PSDB – PE

Dura crítica ao FMI e aos EUA

O presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem insistido na necessidade de uma ordem econômica internacional mais justa em todos os encontros internacionais a que comparece, fez duríssimas críticas ao protecionismo norte-americano e à atuação do Fundo Monetário Internacional (FMI), notadamente na solução das crises cambiais, como a da Argentina, na abertura da 43.ª Assembléia de Governadores do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O presidente reclamou que o FMI limita a capacidade de países como o Brasil de financiar o seu desenvolvimento com empréstimos externos, pois contabiliza integralmente as importâncias contratadas como dívida externa, em vez de diluí-las à medida que os recursos efetivamente entram no País.

¥Já apelamos ao Fundo Monetário algumas vezes para pedir esclarecimentos.

Por que fazem isso? Até hoje, as respostas que deram foram como se nós fôssemos analfabetos. Não somos. O presidente do Peru pelo menos é economista, sabe ler. Eu sou sociólogo.¥

O diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, Cláudio Loser, que da platéia ouvia atentamente o discurso do presidente Fernando Henrique, disse depois ¥não ter entendido muito bem¥ o que o presidente dissera. Evidentemente, essa foi uma resposta diplomática, pois Fernando Henrique foi claríssimo em suas críticas ao FMI e ainda mais quando tratou do caso da Argentina. Disse ele que entendia que as instituições multilaterais tivessem permanecido céticas, durante os primeiros momentos da crise, a respeito da capacidade da Argentina de começar a colocar ordem na casa. Mas, depois do ¥empenho enorme do governo e do povo daquele país para buscar um caminho¥, as exigências que continuam sendo feitas ao governo argentino só se justificam se o FMI espera que a Argentina assuma um compromisso que não poderá cumprir. E ressaltou que uma das grandes mudanças ocorridas no Brasil foi a transparência e a exposição das contas públicas. ¥No passado, quantas negociações foram feitas, baseadas numa espécie de mentira? Mentira consentida¥ – acusou – ¥porque a outra parte, a parte poderosa, sabia que não se ia cumprir (o acordo). Mas a situação era de tal gravidade que se fazia de conta. Ora, a Argentina não quer fazer de conta – e agora, depois de alguns esforços feitos, ela está dizendo: Eu já fiz algo, me ajuda a dar outro passo.¥

Não admira, portanto, que, diante da incisiva crítica, o representante do FMI tenha se feito de desentendido.

Mas Fernando Henrique, como já dissemos, não limitou suas críticas ao FMI.

Afirmou que a reconstrução da ordem mundial tem de se dar sobre pressupostos igualitários, com a democratização dos processos decisórios em todos os níveis, inclusive no internacional. E que a agenda de segurança – adotada depois dos atentados terroristas contra os Estados Unidos – não pode abafar os anseios de desenvolvimento econômico e social dos países menos desenvolvidos, que dependem do comércio para crescer.

Lembrou que, em diversas ocasiões, afirmou que, para que a Alca se torne realidade, ela tem de ser resultado de um acordo equilibrado, com ganhos para todos. Mas os Estados Unidos, aplicando salvaguardas aos produtos siderúrgicos, aumentando os subsídios agrícolas e impondo limitações ao fast track, disse o presidente, ¥estão na contramão dos esforços de criação de uma verdadeira Alca¥.

¥Quando se quer o livre comércio, se reduz o protecionismo, e não se pode pedir que países em desenvolvimento abram seus mercados e, ao mesmo tempo, restringir o acesso desses países aos mercados dos países ricos.¥ De fato, o comércio e o investimento internacionais são fatores essenciais e indispensáveis para o crescimento dos países em desenvolvimento e emergentes. Quando a ação do FMI se torna mais um obstáculo do que um incentivo para ajuda internacional a um país que se debate em grave crise, como a Argentina, e os Estados Unidos pregam o livre comércio, que desmentem com práticas protecionistas absurdas, não se está fazendo da globalização um processo eqüitativo, nem se construindo a ordem internacional sobre bases justas. Foi isso o que o presidente Fernando Henrique Cardoso disse, sem meias palavras, aos representantes dos países ricos e dos organismos multilaterais, em Fortaleza.

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