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“Economia é apenas um fator”, por Maurício Romão*

mauricio-romaoO crescimento do pessimismo com relação à economia e, a partir de março, o escândalo da Petrobrás, têm sido apontados como principais fatores que vem contribuindo para a queda da popularidade e, às vezes, das intenções de voto, da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas que se sucedem desde dezembro do ano passado.

Não sem razão: um fator corrói o bolso das pessoas, o outro, danifica a imagem de gestora eficiente da presidente e levanta suspeitas de malfeitos sobre seu partido.

Esses dois fatores ficaram bem realçados neste último levantamento de abril da CNT/MDA, estimulando alguns analistas a, mais uma vez, responsabilizá-los pelos números adversos exibidos pela mandatária nacional.

De fato, na pesquisa da CNT/MDA 79,1% dos eleitores disseram que o custo de vida aumentou nos últimos seis meses e 72,8% acharam que a inflação vai crescer muito ou um pouco em 2014.

Detectou-se, também, que metade da população tem acompanhado ou ouvido falar do caso da Petrobrás e, neste conjunto, 80,5% afirmam que houve irregularidade na compra da refinaria de Pasadina e 66,5% acham que Dilma teve responsabilidade nessa compra.

A ênfase nesses fatores passa a idéia de que seria por aí o caminho para estancar a trajetória descendente de apoio à presidente: frear os índices e as expectativas da inflação, e tirar a Petrobrás do noticiário negativo.

Além de ser um desiderato difícil para ser atingido no curto prazo dos calendários gregoriano e político-eleitoral, esses fatores explicam apenas parcialmente a fuga de apoiadores da presidente.

Além da situação da economia, sempre considerada um dos elementos determinantes do voto, as causas da débâcle na popularidade de Dilma são, por certo, mais abrangentes e complexas, e cujo epicentro deve ser identificado nos movimentos insurgentes de junho do ano passado.

As pesquisas eleitorais, que funcionam como caixa de ressonância do sentimento da população, estão revelando, umas após outras, que as insatisfações que motivaram as inquietudes à época permanecem latentes.

Basta observar, por exemplo, os altos índices de brasileiros que querem mudanças nas ações do governo (no entorno de 70%).

No decorrer das manifestações surgiram demandas (simplificadamente: combate à corrupção, novas práticas políticas, e serviços públicos de qualidade) que, pela sua natureza, não podem ser razoavelmente atendidas em espaço curto de tempo.

Demandas não atendidas geram insatisfações que, por seu turno, despertam sentimentos de mudança.

Sentimentos de mudança derrubam a avaliação positiva do governo, a qual puxa as intenções de voto para baixo.

Esquematicamente: Manifestações → demandas → não atendimento → insatisfações → sentimentos de mudança → queda na popularidade → menor intenção de votos.

Em síntese, a pré-candidata petista se defronta com dois grandes obstáculos para reconquistar adeptos à sua postulação e melhorar seu desempenho nas pesquissas: os percalços da economia, com destaque para o custo de vida em alta, e as insatisfações derivadas do não atendimento das demandas surgidas nos movimentos de junho e mantidas e propagadas no espaço cibernético.

Esses dois obstáculos, definitivamente, estão por trás do mau humor da população – até mesmo com a Copa -, da ausência de confiança, da baixa expectativa com o futuro, desse ambiente irritadiço e tenso que se vivencia hoje no Brasil.

Resta saber se, mesmo na privilegiada condição de incumbente, a presidente terá instrumentos para reverter esse quadro de desalento no curto espaço de tempo que lhe resta até a eleição.

* Maurício Romão é economista e professor

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