Pernambuco – Os analistas de maneira geral já esperavam algum dano eleitoral para a presidente Dilma Rousseff em face das manifestações de rua ocorridas no Brasil no mês de junho. Ninguém, todavia, imaginava que fosse tão grande.
De fato, em apenas 20 dias, no mês recém-findo, as intenções de voto manifestadas pelos eleitores para a presidente caíram 21 pontos de percentagem, passando de 51% para 30%, conforme se pode ver no gráfico que acompanha o texto.
Levando-se em conta os meses de março a junho, a queda de intenções de voto vai a 28 pontos percentuais. É oportuno mensurar esse declínio em termos de número de eleitores, mas para isso são requeridos alguns passos.
O eleitorado brasileiro gravitava no entorno de 136 milhões em 2010 e de 141 milhões em 2012. Neste período, a taxa média geométrica de crescimento anual desse contingente ficou na ordem de 1,77%.
Admitindo-se que o eleitorado aumente em 2013 à razão dessa mesma taxa, a quantidade de eleitores no Brasil no presente ano seria de 143 milhões, aproximadamente.
Desses 143 milhões, alguns vão votar em branco ou anular o voto e outros não vão comparecer às urnas. Contando o primeiro e o segundo turno de 2010, os votos brancos e nulos e a abstenção alcançaram, em média, 7,8% e 19,8%, respectivamente.
Suponha-se que esses mesmos percentuais prevaleçam agora, em 2013. Então, o eleitorado que compareceria ao pleito e votaria em candidatos (votos válidos) seria da ordem de 104 milhões.
Assim, se a eleição fosse hoje, como se pergunta na pesquisa, Dilma estaria liderando a corrida presidencial (contra Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos) com 30% dos votos válidos e a eleição iria para o segundo turno porque a soma dos votos dos demais candidatos, 47%, seria maior do que a votação da presidente.
Entretanto, Dilma teria perdido nada menos do que 29 milhões de eleitores entre março e junho deste ano. Para se ter uma ideia da magnitude do estrago eleitoral, só no período das manifestações de junho, cerca de 22 milhões de pessoas abandonaram o barco petista.
Em face das respostas pouco concretas do executivo aos clamores populares e a anunciada continuidade das turbulências de rua, é de se imaginar que o capital eleitoral perdido pela presidente seja difícil de recuperar antes das eleições do próximo ano, pelo menos na dimensão do patamar que exibia antes da crise.
*Economista e cientista político.