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Banco Central dá banho de realidade no governo

G1, por Thais Herédia – O relatório de inflação feito pelo Banco Central, divulgado nesta quinta-feira (27), dá um belo banho de realidade no governo. As mensagens dos diretores do BC são claras e diretas. Se o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não ouviu das manifestações populares “nenhuma referência ao descontrole da economia”, é bom ele levar a sério o que dizem seus colegas de governo.

Dois recados básicos da autoridade monetária à turma de Mantega: o governo está gastando além da conta; o desemprego baixo está pressionando a inflação. Além desses, o BC diz ainda que o índice oficial de preços do país, o IPCA, deve ficar próximo de 6% em 2013, ou seja, maior do que foi no ano passado, quando fechou em 5,84%. Quer mais? Tem mais: o PIB, segundo os cálculo dos BC, não chega a 3% esse ano, aproximando as expectativas oficiais ao que já esperam muitos economistas – um PIB mais perto de 2,5%.

Foto: DivulgaçãoAo mencionar o mercado de trabalho apertado como fonte de pressão inflacionária, o BC coloca o dedo na ferida do governo. O desemprego baixo vem sendo comemorado como grande feito do mandato de Dilma Rousseff. O problema não é ter muita gente empregada. É reajustar salários acima da produtividade da economia e acima da inflação, como vem acontecendo.

“Neste ponto, cumpre registrar que a teoria – no que é respaldada pela experiência internacional – ensina que moderação salarial constitui elemento-chave para a obtenção de um ambiente macroeconômico com estabilidade de preços”, diz um trecho do relatório.

Sobre a política de gastos públicos, o BC não mede as palavras – ela está em modo expansionista, o que também provoca mais pressão sobre os preços. O relatório ainda sugere que, adotar “já” mais responsabilidade fiscal é condição prioritária para recuperar a confiança sobre a economia brasileira e manter o bonde nos trilhos.

“O Comitê nota que a geração de superávits primários compatíveis com as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação, além de contribuir para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta, solidifica a tendência de redução da razão dívida pública sobre produto e a percepção positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo”, dizem os diretores do BC.

Moral da história na versão mais curta – o Copom vai continuar subindo os juros, hoje em 8% ao ano. Num ambiente de “negação” da realidade pelo governo, o relatório do BC chega a ser ousado. Ousadia é bom, mas juízo é melhor.

* Thais Herédia assina a coluna “Os caminhos da Economia” no G1

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