O emprego é o componente mais explícito de uma crise de largas proporções. A economia caminha para três anos de recessão, retrocedendo ao patamar de quatro anos atrás
Ao longo dos últimos anos, foram várias as ocasiões em que se julgou que o Brasil atingira o fundo do poço. Para desalento geral, o pior sempre esteve por vir. Assim permanecemos. O país continua retrocedendo, sem enxergar no governo da presidente Dilma ações capazes de alterar as perspectivas.
Por onde se olha, percebem-se evidências da crise. A fila do desemprego, por exemplo, só aumenta. Nesta manhã, o IBGE divulgou sua pesquisa sobre mercado de trabalho relativa a outubro. Mais uma vez, a deterioração nas condições de ocupação e renda se acentuou. A taxa de desemprego subiu para 7,9%, a mais alta para o mês desde 2007.
Em 12 meses, o número de pessoas sem emprego aumentou em 771 mil. Nunca antes na série do IBGE, iniciada em 2002, houvera salto tão grande entre um ano e outro: o contingente de desempregados cresceu 67% no país – em São Paulo e Belo Horizonte, subiu mais de 80% em apenas um ano.
Não é só o emprego que escasseia. A renda de quem consegue manter-se ocupado também decai. Em um ano, o rendimento médio dos trabalhadores diminuiu 7%, já descontada a inflação do período – ou seja, em termos nominais, a baixa se aproxima de 17%.
Levantamento feito pelo banco Santander projeta dois anos seguidos de redução na massa salarial dos trabalhadores, considerando apenas nas seis principais regiões metropolitanas do país. Isso significa R$ 42 bilhões a menos no bolso dos brasileiros. A tendência é a baixa já registrada neste ano se acentuar no ano que vem.
O emprego é o componente mais explícito de uma crise de largas proporções. Daqui a pouco mais de dez dias, o IBGE divulgará o resultado do PIB brasileiro no terceiro trimestre. Uma coisa já é certa: não será nada bom.
A prévia do PIB anunciada ontem pelo Banco Central mostrou baixa de 1,4% no período, ante o trimestre anterior. O país caminha para três anos de recessão, o que não acontecia desde os anos 1930. É muito tempo perdido.
Confirmados os números do BC, a economia brasileira estará agora em patamar inferior ao que estava quatro anos atrás, calculou a Folha de S.Paulo. Em termos per capita, ou seja, a renda dividida por indivíduo, o retrocesso será ainda mais acentuado, com baixas seguidas ao longo dos próximos anos até atingir, em 2020, o mesmo nível de 2010.
O problema maior é que não se vislumbram iniciativas capazes de recolocar o país no rumo do qual se desvirtuou. As experiências postas em prática nos últimos anos se mostraram um fracasso retumbante e o governo de turno não exibe capacidade mínima de convencer os agentes econômicos de que sabe o que fazer e tampouco para onde ir. À deriva, o Brasil ainda aguarda dias melhores, com a certeza de que, com o governo que aí está, eles nunca chegarão.