Bom momento para o PSDB? Como assim se, por um lado, o PSDB já é governo e, por outro, se qualquer de seus nomes cogitados para a Presidência da República não tem por ora apoio considerável da opinião pública? Mas, na verdade, vista a conjuntura com um pouco mais de cuidado, uma boa oportunidade se abre para os tucanos
Em primeiro lugar, lembremos que a limitação das medidas provisórias, restringindo o campo de ação do Executivo e ampliando o do Legislativo, gera novas possibilidades e responsabilidades para os parlamentares, assim como para os partidos. Já não será possível cruzar os braços na atividade legislativa, enquanto se grita contra as iniciativas do Executivo. Um comportamento ativo do Congresso Nacional será imprescindível, sob o risco de concorrer para a instalação de graves impasses.
Por outro lado, uma conjuntura de incerteza, não de derrota, é propícia para que o PSDB volte a ter uma face coerente. Graças à fragilidade de princípios, a que veio juntar-se o vale-tudo da infidelidade partidária, partido que alcança o poder tende a inchar-se inevitavelmente. Foi assim na época do regime autoritário, quando a Arena, ungida pelos militares, era ¥o maior partido do Ocidente¥, e é assim, em outro contexto, nos dias de hoje.
A benéfica redução do inchaço tucano, que já vem ocorrendo, abre a possibilidade de uma renovação partidária. Alguns sinais positivos podem ser citados, no rumo da coerência, como mostra o caso do desligamento dos senadores Álvaro e Osmar Dias, que insistiram em assinar o pedido de abertura de uma CPI, a pretexto de combate à corrupção, contrariando orientação do governo e do partido.
É claro que iniciativas como essa não significam uma tentativa de introdução de um monolitismo político; nem se pode ignorar o fato de que a maior coerência tem muitas vezes um custo político elevado. Mas há conjunturas em que é preciso reequilibrar a dosagem entre, de um lado, a sustentação da coerência e dos princípios e, de outro, a adoção da ¥realpolitik¥. Exemplificando. Assumida em estado puro, a ¥realpolitik¥ transformou o PMDB em uma colcha de retalhos com os tristes resultados que estão à vista de todos.
Seria um equívoco também pensar que a guinada do PT, moderando seu radicalismo, acabou ocupando o espaço dos tucanos. O projeto de programa de um eventual governo petista, cujo lançamento foi em si mesmo um fato positivo, constitui um bom exemplo do que estou afirmando. Como a imensa maioria dos observadores apontou, o documento é imaturo e contraditório no plano econômico e, em seus elogios a governos latino-americanos que ¥fugiram ao modelo neoliberal¥ (Chávez?), é dúbio na afirmação democrática.
De fato, o lugar de centro-esquerda na política brasileira não está preenchido, e o PSDB tem boas condições para ocupá-lo.