“Resumiria a gravidade da situação em uma palavra: confiança. Enquanto não houver confiança não há estímulo a novos investimentos. E o governo da presidente Dilma, infelizmente, não tem mais esse ativo para reversão das expectativas”, afirmou o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves sobre a queda de 3,8% do PIB de 2015 anunciada hoje pelo IBGE. Aécio Neves concedeu entrevista à Rádio CBN, na manhã desta quinta-feira (03/03), quando comentou o resultado do PIB e apontou alguns pontos importantes para vencer a crise econômica e política que o Brasil enfrenta como melhorar as leis e dar mais transparência às contas públicas, simplificar o sistema tributário, controlar o crescimento da dívida pública e reduzir o aparelhamento do Estado.
Leia aqui trechos da entrevista:
Sobre queda do PIB
Na verdade, era um desastre anunciado. Os analistas – todos eles – se concentravam em torno de 3,8%, 3,9% de queda esse ano. Mas o que quero destacar é a expectativa que temos para esse ano de 2016. Os analistas consideram que teremos também uma queda do PIB acima de 3,5% e já especulam uma queda de 2017 em torno de 0,5%. Desde o início da década de 1930, o Brasil não tinha dois anos consecutivos de queda do seu PIB. E naquela época, é bom lembrar que o mundo estava caindo, o mundo estava em crise. Agora, o mundo está crescendo em média 3%. Até aqui mesmo, se formos olhar nos nossos vizinhos, apenas Venezuela e Argentina não crescem, os outros todos, mesmo países dependentes de commodities. A queda das commodities está sendo justificada pelo governo como a razão dessa queda do PIB. Pega países como Peru, como o Chile, que têm uma dependência ainda maior do que a nossa de commodities, são países que estão crescendo. Então, grande parte desse desaquecimento da economia se dá em razão de políticas equivocadas tomadas ao longo de todos esses últimos anos, principalmente no ano eleitoral, vocês se lembram os alertas – e foram muitos. E resumiria a gravidade da situação em uma palavra: confiança, credibilidade. Porque enquanto não houver confiança não há estímulo a novos investimentos. E o governo atual, o governo da presidente Dilma, infelizmente, não tem mais esse ativo que estamos vendo, por exemplo, na Argentina, tão importante, tão relevante para uma reversão de expectativas.
Sobre crise social
Vou ser bem direto para dizer que não temos mais governo. A verdade é que o próprio PT, o partido da presidente da República, já abandonou há algum tempo a sua agenda. A presidente tem, hoje, um grande objetivo, do ponto de vista pessoal e político, que é manter-se no poder. E um, do ponto de vista – vamos chamar assim – de reformas, que é recriar a CPMF, portanto aumentar impostos, e para isso ela não conta sequer com a solidariedade da sua base. O consenso que eu colho, e acho que vocês também, que conversam com tanta gente, é que esse governo muito dificilmente terá como resgatar esse ativo essencial para que os investidores olhem para a frente e digam: “olha, agora vale a pena acreditar, há um governo que acredita naquilo que propõe, que tem metas a serem cumpridas pela frente, mesmo com enormes dificuldades”, porque não será fácil para nenhum governo, nem para esse nem para o próximo. Mas sem confiança, sem um rumo claro que esse governo, a meu ver, não consegue mais readquirir, teremos, infelizmente, mais um ano muito difícil pela frente. E com um agravante. Porque nós tivemos, nesse ano de 2015, apenas a agricultura, o agronegócio nos salvando, fomos salvos pela lavoura mesmo, porque a indústria e os serviços tiveram quedas muito expressivas. E serviços é o setor que mais emprega no país. Então, estamos tendo, como consequência perversa de tudo isso, um aumento do desemprego a níveis que não estávamos acostumados mais a ter. Então, a crise que é moral, como estamos acompanhando já há algum tempo com todas essas denúncias, a crise que é econômica, como o PIB aponta agora, ela agora, a meu ver, é uma crise social de enormes proporções, e isso acaba mexendo com a própria política no país.
Sobre propostas da oposição
O PSDB apresentou em 2014 um projeto para governar o país. É claro que a iniciativa de medidas estruturantes, sobretudo em um presidencialismo que eu chamo quase imperial, onde o executivo tem uma força enorme, sempre é do Poder Executivo. O que assistimos ao longo deste último período foi na verdade o abandono dos pilares macroeconômicos básicos que na verdade já nos havia possibilitado uma transição, um período de crescimento importante, ou pelo menos de reorganização das finanças importante, no próprio primeiro mandato do presidente Lula. O que precisamos, na verdade, é um arcabouço legal, mais adequado à transparência, onde haja simplificação do sistema tributário, a profissionalização das agências reguladoras, projeto de transparência das empresas estatais, dos fundos de pensão. Precisamos gerar confiança e credibilidade. A oposição não representa 20% do Congresso hoje. E mesmo assim, estamos conseguindo colocar em votação.
Sobre impeachment
O impeachment é uma previsão constitucional para quando há o cometimento de crime. No caso, crime de responsabilidade. Outra alternativa seria simplesmente fechar os olhos e dizer o seguinte: a presidente da República pode fazer qualquer coisa. Para se ganhar eleição para presidente da República pode-se fazer o diabo, pode-se dar pedalada, pode-se usar recursos da propina e fechar os olhos para isso. Por mais traumático que seja o processo de afastamento do presidente da República, prefiro este caminho onde as leis sejam cumpridas. E não há trauma maior, me permita a franqueza, do que nós ficarmos mais dois anos e oito meses aguardando medidas que não virão. Porque este quadro que se anuncia hoje de queda do PIB de 3,8% poderá se repetir neste ano de 2016 e poderá ter algo próximo lá na frente. Se não tivermos uma mudança, acho que infelizmente quem vai sofrer serão exatamente os brasileiros mais pobres com desemprego, com alta da inflação, com endividamento crescente.