Entrevista coletiva – senador Aécio Neves
Brasília – 29-08-16
Assuntos: depoimento da presidente Dilma Rousseff na sessão de julgamento do impeachment
Qual será o tom da oposição nos questionamentos à presidente Dilma?
A oposição está preparada para se comportar hoje como vem se comportando, com responsabilidade, com respeito à presidente da República. Mas caberá a ela que abre a sessão dar o tom. Na verdade, esperamos que a presidente da República preste contas, não apenas a um tribunal no qual o Senado se transformou neste momento, mas, em especial, à história. Acho que a presidente terá a oportunidade de alguma forma demonstrar por um lado que não cometeu crime, achamos difícil. Mas quem sabe também assumir os erros monumentais do seu governo que levaram o Brasil a esta situação de extrema gravidade.
Não vejo que a presidente tenha mais como objetivo mudar votos no plenário do Senado, mas quem sabe ela possa aproveitar esta oportunidade para reconciliar-se de alguma forma com a sua própria história pessoal. Quem sabe até mesmo se desculpando com os brasileiros por tantos erros, por tantos equívocos e assumindo a sua responsabilidade, se não do ponto de vista legal, não acredito que ela fará isso no momento em que é julgada, mas do ponto de vista político com a história. Porque mesmo que não tivesse cometido crime, e achamos que eles foram cometidos, a situação a que o Brasil foi levado com 12 milhões de desempregados, 8 milhões de famílias voltando às classes D e E, mais de 1,7 milhão de brasileiros tendo de cancelar seus planos de saúde por não ter condições de honrá-los, 60 milhões de brasileiros endividados. Tudo isso, é a construção de um governo que na sua arrogância não ouviu análises, não apenas de oposição, mas análises sérias, responsáveis, feitas por economistas de toda ordem. Insistiu em uma falsa nova matriz econômica e levou, repito, o Brasil à maior recessão de toda a nossa história republicana.
O discurso sobre golpe pode fazer a base endurecer o discurso contra ela?
Acho que sim. Acho que se a presidente utilizar o termo golpe, ela estará em primeiro lugar ofendendo o presidente do Supremo Tribunal Federal. Será indagado o presidente Lewandowski, que ele preside, aqui, um golpe. Não acredito que a presidente cometa este erro primário no momento em que apresenta a sua defesa. Isso seria uma afronta ao júri que aqui se reúne através dos senadores, todos, sem exceção, eleitos pelo voto popular. Repito, estamos aqui preparados para receber a presidente da República, com o mais absoluto respeito. Vamos fazer perguntas obviamente trazendo algumas circunstâncias políticas, mas sempre objetivando esclarecer os crimes que foram cometidos. Mas caberá a senhora presidente afastada, Dilma Rousseff, dar o tom dessa reunião agindo de forma respeitosa, obviamente, ela terá o nosso respeito.
Na reunião de ontem, houve qual estratégia por parte da oposição?
Vamos agir de forma extremamente respeitosa com a presidente da República. As nossas perguntas terão um componente maior técnico, jurídico, vamos buscar nos ater aos decretos ilegais que foram produzidos e assinados pela presidente da República, as chamadas pedaladas, que são empréstimos fraudulentos, vamos buscar de forma clara que isso afronta a legislação e a Lei de Responsabilidade Fiscal, por um lado, a Lei Orçamentária, e a própria Constituição, por outro. Agora, se a presidente da República quiser dar um tom diferente daquele que se espera, estamos todos preparados para também mudar o tom.