, não tinha diferença física sobre as outras. Apenas era surda e não ouvia as outras gritarem: ¥Desista, que você não vai conseguir…¥ Portanto, ainda falta muito tempo para a eleição.
A escolha do vice é um problema? Ele deve ser do Nordeste?
Se puder ser do Nordeste, está bem, porque o Serra é do Sudeste. Mas isso não é obrigatório. A escolha do nome está com o PMDB.
O PSDB é um partido que nasceu da costela do PMDB, justamente por desavenças em São Paulo, Minas e Paraná. Como estão sendo as conversas com o PMDB paulista, que tem como interlocutor Orestes Quércia, o mesmo de quem os tucanos divergiram e que os fez criar um novo partido?
Na realidade, as conversas com o PMDB estão apenas engatinhando, ainda não avançaram. Mas, também, nós não temos pressa. Não vejo razão para correria. Em São Paulo, temos mais afinidade com o PFL. Se o PFL não tiver candidato à Presidência, a possibilidade de coligação é grande. Já com PPS e PTB, com os quais conversávamos e estamos bem próximos, uma coligação se tornou impossível em função da aliança de nível nacional. A nossa base política aqui é formada por cinco partidos: PSDB, PFL, PMDB, PPS e PTB.
Mas uma eventual aliança com o PMDB local deve, necessariamente, ter como interlocutor Orestes Quércia, que é o presidente estadual do partido.
Uma aliança não é feita com pessoas; se faz baseada em propostas, por afinidades de trabalho e de conduta.
Existe essa afinidade com o PMDB?
Tenho dito duas coisas: as alianças são necessárias. Do contrário, não se governa. Se puder firmar a aliança durante o processo eleitoral, tanto melhor, porque dá mais transparência e o eleitor não é surpreendido com alianças estapafúrdias. De qualquer forma, isso só deve acontecer mais perto das convenções, em junho.
Mas a aliança nacional está selada e, pelo que se vê, a dimensão do PMDB é bem maior do que se fez com o PFL, por exemplo. O PMDB terá a vaga de vice de Serra e deve indicar o nome.
O episódio nacional com o PFL mostrou a fragilidade do sistema político brasileiro. Uma briga política local, no Maranhão, acabou por paralisar o Congresso por muitos dias. Isso mostra a necessidade de uma reforma política em que se discuta a fidelidade partidária, a cláusula de barreira, pois não é possível que tenhamos mais de 30 partidos registrados que, na campanha eleitoral, se prestam a ¥língua de trapo¥ para denegrir a imagem dos adversários. Não temos tantas ideologias assim. Precisamos de partidos que saiam do personalismo e passem a acentuar idéias e programas. É preciso compreender a importância da reforma política. É uma reforma necessária à governabilidade do país e ao aperfeiçoamento da democracia. E compreender, também, que a reforma política não é uma coisa somente dos políticos, mas ajuda a parte social e a economia – portanto, é do interesse de toda a sociedade. Uma crise política não é assunto dos políticos, tem efeitos devastadores no social e na economia, como acontece na Argentina. A reforma política é a mãe de todas as reformas, porque a sua ausência deixa o sistema político mal construído e gerador de crises. Como disse Tristão de Athayde, o Brasil tem várias crises; mas, no âmago, há uma crise política.
Como está a economia de São Paulo?
Espero que estejamos superando um longo período de queda de arrecadação. A recuperação da arrecadação é um termômetro da atividade econômica. Mas, de janeiro para cá, só tivemos queda. Em janeiro do ano passado, tivemos uma arrecadação 8% acima do orçamento previsto, mas em maio, com a crise energética, o crescimento foi de 4% acima do previsto e, em setembro, com os atentados nos Estados Unidos, não houve crescimento algum. Em janeiro deste ano, com a crise da Argentina, começou o período de queda, com 1,5% menos do que o previsto. Em fevereiro, foi menos 5,8%, e em março, menos 6,4%. Neste mês de abril, até agora a arrecadação está em menos 4%, uma queda menor do que no mês passado. Assim, espero que tenhamos batido no fundo do poço e que estejamos voltando ao período de recuperação. A arrecadação do ICMS, que representa 88% do orçamento de São Paulo, ficou com R$ 27 milhões a menos em janeiro, R$ 120 milhões a menos em fevereiro e R$ 134 milhões a menos em março. Até agora, estamos com R$ 65 milhões a menos, mas espero que estejamos em recuperação.