PSDB – PE

Discurso – Presidente Fernando Henrique Cardoso

Companheiras e companheiros do PSDB, quero começar, ao me dirigir a esta militância, ao me dirigir àqueles que aqui se encontram, porque crêem no Partido, fazendo uma recordação. Faz onze anos, aqui mesmo, neste hotel, um punhado de pessoas – não éramos, talvez, mais do que uns vinte ou trinta – aqui nos reunimos e, numa dessas salas, passamos horas a fio a discutir os novos caminhos para o Brasil. Naquele momento, as decisões que havíamos tomado ainda estavam para verificar se teriam ou não possibilidade de surtir efeito.

Nós não éramos pessoas inexperientes, nós não éramos aventureiros, nós não estávamos na busca de enganar o povo. Alguns de nós já tínhamos uma certa história política. O Governador Montoro, um grande governador, um grande homem, um grande patriota, o inspirador de todos nós, já havia deixado as marcas profundas lá em São Paulo, para mostrar a São Paulo, ao Brasil e a todos nós que nos reunimos naquele instante o que significa fazer um governo não olhando apenas o que vai acontecer hoje ou amanhã, mas olhando o futuro, lançando realmente as marcas de uma renovação. Muitos de nós hoje aqui presentes estivemos junto dele; alguns que hoje são Ministros foram seus Secretários. Todos nós, o Mário e eu, trabalhamos junto de Montoro. Já tínhamos, portanto, história.

Estavam ali também outras pessoas, como Pimenta da Veiga, que já havia sido Líder do MDB. O Mário Covas era Líder no Congresso, na Constituinte, eu era Líder no Senado. Nós estávamos deixando de lado as posições conquistadas, e conquistadas legitimamente, e no momento em que, no Partido no qual militávamos, tínhamos efetuado um esforço imenso para que aquele Partido fosse, como foi, um dos pilares da nossa democracia, arriscamos tudo, porque acreditávamos, como eu acredito, que temos valores, como eu tenho, e não nos interessam cargos. Quem fala hoje é o Presidente, mas amanhã será o militante, e como militante do PSDB serei igual amanhã, estarei firme, acreditando nos meus valores, que são os nossos valores. (Palmas)

O PSDB nasceu aqui e nasceu de uma semente que visa, antes de tudo, ver ao longe, construir um caminho para este País. É por isso que hoje, ao ouvir as palavras dos que me antecederam, vou dizer que não me surpreendi, mas não posso deixar de confessar que me emocionei e que gostei. Ao ouvir Mário Covas, companheiro não só de fundação de Partido, mas de Partidos, porque juntos fundamos o PMDB e o MDB, exemplo vivo de correção, com precisão, com tranqüilidade e com firmeza, dizer aquilo que todos nós sabemos que sai de seu coração, que ele não se move para um ponto num gráfico, mas pelo caráter, sabemos que é verdade. O Mário é um homem de caráter, que quando toma posições ele as toma porque está convencido delas. Ao ouvi-lo aqui dizer aquilo que é certo, com o qual eu concordo, que nós ainda temos muito chão pela frente antes que possamos estar, e, aí sim, estaremos de novo juntos, falando de política eleitoral, nós temos que falar de política para o nosso povo. Temos um compromisso com esse povo e esse compromisso está aqui, no ¥Avança Brasil¥ e nós vamos fazer o Brasil avançar. (Palmas)

Ao ver Teotônio outra vez na direção do Partido e ao vê-lo citar um punhado de pessoas, entre as quais o velho Senador Theotônio, vê-se por que este Partido é firme, porque ele tem história. Teotônio, ao receber novamente o nosso apoio para ser Presidente do Partido, está de novo aqui, soprando firme as velas do PSDB, para que ele continue avançando, mas no caminho certo.

Quantas vezes ouvi o Mário dizer, o Montoro e eu repito: nós não queremos ¥voto mole¥, nós não queremos só ganhar, nem no Congresso. Eu quero, no Congresso, posições firmes; eu quero é convicção no voto. O voto que vem apenas da conveniência, do medo, da incerteza ou do interesse serve ao Governo, mas não serve ao País, não serve ao Partido, não serve a quem o profere e não serve ao Presidente da República, que além de ser Presidente da República é homem de fé, que acredita no Partido.

Eu quero um PSDB que brigue, um PSDB que tome as nossas teses e as faça avançar. E, olha, não é virtude do Presidente, não é virtude sequer do PSDB, é virtude desse povo. Volto de uma viagem à Europa e aos Estados Unidos. Tanto na Europa, como nos Estados Unidos ouvi a mesma coisa e vi nos olhares o mesmo gesto, a mesma mirada de respeito não pelo Presidente apenas, pelo Brasil, porque esse povo conseguiu conquistas muito importantes num prazo muito curto, e o nosso Partido contribuiu muito para elas. Conseguiu aquilo que considero mais importante na mudança da mentalidade do povo: crer na democracia e por ela nós lutamos desde o tempo dos regimes militares. Este povo, hoje, tem a democracia enraizada na alma. E democracia significa voto, eleição, parlamentares, presidentes, governadores, prefeitos, vereadores, mas significa muito mais do que isso, significa cidadania, consciência dos seus direitos. É um povo que demanda, que quer, que pede, que exige e isso é uma vitória que foi construída por esse povo.

A outra é que esse povo, hoje, sabe que sem estabilidade, sem uma moeda forte não há salário que resista, não há crescimento econômico que avance se não houver equilíbrio fiscal, se não houver estabilidade. Essas duas conquistas mudaram a cabeça do povo brasileiro e nós contribuímos para com elas. Não foram conquistas do PSDB, do Governo, do Presidente, não, foram conquistas do povo. Um país que tem um povo como esse pode enfrentar desafios. Podem ter certeza – aqui muitos são calejados na experiência política – de que há certos momentos em que o Presidente da República, seja ele quem for, se for sério, sabe que vai tomar decisões cujo peso histórico recairá sobre seus ombros. Se esse Presidente tiver também a confiança de que ao tomar sozinho a decisão, esse sozinho não será físico, porque espiritualmente ele terá milhões de pessoas que o apóiam e um Partido que o apóia, ele não terá força para decidir. Não é fácil tomar decisões cujas repercussões não podem sequer ser medidas no momento em que se decide. Não é fácil. Custou a mim aceitar, na campanha eleitoral, agora, no segundo mandato, um slogan que dizia: ¥Quem derrubou a inflação vai derrubar o desemprego.¥ Nós derrubamos a inflação, eu não, o povo brasileiro, e derrubamos de novo agora, quando todos os frenéticos quase que angustiadamente torciam para que tudo se esboroasse, para que nós voltássemos à estaca zero, nós vencemos outra vez! Nós vencemos outra vez! O povo venceu, não foi o Presidente! Os jornais de hoje, os grandes jornais do mundo de hoje – não vou citá-los porque posso me esquecer de algum – reconhecem isso. Hoje, como ontem e antes de ontem, os fatos são mais fortes do que a má-fé, do que a torcida negativa, do que a fracassomania. E os fatos vão se impor! O fato é que esse povo tem rumo, tem caminho, e esse caminho, que é o da democracia, da estabilidade econômica, será também o caminho do crescimento e será, portanto, o caminho para lutarmos contra o desemprego. Vamos lutar contra o desemprego!

Não temos demagogia na nossa palavra. Nunca fui de demagogia. Custa-me às vezes até usar palavras mais fortes que aos espíritos mais fracos entusiasmam. Prefiro outras coisas; prefiro, ao invés de usar palavras fortes, traçar caminhos firmes e fazer com que esses caminhos, pela convergência de opiniões, sejam palmilhados pelo nosso País com tranqüilidade.

Se este governo, o governo do PSDB, o governo dos Partidos coligados, porque temos uma coligação, porque o Presidente ganhou, mas os Partidos são vários da Câmara. Precisamos de uma maioria e manteremos a maioria na Câmara, como manteremos no Senado, porque queremos que o Brasil avance, e o PSDB tem uma compreensão imensa desse processo e das dificuldades dele. Temos certeza d
e que esse caminho, palmilhado e seg
uido por esse povo, vai nos levar a uma sociedade de bem-estar. Nós precisamos de uma nova sociedade.

Aqui foi dito pelo Governador Mário Covas que a oposição fundamentalista entre mercado e ser humano não é aceita por nós. Nunca fui fanático pelo mercado. Mercado é uma realidade, realidade que às vezes é trágica, como também já foi descrito aqui e como o Governador Montoro tem mostrado insistentemente, quando de repente, por ordens de computador, desencadeiam-se nuvens de tragédia sobre povos indefesos. Mas o mercado é uma realidade e cabe a nós, que governamos, tomar as decisões que façam com que esse mercado se oriente, também ele, no melhor sentido para o País, com muita dificuldade.

A batalha que travamos agora, nesses meses, quase isolados, está sendo vencedora, porque nós impusemos o interesse do País, impusemos a necessidade de combater a inflação e continuar no rumo, mas essa etinomia, mercado por um lado, social pelo outro, é falsa como o fundamentalismo e não pode deixar de ser também um alerta para que entendamos que a questão fundamental para nós, da social-democracia brasileira, do PSDB, é a pessoa humana, é avançar nas condições da pessoa humana. Não é o social abstrato, é o ser humano concreto.

Peço ao PSDB que nesses momentos em que vamos avançar mais ainda na confiança, eu a tenho inabalável no País, volte a ser visível por sinais concretos de resultados, que ela não nos faça amortecer o sentimento de que este País ainda tem uma dívida social muito grande, nem nos faça imaginar que essa dívida se paga com discurso vazio em tribunas que tem como único objetivo enganar o povo. Não. Essa dívida se paga com o trabalho concreto do cotidiano e é o que os tucanos estão fazendo, é o que o Governo e seus aliados estão fazendo. Cito apenas alguns tucanos que estão com responsabilidade de governo.

Imaginem se seria possível, de um ano para o outro, de repente o Brasil, País que era composto de muitos analfabetos e quase analfabetos, virar um país com índices extraordinários, espetaculares na educação? Seria impossível, mas o que nós fizemos está tendo resultados e terá resultados concretos nas próximas décadas, porque nós mudamos o sentido de educação no Brasil. Em primeiro lugar, para o povo, a escola pública, primária, gratuita e universal, que era o ideal republicano de toda a nossa história, que era uma música aos ouvidos dos pedagogos, mas que não tinha conseqüência prática, hoje tem. Nós temos 96% das nossas crianças nas escolas. Todas recebem merenda escolar. São 32 milhões de crianças todos os dias. Fizemos o Fundef, que talvez os do Sul não saibam, mas quem é do Norte e do Nordeste sabe, revolucionou a vida do ensino e o professor ganha um pouco melhor, porque damos condições melhores para que a qualidade da educação avance.

Isso é o que nós estamos fazendo, não é demagogia. Estamos avançando nas políticas públicas. E se nós olharmos para a saúde, quando houve um programa de saúde da mulher no Brasil? Nunca. Hoje existe. Se formos ver o que estamos fazendo na descentralização do SUS, no controle social das verbas de saúde? Apesar de todas as dificuldades, não diminuímos o atendimento; aumentamos, como aumentamos o da educação. Isso é que é projeto social verdadeiro. Não é um projeto que morre numa palavra vazia, numa tribuna qualquer, simplesmente gritando slogan, mas sem seqüência prática. Também não cedemos àquilo que de imediato aparece como o mais reluzente. Queremos um efeito mais duradouro e estamos, sim, fazendo a maior transformação agrícola do Brasil, a maior reforma agrária, e vamos consolidá-la no Novo Mundo Rural.

Não se esqueçam de que num país que foi conhecido pelo mundo afora como um país de arbitrariedade, hoje temos um programa de direitos humanos que orgulha o Brasil nos fóruns internacionais. É preciso que a sociedade o incorpore e que as nossas práticas, que ainda são muito pouco adequadas a essa matéria, avancem progressivamente.

O apelo que eu queria fazer aos novos dirigentes do PSDB é no sentido de que, compreendendo tudo isso, reconhecendo que o País avançou – e digo o País, não o Governo -, basta ver a Cepal: 12 milhões de pessoas, de 1993 a 1996 – quando chegarmos a 1998 serão mais -, deixaram a condição de miserabilidade e outros 12 milhões melhoraram na sua condição de pobreza. A questão das moradias de pouca utilidade ou de baixa condição diminuiu também sensivelmente. E não me venham dizer que por causa da recessão não sei quantos milhões vão para trás. Aquilo é cálculo de quem está imaginando que vai haver uma recessão imensa, mas o Governo fará tudo para que ela não seja tão grande, portanto não vamos permitir que haja retrocesso. Vamos avançar mais.

Essas mudanças que – repito – são do povo, são do Brasil, não nos devem deixar simplesmente satisfeitos, porque elas ainda são poucas, insuficientes. Precisamos mais e precisamos também incorporar ao nosso discurso essa questão que mencionei de uma nova sociedade. Há temas que temos que politizar no bom sentido, transformando-os em temas cívicos. O Brasil cansou da violência, cansou de ver os jovens morrendo, cansou de ver gente armada, cansou de ver violência no trânsito. O PSDB tem que tomar a bandeira contra a violência, contra o armamento, uma bandeira política, uma bandeira cívica, uma bandeira nacional. É necessário dar mais pão, mas é preciso dar também melhor condição de convivência e de fraternidade, não só com a palavra, mas concretamente.

Sabemos também que há outros setores da sociedade que se inquietam por outros temas que aparentemente não são políticos, mas que devem sê-lo no sentido cívico. Se demos um passo importante na educação primária, agora o Ministro da Educação está atuando fortemente no ensino técnico e secundário, mas está também olhando as universidades e vamos dar um passo adiante muito forte no crédito educativo para resolver, ao mesmo tempo, a questão da família que tem que ter um filho na escola, que tem que pagar o INSS. O que não é possível é fazer uma distorção sobre a outra. Há meios de resolver essa questão e vamos resolvê-la. Espero que o Ministro Paulo Renato possa anunciar em breve os caminhos que estamos trilhando para resolver essas questões.

São questões concretas do povo que vêm nos interessar. Temos que deixar um pouco de lado a obsessão que muitas vezes toma conta do País, ou do abismo, porque este tanta gente já disse, e é verdade, o País é maior do que ele, ou então que é preciso haver uma espécie de falso puritanismo, uma busca de sangue por todos os lados, onde se quer ver podridão. Onde existe podridão, acabe-se com ela! Puna-se a podridão, mas não se jogue lama em quem tem as mãos limpas, e o PSDB tem as mãos limpas e essa bandeira é nossa! Essa bandeira é nossa! E quero que o PSDB seja muito coerente nisso: a ética na política é fundamental para o PSDB, é fundamental para o Brasil e é a nossa bandeira. Que não nos venham agora com conversa fiada, porque aqui há homens dignos e mulheres honestas! Somos todos cidadãos comprometidos com uma outra atitude na política! Essas são as minhas palavras de recomendação e de entusiasmo a este Partido! Aqui fala um brasileiro, aqui fala um cidadão que pela segunda vez teve a honra de ser levado à Presidência pelos seus companheiros de País, mas aqui fala alguém que, sendo Presidente, jamais se esqueceu da sua inteira vida e do sacrifício que muitos fizeram, e muito fizemos, para que este Brasil fosse melhor.

Conto com vocês por um Brasil melhor! Boa sorte! Vamos em frente! Avança Brasil! (Palmas)

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