A Zona Leste está em festa. Em 25 de fevereiro último, foram abertas as inscrições para o vestibular inaugural da nova unidade da Faculdade de Tecnologia (Fatec), cujas aulas terão início em abril. Carro-chefe do Centro Tecnológico da região, que fica localizado em cidade A.E. Carvalho, a escola é a primeira a oferecer ensino superior gratuito à grande e sofrida Zona Leste, que contabiliza nada menos que 4,3 milhões de habitantes, o equivalente a 40% da população paulistana.
O projeto sacramentado pelo Decreto n° 46.524, assinado por Alkimin no início de fevereiro – foi concebido no começo do segundo mandato de Covas à frente do executivo paulista, e implementado por mim, na época Secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo. De lá para cá, o Governo investiu cerca de R$ 7,6 milhões na empreitada. Recém-concluída, ela impressiona: são três modernos prédios com auditório, 16 salas de aula, 10 laboratórios, biblioteca com acervo inicial de 400 títulos, enfermaria, sala de projeção e quadras poliesportivas, num total de 5.8mil metros quadrados de área construída.
Mantido pelo Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (Ceeteps), responsável pela formação de mais de 10 mil tecnólogos em 33 anos de atividades, o novo complexo educacional é composto pela Escola Técnica Estadual da Zona Leste e o Núcleo de Pesquisa, além da unidade da Fatec – a segunda na Capital e a décima no estado. Quando estiver funcionando com plena capacidade, colocará à disposição dos estudantes um total de 1440 vagas em três cursos superiores: Tecnologia em Informática, com ênfase em Gestão de Negócios, Tecnologia em Plásticos e Tecnologia em Logística, com ênfase em Transportes. Cada um dos cursos terá 2.800 horas, ao longo de seis semestres.
Nos próximos dias 16 e 17, será realizado o primeiro vestibular, com 160 vagas para Informática e Logística. Posteriormente, com o início das aulas do curso de Transportes, serão abertas 240 vagas a cada seis meses. Dessa forma, jovens de bairros como Itaquera, Ponte Rasa, Vila Matilde, Artur Alvim, Penha, São Miguel Paulista e Cidade Líder, entre tantos outros, não mais terão de atravessar a cidade em busca de qualificação profissional – preocupação constante de Covas e Alkimin. Agora, esses rapazes e moças terão apenas de pegar ônibus até o terminal de Cidade A.E. Carvalho, que fica bem próximo ao Centro Tecnológico.
Surgido em meados da década de 50, o bairro tem longo histórico de lutas. Os primeiros moradores – muitos deles funcionários da construtora de Antônio Estevão de Carvalho, que emprestou seu nome ao lugar – lutaram por melhores condições de transporte. Pudera: quando precisava, ir ao Centro ou a qualquer outro ponto da Capital, caminhavam até a estação de Artur Alvim, para pegar um trem, ou viajar em desconfortáveis paus-de-arara. A pressão deu resultado: em 1960 foi criada a primeira linha de ônibus para a localidade.
O Centro Tecnológico representa outra vitória da comunidade e um paradigma para o relacionamento entre cidadãos e poder público – em São Paulo e no Brasil. Explica-se: no final de seu primeiro mandato, Mário Covas pensou em construir uma prisão no bairro da Zona Leste, proposta que não foi bem recebida pelos moradores. Segui-se, então, um diálogo entre o Executivo estadual e líderes comunitários, com destaque para o aguerrido padre Tição, que levou ao arquivamento do projeto inicial e à gênese da nova unidade de ensino e pesquisa do Ceeteps, São Paulo perdeu Mário Covas em março do ano passado, mas suas lições de estadista e de democrata estão aí. A Cidade A. E. Carvalho que o diga.
José Aníbal é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PSDB. Foi Secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do estado, de fevereiro de 1999 a abril de 2001