PSDB – PE

Discurso do deputado Nelson Marchezan no Fórum Social Mundial de Porto Alegre

O SR. PRESIDENTE (Saulo Pedrosa) – Concedo a palavra ao Sr. Deputado Nelson Marchezan, pelo PSDB. S.Exa. disporá de 10 minutos.
O SR. NELSON MARCHEZAN (PSDB-RS. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, não era meu propósito ocupar esta tribuna para analisar o 1º Fórum Social Mundial realizado em Porto Alegre. No entanto, como alguns Deputados ocuparam a tribuna, resolvi também trazer a minha opinião, que, aliás, em parte, foi expressa no Rio Grande do Sul através de artigo que publiquei no jornal Zero Hora e de algumas entrevistas e debates de que participei.
Minha posição, Sr. Presidente, frente ao mundo que se globaliza é de que nos devemos unir para buscar amenizar e contrapor os efeitos nefastos e deletérios que a globalização está a produzir, para criar forças, para que essas teses, muitas vezes de interesse dos países maiores, possam ser dobradas, modificadas, enfim, para que sejam feitas as alterações que interessam aos nossos povos.
O Fórum Social Mundial realizado em Porto Alegre, que espero que produza bons efeitos, teve seu primeiro pecado na idéia de não fazer essa união e de representar na apresentação pública que se fez apenas o interesse de um partido, que, autoritariamente, assumiu perante a opinião pública a idéia da condução da organização desse seminário. E lá foram deixadas fora as entidades que representam também o povo do Rio Grande do Sul, enquanto a conta, as despesas, os custos dos seminários foram apresentados a toda a sociedade rio-grandense, porque foram pagos pelo Erário do Estado.
Ainda assim, Sr. Presidente, achei bom o seminário ter sido realizado em Porto Alegre. Mas é interessante que façamos essas observações, para que possamos fazer uma análise.
Vou citar meu exemplo. Fui convidado por esta Casa para representá-la naquele seminário, e, depois de ter aceito, li num jornal que dois Deputados que representam apenas um partido é que estavam designados. E contra os Parlamentares nada tenho. Aliás, tenho até admiração e respeito pessoal por esses Deputados que estavam designados para representar a Câmara dos Deputados.
Portanto, achei que não deveria comparecer ao seminário porque senti que tinha o propósito de reunir um partido e algumas idéias, e não de dar a contribuição que a sociedade brasileira poderia dar.
Nem o Governo brasileiro, nem os partidos que integram a base e as teses do Governo brasileiro tiveram ali um representante, mas os representantes da Oposição puderam expor suas idéias. Escrevi artigo em que exponho essas idéias e as transcrevo nos Anais da Casa.
Há outras observações, mas como lá eu não tive vez, tampouco meu partido, faço-as aqui: pedi dinheiro ao PSDB. Ao conseguir, mandei fazer cem outdoors e os distribuí pela cidade de Porto Alegre, mostrando os programas e as idéias de inclusão social do PSDB. Temos, sim, programas e projetos de integração social, aprovados por esta Casa, como o Programa de Renda Mínima, que envolve 1,5 bilhão de reais este ano. Os programas de saúde, iniciados em 1995 com apenas 14, 8 bilhões de reais, este ano o orçamento destinou 26 bilhões de reais, quase o dobro. Poderia aqui falar em PRONAF, em FUNDEF, em 800 mil empregos, falar no dinheiro para saneamento, nas modificações que se vão fazendo, não para dizer que estou satisfeito com a sociedade brasileira, não para dizer que estamos conseguindo fazer tudo aquilo que desejávamos. Mas, Sr. Presidente, não aceito o fato de que um partido se apresente como o Partido de Inclusão Social e que tudo o mais represente o neoliberalismo, que, na expressão de seus propagandistas, reproduz o desemprego, a pobreza e a miséria. Não. Nós também lutamos contra a globalização, sobretudo contra seus efeitos,
até porque lutar contra a globalização é uma idéia que nem o próprio Fórum admitiu, porque lá se encontravam representantes de todo o mundo a discuti-la. Então, como fato aceito, inexorável, precisa ser modificado, domado, tirados os efeitos benéficos, e amenizados, contraditados ou neutralizados os maléficos.
Quero comentar dois pontos do seminário. O primeiro, que lamento, é que não houve conclusões. Há quem diga que os fóruns não têm obrigação de apresentar conclusões. Tomei parte de um debate com um Deputado, que participou do fórum, e, ao ser questionado pelo jornalista sobre tal assunto, S.Exa. disse: ¥Eu não sei, porque esse debate se realizava em outra oficina. ¥
Se um Parlamentar brilhante desta Casa, presente ao Fórum, não pôde expressar suas conclusões, como as pessoas que lá não se encontravam podem se referir ao evento? Já havia consultado meu Partido, reunido algumas pessoas competentes e capazes para analisar as conclusões do Fórum Social Mundial de Porto Alegre e ver o que o Governo brasileiro está fazendo de certo ou de errado. Dessa forma poderíamos corrigir, emendar, mas não posso fazê-lo porque não se conhecem as conclusões. Sabe-se que lá esteve muita gente, debateu-se muito, mas mesmo os que participaram não são capazes de relatar as conclusões e experiências, sobretudo das medidas que precisamos para nos contrapor ou a Davos, ou onde quer que seja, às idéias da globalização que prejudicam nosso povo.
Ouço com prazer V.Exa., Deputado Maurílio Ferreira Lima.
O Sr. Maurílio Ferreira Lima – Deputado, estive no Fórum Social Mundial. É lógico que tendo Porto Alegre Prefeito do Partido dos Trabalhadores e o Rio Grande do Sul, seu Estado, também com Governador do Partido dos Trabalhadores – os quais foram os anfitriões -, eles quiseram faturar com o evento. Mas a iniciativa do Fórum não foi do PT. A iniciativa do Fórum foi de um órgão da maior importância no mundo, Monde Diplomatique. Conheci um intelectual americano que me disse estava aprendendo francês para poder ler Le Monde no original. O Le Monde não é um jornal. É o jornal. O Le Monde pauta o Washington Post, pauta Los Angeles Times, pauta o mundo inteiro.O Fórum é uma iniciativa, porque é um processo, aberta a quem quisesse participar. Muitos colegas do PMDB disseram que não iriam porque não foram convidados. Não, havia um Fórum Parlamentar, quem quisesse que se inscrevesse. A inscrição era livre. E tudo que é novo tem de surgir com charme. O charme das meninas de sovaco cabeludo, dos índios, da juventude. O que não é suportável é a globalização onde o dinheiro virou virtual. Não existe. Só vejo: creditaram um bilhão à ONU. Cadê o dinheiro? Está na mesa ou não está? Globalizaram Pinochet, grande coisa, aí sou a favor. Alguém se opera em São Paulo e pela Internet um cirurgião na Inglaterra ajuda a operação. Essa é a globalização que queremos.
Mas a globalização dos capitais pode desempregar pessoas, e esta é a única resistência. O Fórum era aberto à participação de quem quisesse, sem restrição. Pode ter havido algumas vaias.
O SR. NELSON MARCHEZAN – Nobre Deputado, respeito a opinião de V.Exa., mas quero dizer-lhe que vi o candidato do PMDB ser recebido com vaias, depois trocadas por aplausos. Não me consta que a palavra lhe tenha sido dada. Todavia, o candidato de outro partido usou diversas vezes os microfones para defender plataforma.
De forma que V.Exa. também é um daqueles que esteve lá e não conseguiu ver todo o seminário, porque não aprendeu, por exemplo, esse tratamento diferenciado: um era o promotor, o outro, o ouvinte. Como eu seria ouvinte representando a Casa, e lá estaria. V.Exa. também comete, desgraçadamente, o mesmo equívoco.
Estava também presente um senhor, chamado José Bové, representante dos interesses globalizados da Europa, mas não da América Latina, que conseguiu passar ao mundo a imagem de que a soja brasileira é transgênica. A Europa não compra soja transgência, e nossa soja não o é. Seguramente, Sras. e Srs. Deputados, hoje o produto exportado do Brasil está a sofrer a propaganda de um estrangeiro que vem se meter em nossos problemas.
Se ess
a pesquisa está sendo feita, é por
que o próprio Governo do Rio Grande permite – e o Sr. Secretário de Pesquisa foi ao rádio e à televisão dizer que se tratava de pesquisa.
Não tenho nada a ver com a Monsanto, mas o Governo do Rio Grande do Sul era autoridade para destruir essa pesquisa. Não precisamos de franceses que representam interesses muitas vezes escusos. Ele podia ter usado a tribuna do congresso, que era livre. Foi convidado. Teve o melhor hotel de Porto Alegre pago, retornou em primeira classe, sala VIP, coisa que muito Deputado desta Casa não tem. Tudo bem. Qual a ONG estava pagando? Quem pagou as despesas para ele vir fazer desordem, propaganda, representar os interesses de uma economia agrícola da Europa que massacra nossos produtores, nossos pequenos produtores? Eu não vi essa discussão.
O PT gaúcho também está chateado com isso, porque esse cidadão tomou conta, com suas teses, e ficou parecendo que o encontro de Porto Alegre foi para discutir se a soja brasileira é ou não transgênica, o que não traz bom resultado para o Brasil. Pode trazer para a Europa, interesse que o Sr. Bové representa.
Lamento não poder continuar, Sr. Presidente, mas, se for necessário, voltarei a esse assunto, não para criticar a realização do evento, mas o modo como foi feito e a forma como se tentou tirar proveito. Isso, vou discutir permanentemente.

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