Lula e Chávez, uma questão de afinidade
Lula inicia em Cuba viagem pela América Latina
O Estado de S Paulo 03.12.2001
O presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, embarca hoje para Cuba, primeira etapa de breve viagem pela América Latina. Em Havana ele participa do Foro São Paulo, que reúne 90 partidos de esquerda latino-americanos, onde serão discutidos assuntos como Mercosul e Alca. Na quinta-feira Lula se encontra com o presidente do Peru, Alejandro Toledo.
Deve conversar sobre relações bilaterais e a questão energética entre os dois países. Depois deverá seguir para a Venezuela para reunir-se com o presidente Hugo Chávez.
Lula elogia ¢caráter democrata¢ de Chávez
O Estado de S Paulo 07.12.2001
Apesar da declaração, petista evitará falar hoje sobre ¢assuntos domésticos¢ da Venezuela
LUCIANA NUNES LEAL
Enviada especial
LIMA – O pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu ontem o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que enfrenta a pior crise de seu governo, sob pressão crescente de setores oposicionistas e da sociedade. Eles têm encontro marcado para hoje, às 10 horas. ¥Pode-se acusar Hugo Chávez de qualquer coisa, menos de não ter executado a democracia¥, afirmou.
À frente da Presidência da Venezuela pela segunda vez, Chávez foi preso, em 1992, após uma tentativa de golpe para derrubar o presidente eleito Carlos Andrés Pérez.
Para Lula, Chávez é ¢centroavante matador¢
O Estado de S Paulo 08.12.2001
Petista volta a elogiar ¢ousadia¢ de presidente, mas diz que um governo seu seria diferente
LUCIANA NUNES LEAL
Enviada especial
CARACAS – Em mais um dia de muitas manifestações nas ruas de Caracas, tanto de protesto como de apoio ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, comparou-o a um ¥centroavante matador¥, pela ¥ousadia¥ com que tem conduzido o governo.
Lula conversou com Chávez durante mais de quatro horas, na sua residência oficial.
O petista disse que Chávez pode ser ¥às vezes impetuoso em excesso¥, mas ressalvou: ¥Não podemos esquecer que ele sempre respeitou a Constituição.¥
Em mais uma comparação com o futebol, acrescentou que ¥o centroavante às vezes perde o gol porque não passou a bola para o companheiro¥. Antes de ser eleito, Chávez chegou a ser preso por tentativa de golpe militar na Venezuela.
Na visão de Lula, que terminou ontem uma viagem de cinco dias por Cuba, Peru e Venezuela, não há paralelo entre o delicado momento vivido por Chávez, em confronto com empresários e trabalhadores, e um possível governo petista no Brasil. ¥As oligarquias brasileiras não são mais como antes¥, disse. Ele explicou que um governo do PT não seguiria os moldes do de Chávez. ¥É melhor levar um ano para aprovar alguma coisa, discutindo, ouvindo pontos de vista, do que decidir rápido e depois enfrentar resistências¥, afirmou, referindo-se ao fato de o presidente venezuelano ter assumido amplos poderes para tomar medidas econômicas sem ouvir a população, o que motivou a crise atual.
Lula: ‘Ele pensa o que eu penso’
O Estado de S Paulo 09.12.2001
Petista ressalta pontos de convergência entre suas convicções e as do presidente venezuelano
CARACAS – Depois de quatro horas de conversa com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, saiu entusiasmado. O petista descobriu opiniões convergentes. Um exemplo: “Ele pensa o que eu penso. A relação com os Estados Unidos é importante, mas não pode se subordinar. Sem antiamericanismo”, explicou o presidenciável. E ficou convencido sobre pontos polêmicos do pacote de 49 leis baixado pelo presidente venezuelano que definiram novas regras para a posse de terra, aumentaram as exigências para os grandes empresários, entre muitas outras mudanças.
Greve pára Venezuela e Chávez faz ameaças
O Estado de S Paulo 11.12.2001
Segundo a Fedecámaras, 90% do país aderiu ao ¢Paro Cívico¢
LUCIANA NUNES LEAL
Enviada especial
CARACAS – No dia em que o empresariado da Venezuela fechou as portas ao governo Hugo Chávez – a Federação de Câmaras da Venezuela, Fedecámaras, calculou em 90% a adesão ao ¥Paro Cívico¥ -, o presidente radicalizou e avisou aos opositores que, além de não estar disposto a dialogar, não aceitará novas manifestações como a de ontem, em que o protesto deu um ar de domingo ao país, em plena segunda-feira. ¥Não tenho nada a falar com os imorais. Não tenho que discutir imoralidades. Não vou sentar com a oligarquia para trair o povo¥, discursou Chávez, na manhã de ontem, paramentado com sua farda de tenente-coronel, na solenidade de comemoração do aniversário da Força Aérea Venezuelana. E deixou claro que está disposto a frear os protestos: ¥Declaro-me em campanha para fazer chegar a lei aos que não aceitam a lei. Não aceitarei o motim, a chantagem.¥
À tarde, já com o uniforme de campanha e boina vermelha, endureceu em discurso para os camponeses na Praça Caracas, com nova ameaça: ¥A partir de hoje, novos acontecimentos ocorrerão na Venezuela. Não vamos aceitar que se confunda democracia com libertinagem. Querem o conflito? Terão o conflito.
Vamos ao contra-ataque revolucionário¥, insistiu o presidente.