Estas eleições municipais de 2016 encerram um ciclo longo comandado pelo PT – Partido dos Trabalhadores. Iniciado na redemocratização com a fundação do partido, esse ciclo fez o país amadurecer para a política, tirando-lhe finalmente, graças à liberdade de imprensa e de organização, o falso encanto do tempo das cortes e dos feudos fruto de nossa herança colonial e patrimonial.
Naqueles tempos, em que mesmo a escravidão persistia, quase acreditava-se que havia duas classes de gente nacional: os ungidos por algum deus que os fazia proprietários, ricos e letrados, com acesso ao mundo civilizado que falava outras línguas, e os perpetuava como classe dominante sobre a outra classe que nem a sua própria língua sabia falar ou escrever. Era “natural” que uns mandassem e outros obedecessem. Vê-se que não era.
Eduque um povo. Ele se libertará. É por isso que as esquerdas retrógradas buscam ao longo de toda a história impedir a educação do povo, e dar-lhe acesso aos bens livres da informação, ou implementar a democracia e o estado democrático de direito. Quando, por frestas da janela da história, vem um líder de visão ou uma onda tecnológica que torne acessível a informação, como é a era do fax e da internet, impérios como URSS desmoronam.
Não por outra razão, é a fresta da internet e das redes sociais que deu equipamento para a derrubada de ditaduras que já duravam seu ciclo de mais de 30 anos no oriente, com as manifestações de massa a partir da década de 2010. Propagando-se por todo o mundo, essa onda fez a política da Ordem Mundial estabelecida depois da II Grande Guerra mudar.
Não há ponto da terra, com exceção quem sabe de ditaduras africanas e a Coréia do Norte, em que as decisões das sociedades são tomadas a partir de muitas inovações, e com a redução do poderio militar como o determinante do respeito entre países. Até Cuba inicia sua abertura ao “ocidente”!
Pois para nós, nessa evolução tupiniquim, a onda mostra o derretimento do partido PT, que se atribuía não apenas a criação de um novo país quanto o de ser o defensor único de tudo que há de bem, atribuindo “ao outro” tudo o que há de mal. Esse maniqueísmo, e o plantio contínuo e crescentemente aparelhado pela cultura local do arrogante ódio dos ungidos, dividiu o país.
O resultado se vê: povo que tem liberdade e informação identifica sentindo na pele primeiro o que perturba, atrasa, e escolhe então o que não quer. E não quer eles, com toda a carga de corrupção na qual afundaram, como em lama, nosso potencial de país no caminho do desenvolvimento.
Deu para eles, finalmente. O estrago é grande. Que o aprendizado tenha o mesmo tamanho. Tempo de construir – e não será fácil, para que possa ir escolhendo não o que não se quer, mas sim o que se quer. Mas começou. Educação como prioridade é tarefa para uma geração. Liberdade é o alimento fundamental.
*Yeda Crusius é presidente de honra do Secretariado Nacional da Mulher/PSDB, ex-deputada federal pelo partido e ex-governadora do Rio Grande do Sul