Meus companheiros, minhas companheiras, poucas pessoas tiveram, como tenho agora, a possibilidade e a emoção de falar na dupla qualidade de Presidente da República, mas, sobretudo, de tucano, de companheiro de vocês. Fala aqui o companheiro que neste momento exerce a Presidência da República, que nunca misturou os assuntos de Estado e da administração com o facciosismo partidário, mas que nunca se esqueceu que se não fosse o rumo traçado pelo PSDB e pelos que fundaram o PSDB, não teríamos podido fazer o que fizemos no Brasil. Nós mudamos o Brasil, nós tiramos do Brasil o atoleiro da inflação, nós tiramos o Brasil daquela corrupção que comia no dia-a-dia, que a inflação acobertava e que a imprensa não denunciava porque não sabia. Nós tiramos o Brasil do medo do amanhã, nós tiramos o Brasil daqueles que viviam aflitos sem saber se no dia seguinte o salário que ganhavam serviria para alguma coisa, ou seria pó, transformado pela inflação em um nada que não serviria para alimentar seus filhos.
Eu encontrei um Brasil em ruínas. Eu encontrei um Brasil em ruínas quando fui ministro da Fazenda do Presidente Itamar Franco. Vim correndo dos Estados Unidos, nomeado de madrugada por ele, e sempre lhe fui grato, tanto que nunca respondi a nenhuma das suas leviandades, e nem responderei. Mas o Brasil não vai esquecer, o Brasil não pode esquecer que quando assumi o Ministério da Fazenda tive que improvisar um discurso, porque eu não tinha sido preparado sequer para ser ministro da Fazenda, eu era ministro do Exterior. E nesse discurso eu disse que tínhamos três problemas: a inflação, a inflação e a inflação. E que eu ia acabar com a inflação e eu acabei com ela, eu acabei com a inflação. Eu não, o povo brasileiro acabou com a inflação, porque o povo entendeu que um governo aberto, um governo que explica, um governo que confia mais no povo do que nas suas próprias idéias, é um governo que permite a esse povo construir junto. Nós construímos juntos um país onde a inflação desapareceu. Nós construímos juntos um país – como já disseram o ministro José Serra e o governador Tasso Jereissati e tantos outros -, mas especificamente nesse ponto nós construímos um país no qual a privatização não veio por uma razão ideológica, mas como a necessidade do povo brasileiro, que não podia mais continuar pagando dezenas e dezenas de funcionários públicos que não faziam nada, que eram apontados pelos partidos e que estavam ali pedindo, não votos, mas pedindo recursos, sob o pretexto de que no futuro precisariam de votos. E isso acabou no Brasil. E para acabar isso no Brasil, para que o Brasil retomasse o rumo do crescimento, para que o Estado se democratizasse, para que pudéssemos ter, como hoje todos disseram aqui, políticas públicas que alcançam, de fato, o mais pobre, na educação, na saúde, na reforma agrária, na previdência social, para que isso fosse possível, foi necessário que houvesse um partido.
E aqui há pouco o nosso novo presidente José Aníbal citava o Mário Covas. E me recordo da anterior Convenção, à qual também compareci como Presidente e como companheiro. Só que naqueles dias eram dias sombrios, havíamos ganho a eleição, mas a nossa moeda fora atacada e não tivemos condições de manter a paridade do real. E o Mário, naquele dia, do jeito que ele sempre foi, com a firmeza que ele sempre demonstrou, nunca me esquecerei, disse: nós aqui somos companheiros, somos tucanos, não estamos olhando Ibope algum; ainda que o Ibope vá para baixo vamos ficar firmes com o Governo e com o Presidente da República, porque nós temos convicções.
Agora não é assim, agora o povo brasileiro já sabe que nós controlamos as crises externas. Outras podem vir, o mundo de hoje é interconectado, ninguém pode prever o dia de amanhã, mas pode prever, sim, que aqui há governo e que aqui há povo. E povo e governo juntos com o PSDB estancaremos os desafios.
Este Partido tem história, falei de Mário Covas. E quem vai esquecer de Montoro, que soube temperar o seu humanismo cristão, a sua tolerância de espírito com a compreensão ampla do que seja uma democracia num país heterogêneo como o Brasil? E Montoro sempre deu uma palavra de aceitação do ponto de vista do outro, mesmo quando discordava, porque ele sabia que o autoritarismo se nutre da intolerância, do fundamentalismo, da sanha de ser primeiro o indivíduo condenado mesmo antes de ser julgado. E Montoro nunca aceitou isso, nunca aceitou que se atropelasse as instituições em nome da democracia, mas também não transigiu nunca, como não transigiu Mário e como nenhum de nós aqui transige com aqueles que, culpados, querem passar por inocentes e continuam enganando o povo com belas palavras. Esses sim hão de passar pelos processos e hão de ser condenados, primeiro pela opinião pública e depois pelos tribunais.
Este Partido tem e teve gente como Sérgio Motta, que fez o que fez na telefonia brasileira. Um setor onde hoje podemos dizer que foi obra de tucanos: o acesso enorme à telefonia, inclusive à telefonia móvel, que passou de 800 mil para 25 milhões, do povo, do trabalhador, da dona-de-casa, do gari, de quem seja, todos têm acesso hoje à telefonia. E isso foi feito limpamente. E não me venham querer sujar a privatização da telefonia com infâmias sobre companheiros que são honestos. Não aceitaremos mais, não aceitaremos mais pecha alguma, a não ser que tenha pelo menos indício, mas infâmia, não.
E como Sérgio Motta tinha essa crença, ele fez o que faltou no setor elétrico. Fizéssemos nós o que tinha sido feito na telefonia e hoje estaríamos melhor. Não foi o PSDB quem lá esteve, se lá estivesse não teria eu que esconder a responsabilidade perante o País, porque os verdadeiros responsáveis se calam. Mas eu não preciso me calar, eu tenho autoridade moral e posso dizer ao País: vamos sim enfrentar mais esta batalha, e vamos ganhar a batalha da energia, vamos ganhá-la como estamos fazendo, explicando ao povo, discriminando, sim, cobrando mais dos ricos e nada dos pobres. E é por isso que gritam, ao ver as vozes dos que hoje falam e reclamam, que são as vozes dos bem-acomodados, que vão aos Tribunais pedir a eles direitos que não têm. Que, aliás, me estranha que juízes hoje em dia comecem a falar antes de algum cidadão ter sequer questionado e induzem ao questionamento, deixando a toga de lado.
Eu nunca deixei de lado a minha responsabilidade de Presidente. Da minha boca os senhores nunca ouviram acusações gratuitas. Quantas vezes calei, quantas vezes calei por compreender a História, por ser responsável. Peço, apelo, em nome da República, para que os ideais republicanos se mantenham, que não se confundam as posições, que não façam julgamento antes da hora os que não têm que julgar, que não incitem questões que não foram postas e que quando postas, aí sim tomem as suas posições e eu respeitarei porque sou democrata. Mas não podemos confundir a democracia com a falta de respeito às leis e às instituições. Não podemos deixar – e digo isso quase com sofrimento, como alguém que lutou toda vida pela democracia, digo isso lembrando de Mário Covas, com uma frase de Bertolt Brecht, que diz: ¥Há homens que lutam uma vida inteira, estes são os imprescindíveis¥. Nós tivemos muitos homens imprescindíveis, que lutaram pela democracia e que lutam pela democracia, mas nós não podemos deixar que a democracia padeça, que a democracia adoeça, abrindo os porões, abrindo a voz dos fugitivos e dando a essa voz olhos de verdade que não tem e que sai a acusar aqueles que estão lutando pelo Brasil. Há limites para a aceitação, há limites para aceitar-se sem reação qualquer infâmia que se lance. Eu peço aos meus companheiros tucanos do Congresso: reajam à altura às infâmias que jogam sobre mim, e sobre o nosso Partido, e sobre o Brasil no dia-a-dia da política. Chega de impunidade verbal, chega de pensar que é possível dizer qualquer coisa,
dizer coisas pesadas sem
nenhum indício, sem nenhum respeito, sem nenhuma consideração, se não a mim, ao povo que me elegeu duas vezes por maioria absoluta e que vai eleger o candidato tucano uma vez mais na eleição de 2002.
Respeitem o povo, contenham a sanha, a palavra é essa, a sanha destruidora. E quando se olha para ver os nossos adversários, o que propõem? Que não se pague a dívida. Nem sabem que a dívida pública federal hoje é menor do que foi em 94, e que a dívida privada externa é de empresas e não do Estado; e se não pagar, acaba é o emprego no Brasil. Dizer que a crise é econômica é um embuste. E apresentam como programa o embuste, o calote como programa. Quando se pergunta: de onde virá o recurso para isso ou para aquilo? A não ser que aumentem mais as tarifas de ônibus, quem sabe, aí sim; mas se forem fiel ao povo, se tiverem senso de equilíbrio, sabem que há compromissos a serem honrados.
E esse não é o único refrão que ouço o dia inteiro. Há um outro: CPI para lá, impeachment para lá. Isso é desrespeito à democracia, CPI é coisa séria, não pode ser palanque eleitoral, não pode ser tribuna para enganar. E lamento que pessoas honradas – pelo menos sempre as tive como tal – utilizem pedaços de jornal para imaginar que o Governo comprou deputados, quando tudo que se fez foi obedecer ao Orçamento votado pelos deputados, que é imperativo. Ou querem, por acaso, voltar ao tempo do regime militar quando o deputado não podia fazer emenda ao Orçamento e não podia ter nenhuma verba que não aquelas que fossem determinadas pelo Executivo? O Orçamento é lei. Quando o Governo cumpre a lei, vem uma liberação que é obrigatória, fazem de conta que foi liberado para obter tal ou qual resultado e ainda ousam cassar o povo pedindo impeachment e CPI sem sentido.
Chega, chega de enganar a população brasileira, fazer de conta que há coisas erradas onde elas não estão e deixando as erradas onde elas estão. Com isso não quero eximir responsabilidade de nada nem de ninguém, nem quero me opor; pelo contrário, que o Congresso investigue o que bem entender, desde que investigue não para demolir simplesmente politicamente, mas para construir um Brasil mais limpo, mais digno, que afaste de fato a corrupção. Mas quando se utiliza a ética como bandeira política, se agride a ética, se faz da ética uma bandeira de luta menor pelo poder. E a ética não pode ser confundida como a luta menor pelo poder.
Nós estamos hoje num momento importante do Brasil, que é um momento de afirmação. Os que puderam me acompanhar agora em Quebec viram o que é o Brasil lá fora, sabem que é um país que se faz respeitar porque não usa as armas da mentira nem da demagogia, usa as armas da razão e a firmeza na defesa do interesse nacional. Este é um novo Brasil, um Brasil que foi construído pouco a pouco pelo PSDB, e que o senador Teotonio Vilela nesses anos que dirigiu o Partido foi tão fiel a esse cumprimento do que é a nossa vocação democrática e, ao mesmo tempo, de luta. Este novo Brasil é o mesmo Brasil que elegeu o deputado Aécio Neves, nosso companheiro tucano, Presidente da Câmara dos Deputados. Este é o Brasil que trabalha com gente de boa fé, este é um Brasil que é vitorioso e que não usa a infâmia nem tem medo de nenhuma ameaça porque não tem rabo preso, este é um Brasil de gente honrada e séria, e que querem agora conspurcar como se houvesse uma confusão de tudo com todos. E quando se faz uma confusão de tudo com todos, quem se aproveita são os ratos. E ratos são aqueles que usam ratos para fingir de conta que há ratoeiras no Brasil.
Leiam um livro sobre a propaganda nazista e vão ver que uma das figuras mais usadas e mais detestadas foi a mistura que lá fizeram dos ratos com a democracia. O que querem neste país? Voltar ao autoritarismo? Propor que haja o calote? Desorganizar a economia? Quebrar regras internacionais? Acabar com o emprego? Levar outra vez a agricultura, como estava no começo do Governo, desorganizada, a nova desorganização? É isso que querem? Nós não queremos isso, nós queremos um Brasil sério e progressista, confiante, sem ódio, com amor. Queremos o Brasil com amor e não o Brasil do ódio, em que qualquer argumento vale para buscar um bode expiatório para aqui para acolá.
Quantas vezes me criticaram porque não atiro à fogueira os homens que comigo cooperaram. Não atiro à fogueira a não ser que eu esteja convencido de que sim, erraram e erraram por tolos, mas não faço a injustiça de jogar esta responsabilidade em terceiros, às vezes assumindo as que não são minhas, porque acho que democracia exige o respeito ao outro, exige a consideração do outro. E isso quer dizer que o PSDB, que vai marchar para essa nova campanha vitoriosa, vai ter que respeitar os outros, vai ter que se aliar. E quando nós nos aliamos, não estamos trabalhando com os iguais, os iguais somos nós mesmos, os aliados alguma diferença terão. E aliança só é válida quando é feita ao redor de um programa para continuar a mudança no Brasil. Nós vamos nos aliar com outros partidos porque nós precisamos continuar levando adiante o nosso programa. Ao aliarmo-nos com outros partidos, não estamos assumindo a responsabilidade pelos erros eventualmente cometidos por pessoas de outros partidos e tampouco assumimos a responsabilidade por erros feitos pelos nossos companheiros, porque companheiros que erram devem de ser punidos. Há que distinguir as coisas, mas nós vamos partir novamente para uma política que requer que os brasileiros se dêem as mãos uns aos outros. E essa política não pode estar baseada no ódio, tem que estar baseada numa proposta generosa.
Nós, do PSDB, temos a aspiração de conduzir esse processo. Nós vamos conduzir esse processo. Para conduzir esse processo temos que ter idéias claras, um rumo muito claro. O que nós fizemos foi algo, mas não basta. Temos que fazer muito mais na educação, na saúde, na reforma agrária, na infra-estrutura, na energia, na telefonia, nas empresas, no emprego. Não somos aqueles que nos contentamos e cantamos glória ao passado. O passado passou, mas nós somos, queremos ser, perdoem a contradição, os herdeiros do futuro. Nós queremos ser herdeiros do futuro, um futuro que venha a ser construído por aqueles que vamos substituir. Teremos a capacidade da humildade, de entender que sozinhos não faremos nada, de entender que não é possível uma democracia impor idéias, é preciso convencer, de entender que é preciso às vezes ceder, de entender que nas democracias as maiorias ganham. Nós seremos intolerantes é com aqueles que, sendo minoria, tendo perdido sempre, querem ganhar no tapetão da CPI, ganhar no tapetão do impeachment, ganhar no tapetão até a arregimentação da massa contra o que não houve, contra o apagão, quando na verdade devíamos estar todos unidos, como estamos ao povo, para superar uma dificuldade que não é só minha, é de todos nós e de todo o Brasil. Pois até isso usam como pretexto.
Chega, minha gente, o PSDB tem a obrigação moral de sair firme, cantando em toda parte o que nós somos. Repito, sem vangloriar-se, com muita humildade, entendendo que os outros são importantíssimos, os partidos aliados são aliados, fazendo novas alianças, mas, de qualquer maneira, é preciso que avancemos. E temos certeza que só se tivermos a capacidade que temos de seguir a tradição dos nossos maiores do PSDB e dos que nos antecederam nos outros partidos, de olhar o exemplo de todos os brasileiros de qualquer que seja o partido, que seja construindo nesse espírito, que é um espírito de trabalho, de ética e de dignidade, que vamos levar o povo à vitória em 2002.
E é com essa bandeira: trabalho, ética e dignidade, que vou terminar dizendo o seguinte: aqui, hoje, esta tarde, por aqui passou, não sei quem ainda, o futuro Presidente do Brasil!