Em seu primeiro comício após a invasão da fazenda de seus filhos pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o presidente Fernando Henrique Cardoso garantiu, ao inaugurar uma ponte em Cuiabá, que ações como a de sábado não vão impedir que o governo continue fazendo a reforma agrária. Ele disse que fez o maior programa de reforma agrária da história contemporânea do Brasil.
– Eu desapropriei, no Brasil, mais de 20 milhões de hectares de terra. É o maior programa que já se fez na história contemporânea. De nossa parte sem nenhuma violência. Às vezes pensam que estamos com muita calma, mas avançamos, porque o desatino de uns não justifica a inércia de outros. É preciso continuar – disse o presidente.
Na maior parte de seu discurso, porém, Fernando Henrique evitou ataques fortes ao MST. O presidente preferiu ouvir os conselheiros do Palácio do Planalto, que lhe informaram que a população era solidária aos sem-terra. Os conselheiros sugeriram ainda que os ataques ficassem para parlamentares tucanos, ministros e governadores aliados. O governador Dante de Oliveira (PSDB), por exemplo, que deixa o governo na próxima semana para disputar uma cadeira no Senado, cumpriu à risca o roteiro. Inflamado, mandou um recado aos sem-terra:
– Não podemos confundir liberdade com libertinagem, bagunça ou anarquia.
Dante defendeu a ação da Polícia Federal e criticou os ouvidores do Ministério da Reforma Agrária que tentaram negociar uma saída para os sem-terra que invadiram a Fazenda Córrego da Ponte.
– Não faço acordo com quem invade minha casa – afirmou ele.
O presidente também mandou um recado ao Congresso: não quer os parlamentares perdendo tempo com CPIs que considera desnecessárias. E citou a CPI do Sivam:
– Esta manhã discuti o projeto Sivam. Isso me custou muito no início do governo. Foi essa e várias outras CPIs. Para quê, não sei.