Não existe meia solução para a Petrobras. Só uma atitude firme, e da presidente Dilma, pode começar a resgatar a empresa do poço ultraprofundo em que ela está.
A diretoria inteira precisa sair, não por suspeição sobre todos os seus integrantes, mas porque a companhia vive uma crise de confiança gravíssima e esta gestão não soube dar respostas convincentes.
Não há como a presidente Dilma possa se esconder desta crise. Ela é a chefe de Estado de um país cuja maior empresa afunda num mar de dúvidas e corrupção.
A Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça estão fazendo seu papel de forma exemplar. Mas o poder executivo faz de conta que não tem nada a ver com esta crise. É como se a presidente Dilma considerasse que não deve prestar contas sobre o que está se passando na maior empresa de nossa economia, a mais querida, a que tem entre seus acionistas desde grandes empresários até assalariados que colocaram lá o seu FGTS.
A pequena recuperação na bolsa ontem não resolve o problema. É desses movimentos naturais, após queda acentuada. A Petrobras enfrenta uma fuga de investidores institucionais, que são os mais desejados por qualquer empresa de capital aberto, porque permanecem no longo prazo com o papel em carteira.
Eles estão saindo, mesmo com o baixo preço da ação. Isso significa que estão realizando o prejuízo, e não voltarão tão cedo a comprar o papel. Pudera. Neste exato momento a empresa não consegue sequer divulgar um balanço auditado. E se não houver balanço, no último prazo que ela terá, parte dos bônus e da dívida vencerá e terá que ser paga imediatamente.
Neste cenário, o que o governo pretende fazer? O país precisa de sinais urgentes de que a presidente Dilma entendeu o tamanho da crise e que está no comando. Ela tem que trocar a direção e declarar de forma enérgica e convincente que seus cargos não serão mais objeto de partilha política.
A receita que a empresa precisa é de profissionalização da gestão, o fim do uso político, um diagnóstico profundo da crise, prestação de contas à sociedade e boa governança. Nada disso pode ser oferecido por quem não viu os desmandos aos quais ela estava entregue.
O próprio conselho de administração que nada viu, nada soube, tudo avalizou, precisa ser trocado. A Petrobras tem 60 anos, é parte da história do Brasil, da construção da confiança do país em si mesmo. Ela é símbolo, ícone.
O importante não é o valor que ela tem na bolsa, que, por sua natureza, é volátil. O fundamental é o valor intangível que a empresa tem para o país. É isso que está se estiolando. Dilma acha mesmo que se não falar do assunto publicamente e mandar beijinhos para os jornalistas o problema sumirá do horizonte?
Um governante se elege para governar e não para se esconder de uma crise dessa gravidade atrás de uma suposta blindagem dada pelo silêncio. A simbiose é tão forte entre o Brasil e a Petrobras que se a empresa permanecer em crise a economia não se recupera tão cedo.
Se o país não reconquistar a confiança na política econômica e nas decisões governamentais, será mais difícil a recuperação da empresa. Se a Petrobras, sem capacidade de captação, tem que cortar investimentos, a retomada do crescimento será mais lenta.
É disso que se trata. Não é uma empresa qualquer; é a Petrobras. É absurdo que tenha acontecido o que aconteceu, mas disso as instituições brasileiras estão tratando, o que dá ao país esperança de que culpados serão punidos. Mas o governo tem que dar o sinal de que a empresa não é uma plataforma à deriva e sem comandante.
* Coluna de Mirian Leitão publicada no jornal O Globo desta quarta-feira (17)