PSDB – PE

“Estelionato educacional em Pernambuco”, por Lúcio Beltrão

A educação em Pernambuco avança lentamente, mas avança. A verdade, entretanto, é que a realidade é muito diferente da propaganda oficial. Há inúmeros problemas que são ignorados pelo Governo do Estado e desconhecidos pela maior parte da população.

O que temos em Pernambuco é um estelionato educacional. O governo estadual de maneira ardilosa omite os graves problemas da rede e, utilizando a estratégia de Joseph Goebbels, repete mil vezes que temos a melhor educação do Brasil.

Entretanto, mentiras repetidas mil vezes não viram realidade para quem se mantém lúcido. O IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) tem sido usado claramente com finalidade político/eleitoral. O Governo de Pernambuco oferece vantagem (bônus) para que as metas sejam atingidas. Assim, o índice é muito manipulado. Equipe gestora e professores recebem respectivamente Adicional de Eficiência da Gestão (AEG) e Bônus de Desenvolvimento Escolar (BDE). Esse “bônus” é uma chantagem para a “fabricação” de resultados. Isso não é valorização da categoria.

O Ideb mede o aprendizado em Português e Matemática associado com a proporção de alunos aprovados.

Portanto, o “segredo” para ter bom desempenho é preparar os alunos para provas de Português e Matemática. As demais matérias ficam em segundo plano ou em plano nenhum. Além de ser proibido reprovar aluno. O Fluxo escolar e proficiência dos estudantes precisam ser próximos a 100%. As metas precisam ser atingidas. Não importa como. Não importa a qualidade da escola. Basta o número!

A escola não é uma linha de produção, não podemos responder diretamente pelo resultado do aluno, pois há diversos fatores que interferem no resultado, sobretudo as condições socioeconômicas dos alunos, o nível de interesse e mesmo a estrutura que está disponível na escola.

A administração pública não pode criar ilhas de excelência ou projetos pilotos para mostrar na propaganda oficial. As condições de trabalho são assustadoras. Salas quentes, escolas inseguras, sem quadras, sem laboratórios, sem internet, sem água, etc. Um verdadeiro depósito de jovens. A realidade é sofrível. Desanimadora!

Os resultados no Ideb ou Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de Pernambuco (Idepe) não representam a qualidade da escola. As escolas públicas estaduais não podem continuar sendo cursinhos – com vários simulados – para o IDEB ou Idepe. Não podemos maquiar a realidade e burlar o processo. Isso é fraude!

A educação em Pernambuco é baseada na produção de indicadores, via pressão, fiscalização, perseguição e supressão de direitos.

A atualização do SIEPE (Sistema de Informações da Educação de Pernambuco) é um grande exemplo da política mofada. Como preencher o SIEPE em escolas sem Internet ou que não aguentam a demanda? Os professores precisam fazer tudo duas vezes. 1º no papel (durante as aulas) e depois eletronicamente (geralmente em suas residências). Para os professores de Língua Portuguesa e Matemática o castigo é ainda maior, pois precisam alimentar o Sistema de Monitoramento de Conteúdo.

A péssima educação que nossos jovens recebem é resultado de um sistema falido. A escola finge que ensina/educa, os alunos não precisam fingir que aprendem e os pais não têm tempo para acompanhar o (não) desenvolvimento de seus filhos.

As “metas” precisam ser cumpridas. IDEPE, SAEPE, IDEB, etc. Tudo perfeito!

O professor não pode copiar muito para não cansar os alunos; também não podem passar atividades para casa, pois os pais não gostam; o professor não pode ser rígido, tirar pontos ou proibir o aluno de qualquer coisa. A regra é ser bonzinho e dar notas altas. Todo mundo enganando todo mundo, mas quase todos felizes.

Há outros graves problemas na educação do nosso estado.

Em Pernambuco a tradição clientelista, da política miúda, persiste nas escolas públicas. A escolha dos gestores pela comunidade escolar virou realidade em 2001, mas foi suspensa a partir de 2007. A última eleição direta para diretor da rede estadual aconteceu em 2005. Atualmente, os diretores estão no cargo por nomeação do governador.

A demora e a dificuldade em obter qualquer tipo de licença é desmotivante. Também não há estímulo para que façamos pós-graduação.

O atual governador de Pernambuco prometeu, em 2014, dobrar o SALÁRIO dos professores. Mentiu descaradamente! Os trabalhadores em Educação de Pernambuco não recebem o piso salarial estipulado em lei e não têm condições mínimas de trabalho. Os professores temporários da Rede Estadual de Ensino recebem o mesmo salário desde 2014. Um absurdo!

Somos vítimas de um embuste cruelmente aplicado por quem justamente deveria pugnar pelas boas práticas na educação.

Quem quiser conhecer a educação pública em Pernambuco basta visitar as escolas.

Parece que o sistema existe para não funcionar e que isso é proposital. Não se deseja que pensemos, que critiquemos ou que observemos as inúmeras falhas.

É natural, portanto, o desemprego, a miséria, a violência, os presídios lotados, a corrupção, as cotas, a bolsa-família, a intolerância, o desrespeito, o analfabetismo e, consequentemente, uma política horrível.

“É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade.” Immanuel Kant.

* Filiado ao PSDB-PE, Lúcio Beltrão é professor (concursado) da Rede Estadual

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