Meu caro companheiro, já há tantos anos, Vice-Presidente Marco Maciel,
Governador Jarbas Vasconcelos,
Ministro José Serra,
Peço permissão a todos os demais que aqui estão me acompanhando, uma vez que já foram citados pelos que me antecederam, para fazer mais um vocativo: a esses grandes agentes de agentes de saúde, que estão melhorando a vida do Brasil.
Vou pedir mais uma licença. Como é de praxe, o Presidente República, nessas ocasiões, deve fazer um discurso citando uma série de fatos, dados e agradecimentos.
Essa manhã, aqui, foi muito especial, uma manhã de vibração. Não vou, portanto, ler o discurso que trouxe. Até porque, muito do que diria já foi dito. E foi dito muito melhor. Foi dito com entusiasmo pelo Dr. Robalinho, mais isento do que eu para se referir ao que o Governo fez, e com uma experiência direta, louvável, aqui, em Pernambuco. Foi dito pelo Ministro José Serra, que repete isto sempre, que é engenheiro e economista, mas é meu médico particular. E demonstrou grande capacidade de direção nesse Ministério.
Queria apenas fazer algumas pequenas referências, enquanto eu os ouvia, enquanto ouvia a vibração, mais do que compreensível dos agentes e das agentes de saúde, quando alguma referência se fazia ao trabalho deles. Ouvir o Ministro Serra dizer que, na área da saúde, além dos outros atributos, para que as pessoas que nela trabalham possam exercer a profissão, é preciso que tenham, também, uma dimensão de solidariedade. Eu estava me recordando – e até me esqueci do nome, coisa rara, tenho boa memória – de um discurso famoso, feito nos Estados Unidos, o discurso chamava-se: ¥I Have A Dream¥ – ¥Eu Tenho um Sonho¥. Esse discurso é de Martin Luther King, que tinha um sonho e repetiu várias vezes o sonho. O sonho era um sonho de qualquer homem, de qualquer mulher que tivesse vivido a vida que ele viveu. Era o de que fossem iguais, que não houvesse mais discriminação racial.
Pois bem, se me permitem, também tive um sonho. Sempre tive um sonho, muito antes de ser Presidente da República. Sempre tive um sonho de ver se era possível que o Brasil, pelo menos, começasse a se mover na direção de uma melhor condição de vida para o seu povo. Se nada fosse possível fazer, de repente, que se plantasse a semente para que se pudesse, no futuro, frutificar alguma coisa que fosse boa para o povo do país. Isso não é um sonho de alguém que chegou à Presidência. Isso é o sonho de qualquer brasileiro, de qualquer brasileira que vê a realidade do nosso país e que sabe o que hoje sabemos, que este país já pode resolver os seus problemas.
Este sempre foi o meu sonho, como é o de todos nós que temos boa-fé e que queremos fazer algo solidariamente para com o nosso povo. Talvez eu não tivesse a noção, antes de ser Presidente, de como é difícil realizar esse sonho, de como é necessário que esse seja o sonho de muitos, de que esse seja o sonho de todos, para que ele, realmente, possa avançar e possa se concretizar.
Se alguma coisa do que aqui foi dito a respeito do modo de governar, do Governador Jarbas Vasconcelos, do meu e de tantos outros, do Vice-Presidente Marco Maciel, a meu lado, e de tantos outros, é que a primeira condição para que esse sonho seja realidade é que nós olhemos uns aos outros com confiança e que não tenhamos medo das diferenças e que as pessoas de outra classe social ou de outro partido devem ser encaradas, por cada um de nós, sobretudo pelo Presidente, simplesmente como brasileiros que temos que chamar à mobilização, como fez o Ministro José Serra, para que possamos realizar um grande sonho de um Brasil melhor.
Por isso, quando ouvi o representante de vocês, aqui, que fez um discurso tão direto, tão comovedor e tão objetivo, ao mesmo tempo, ele disse que, se não é possível que se mudem exercícios, se mude o governo. Ele tem minha solidariedade total porque não pode haver partidarização da administração pública, que administra pelo Brasil e não pelo partido, administra pelo ser humano, administra em benefício de cada um de nós, lutando por um futuro melhor. E não é possível que haja, nessas questões, a partidarização. Por isso, o tempo todo, no governo, nunca permiti – nem foi necessário muito esforço – que houvesse discriminação política.
Nunca perguntei ao Governador, ou ao Prefeito, ou ao Vereador, ou ao Deputado e – e aqui há vários – de que partido ele era. Sei, às vezes; nem sempre. Perguntei se ele estava realmente unido no propósito de melhorar o Brasil. Esta união, e ela é necessária no plano político, é mais necessária ainda na administração e no plano social.
Aqui, ouvi referência a muita gente. Eu queria fazer referência a uma só pessoa, à Dra. Heloísa Machado Souza. Por quê? Porque o Ministro Serra tem feito uma administração exemplar, mas a administração se torna exemplar quando o Ministro é capaz de buscar pessoas competentes e quando essas pessoas se dedicam inteiramente à sua tarefa. Não foi ela a única. Mas ao citá-la, cito a equipe do Ministério da Saúde, que tem sido extraordinária. E também quero lhes dizer, reiterando o que disse o Ministro Serra, que se a gente tem, às vezes, esses momentos que são mais de emoção, são de sonho.
Por acaso, eu estava, este fim de semana, na minha em São Paulo, no apartamento onde sempre vivi, e onde continuo vivendo. Buscando lá uns documentos, me deparei com uma folha de papel assim, dobrada, escrita à mão. Estava escrita assim: ¥À Turminha do Cebrap.¥ Cebrap era o Centro de Pesquisa no qual eu e Serra trabalhamos. O Ministro Raul Jungmann tinha ligações também. No tempo do regime autoritário. Estávamos refugiados no Centro de Pesquisa. E abri o papel. Era uma notinha de estímulo, assinada de uma maneira peculiar. Tinha escrito: irmão. E o símbolo de Arcebispo era de D. Helder Câmara. Era D. Helder Câmara que nos mandava uma nota. Nunca mais tinha visto esta nota. Agora, sábado, eu vi e, talvez por isso, tenha vindo a Recife mais pela emoção que pela razão, porque essas questões valem. D. Helder estimulava-nos, na época, num Centro de Pesquisa, a que fôssemos solidários, a que continuássemos avançando. Por isso, me referi à Heloísa. Por isso, me refiro aos trabalhadores do Ministério da Saúde.
E é preciso dizer, como já foi dito aqui, que esse programa tem raízes. Aqui, em Pernambuco, é exemplo de administração do Jarbas na Prefeitura. Lá no Ceará, onde o Governador Tasso Jereissati teve iniciativas importantes. Lá em Niterói, onde o Prefeito Jorge Roberto da Silveira teve, também, iniciativas importantes. Em várias partes do Brasil, esse programa foi se criando paulatinamente. Mas foi o Dr. Adib Jatene que fez, de uma maneira absolutamente insistente, persistente, conseguiu fazer, primeiro com que nós tivéssemos a sensibilidade, minha e, depois, do Congresso, para haver mais recursos para a saúde. É verdade que ninguém arrancou mais recursos para saúde do que o Ministro Serra. E todos os demais colegas dele sabem. Ele lutou, e luta, pela saúde. Mas também é verdade que o Dr. Jatene foi lá buscar uma fórmula – ele entendia muito de Orçamento e foi quem também incutiu no meu espírito a importância dos agentes comunitários de saúde, quando eles eram apenas 20 e poucos mil.
Depois, também quero dizer que, para esta caminhada pudesse ter êxito, o Ministro César Albuquerque ajudou no plano de assistência, o PAB, Plano de Atendimento Básico. E depois essa realização fantástica da tenacidade do Ministro Serra que fez com que isso pudesse evoluir na forma pela qual evoluiu.
Visitei pessoalmente agentes de saúde. Visitei aqui, visitei em Natal. Fui – nunca me esquecerei disso – a Touros, no litoral do Rio Grande do Norte. Fui a Iracema, uma cidadezinha lá perdida no interior do Ceará. Entrei numa casa onde havia o atendimento – mais de uma aliás – de uma senhor
a idosa, doente. Numa outra era um senhor idoso, doente. Era
o começo desse programa. E, naquela época tentavam mostrar a mim o quanto o programa economizaria de hospital. Eu pensava, aqui comigo: meu Deus, muito mais que economizar com o hospital, o quanto esse programa significa um Brasil melhor, um Brasil com o qual nós todos sonhamos, um Brasil de maior solidariedade.
Sou, portanto, testemunha do esforço de vocês. Sei, assim como os Ministros e o Ministro Serra, que sem a presença de técnicos competentes, sem Prefeitos, sem Vereadores, sem Deputados, ele não funciona. Não tenhamos ilusões. Sem o agente de saúde, homem e mulher, ele não funciona. São vocês que, realmente, fazem desse programa uma realidade viva, com amor. Porque não é por dinheiro. O dinheiro é muito escasso. É com amor. Não estou com isso dizendo que não é preciso dar recursos. Não estou com isso dizendo que os recursos são incompetentes sem amor, são malbaratados e não vão para os que mais necessitam. Vocês, de alguma maneira, no seu conjunto, são a grande agência social de transformação deste país.
É por isso que estou aqui, como muito bem disse o Ministro José Serra, para agradecer. E se assinei hoje um projeto que vai para a Câmara dos Deputados, eu o fiz porque vocês têm direito a isso.
Mas este sonho, que é meu, que é nosso, não se confina na saúde, tem que se estender por várias áreas. A educação aqui já foi mencionada. E aqui, me permitam mais uma referência pessoal, já que estou em discurso oficial. Faz algum tempo, o Vice-Presidente Marco Maciel me trouxe umas informações sobre a ação – perdão à referência pessoal – do meu avô, aqui em Pernambuco. Meu avô era militar, foi general, foi mesmo marechal, mas foi republicano, foi abolicionista, foi a favor da Revolução de 22, foi preso com os Tenentes, foi o único General, junto com o Marechal Hermes da Fonseca, que foi preso, porque apoiou os Tenentes, e comandou a Região de Recife. Foi lá por volta de 1916/17. E aqui ele fez alguma coisa que é meu sonho, já era sonho dele, já seria sonho de todos nós e dos nossos antepassados. Ele criou uma chamada ¥Liga Pernambucana contra o Analfabetismo¥. E criou várias escolas, 30 e poucas. Uma tem o nome dele.
Pois bem, esse sentimento de que ou nós educamos o nosso povo, ou não vamos ser nunca um povo solidário, um povo capaz de alcançar o seu destino, uma grande nação, tem que estar muito vivo em todos nós. Educação e saúde. E a isso nós temos dedicado uma boa parte dos nossos esforços. Hoje, comemoramos 150 mil agentes comunitários. Em breve, vamos comemorar, e vamos distribuir 10 milhões de Bolsa-Escola. A Bolsa-Escola é como o agente comunitário de saúde. Não foi inventada por mim. Foi lá em Campinas. Foi lá em Brasília. Foi pelo Brasil afora. Mas demos o salto e não é só quantitativo. É como aqui, no caso do Ministério da Saúde, nos vários programas da Bolsa-Alimentação. Ao invés de fazer-se uma estrutura para favorecer politicamente esse ou aquele, e o pistolão e o favor, fizemos o cartão magnético que dá cidadania, e cada um vai receber o que tem direito e não um favor.
Da mesma maneira, não pode haver um país nos sonhos sem mais terra. Aqui está outro Ministro pernambucano, Raul Jungmann. Digam o que disserem, é normal que se critique. Com generosidade, o Dr. Robalinho disse que a História reconhecerá. Não sei. Não importa que reconheça ou não, quero é ver meu sonho avançar. E sempre foi meu sonho que houvesse o acesso à terra. Em 1971, escrevi meu primeiro trabalho sobre a reforma agrária. Como Senador por São Paulo, fiz um projeto de reforma agrária. Projeto é fácil fazer. O difícil é fazê-la. Hoje, 500 mil famílias, que não tinham terra, têm terra. Poderá ser melhor? Certamente sempre pode. Mas não havia. Havia muito pouco. Em toda a História do Brasil talvez 200 mil. Nós fizemos 500 mil. É sempre pouco. O Brasil precisa de mais, merece mais, mas é o nosso sonho. Nós vamos, progressivamente, melhorando este país.
Começo a ver, aqui, hoje, em Recife, neste encontro, que para mim tem um profundo sentido simbólico, a ver esse sonho como um pedacinho de realidade. Vamos fazer, como disse o Ministro Serra, com que esse sonho se amplie. Falta muito, mas falta muito mesmo. Vocês sabem, estão em contato com a realidade brasileira. Ela é sofrida, é doída, é dolorosa. Mas, quando a gente olha para trás, vê que andou – vê que andou. Vê que, se, lá, meu avô sonhava em ter escolas, mas não podia sonhar em acabar com o analfabetismo, porque, certamente, naqueles idos, haveria três vezes mais analfabetos do que alfabetizados, hoje, podemos dizer que a próxima geração viverá em um país sem analfabetos, porque 97% das crianças estão na escola.
O Brasil avançou. Cabe a nós a responsabilidade de fazer com que avance mais. O nós, que digo, não é a mim. A nós, como geração, aos mais jovens, que terão mais tempo para avançar. E cabe, sobretudo, guardar esse espírito, que é o de vocês: o espírito de servir, o espírito de estar sempre disposto a ajudar e não desanimar. Olhar para a frente e ver que se precisa caminhar muito, mas olhar para trás e ver que já há um bom pedaço que foi andado.
Vamos com coragem. Vamos com fé e vamos fazer com que este nosso encontro em Pernambuco seja não apenas para mim um reconhecimento sensível da existência de alguma melhoria nas condições sociais, mas que todos os brasileiros possam, um dia, dizer: ¥Puxa, eu andei. Eu caminhei. Meu filho está melhor. Meu neto já está melhor ainda.¥ Este é o Brasil que quero ver. Este é o sonho de todos nós.
Muito obrigado