
Citando as manifestações recentes do papa Francisco que recomendou aos leigos católicos a participação na política pois, no seu entendimento, a política “é uma das formas mais altas da caridade porque busca o bem comum”, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – acaba de divulgar o documento “Pensando o Brasil: desafios diante das eleições de 2014 “ em que reproduz o que a mais alta hierarquia da Igreja Católica pensa das manifestações de rua que pipocaram em todo o país a partir de junho do ano passado, preconiza o mais veemente combate à corrupção e, pela primeira vez, se manifesta sobre o papel da mídia em momentos de descrença da população como o atual.
Assinado pelo cardeal Dom Cláudio Damasceno, presidente da CNBB, Dom José Belisário, arcebispo de São Luís e vice-presidente da entidade e pelo bispo auxiliar de Brasília, Dom Leonardo Steiner, secretário-geral, o documento já está nas mãos de todos os bispos brasileiros para servir de instrumento para debates e conversas com os fiéis até o pleito de outubro.
A CNBB cita no documento que a Lei da Ficha Limpa, por cuja aprovação se empenhou realizando abaixo-assinado, permitiu uma efetiva renovação, afastando da vida pública muitas pessoas que “se beneficiaram do exercício de suas funções para proveito próprio e não como serviço público” e chama atenção da sociedade para os que foram para as ruas “exigindo melhores serviços de transporte, saúde e educação”, acrescentando, “o discurso das ruas também pode ser entendido como um clamor contra o poder que se torna fim em si mesmo e que deixa, portanto, de ter verdadeira representação popular”.
Os bispos brasileiros afirmam que “a fé, à luz dos evangelhos, não deve ser entendida como simples mergulho numa interioridade mística em busca da paz individual” e dizem que “a mudança dessas situações de injustiça e desigualdade requer a intervenção dos cristãos na política como eleitores ou como candidatos. É preciso que os cristãos deixem de colocar em outras pessoas a responsabilidade pela situação atual da sociedade e que cada um passe a perguntar a si mesmo o que pode fazer para tornar concreta a mudança que se deseja”.
Alerta a CNBB que “a decisão consciente de votar em candidatos que representem os valores cristãos é um passo importante mas não é o único”, defendendo que se fiscalize, através dos movimentos sociais, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
O documento faz um duro combate à corrupção. “É indispensável combater a corrupção sistêmica e endêmica invisível e refinada” diz, mas pondera que a corrupção não existe somente nas altas esferas “combater a corrupção significa enfrentar até mesmo os pequenos atos cometidos no cotidiano que apesar de sua aparente insignificância, acabam por corroer as relações sociais”.
A CNBB explica ainda que os desmandos na área política tem sido tantos que muita gente anda descrente, mas preconiza que “é importante reafirmar que há esperança, afinal, o reconhecimento das dificuldades e impasses, representa, na mesma medida, oportunidade de intervenção e mudanças”.
Por fim o documento defende a reforma política que considera “a mais importante das reformas a serem feitas “e faz uma crítica à imprensa por “quase sempre dirigir-se às instituições políticas de forma negativa como se a política fosse coisa suja, o que reforça a descrença da população.”
– “Ao fazê-lo – conclui – deixa de favorecer uma educação popular capaz de questionar os fundamentos da ação política sem ética, o que beneficia os interessados em deixar a situação tal como está”.