¥Espero concluir o projeto de reestruturação geral das telecomunicações iniciado pelo ministro Sérgio Motta. A reforma das telecomunicações está praticamente concluída, com o sucesso total da privatização, a implantação da Anatel e o início da competição. Não mudamos o modelo e vamos prosseguir. Quanto aos Correios, transita pelo Congresso o projeto de Lei Postal e reestruturação dessa área. E na radiodifusão, precisamos de uma nova lei para que esse setor também avance. Tenho conversado com freqüência com o presidente da Anatel, Renato Guerreiro, e com o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, sobre essa matéria. Não tenho dúvida de que podemos completar a reestruturação geral das comunicações, já que ainda temos um ano pela frente.¥
Essa é a visão do presidente Fernando Henrique Cardoso, ao falar sobre o impacto das comunicações e da tecnologia na sociedade, em entrevista exclusiva ao Estado.
Para o presidente, em matéria de infra-estrutura de telecomunicações, o Brasil é um novo país. ¥Meu governo funciona como uma espécie de ponte entre os séculos 20 e 21. Essa ponte é constituída, principalmente, pela tecnologia da informação. ¥
Estado – O sr. diz que ainda tem um ano pela frente e nesse tempo pretende complementar o projeto Sérgio Motta. No entanto, não parece ser este o projeto que está sendo tocado pelo Ministério das Comunicações. Pelo projeto Sérgio Motta, o ministério desapareceria e as concessões de televisão seriam de responsabilidade da Anatel. No entanto, o ministro Pimenta da Veiga manteve essa atribuição no ministério, que continuará a existir.
FHC – Trata-se de um processo. A matéria ainda está sendo discutida e o Congresso terá que opinar e votar. Mas a tendência é a de retirar do Executivo o arbítrio nas concessões, mantendo-as competitivas através de licitações e obedecendo as determinações técnicas da Anatel.
Estado – Que balanço faz dessa primeira etapa?
FHC – O desenvolvimento e a expansão das telecomunicações tem superado todas as minhas expectativas. Triplicamos a rede telefônica existente em 1995. A expansão do celular nesse período foi superior a 33 vezes, passando de 800 mil assinantes para mais de 27 milhões hoje.
Estado – Mas antes de sua primeira eleição, em 1994, o senhor falava apenas em flexibilizar o monopólio da Telebrás. E Sérgio Motta demorou para aceitar o caminho da privatização.
FHC – Mas acabou convencido de que esse era o melhor caminho. Minha visão desse processo de modernização vem desde a campanha de 1994, quando começamos a juntar informações sobre o que estava acontecendo no mundo e, em especial, o que precisaria ser feito aqui no Brasil. Minha sensação era a de que o Brasil tinha que dar um salto tecnológico não apenas em telecomunicações mas também na informatização. O mundo passa por uma transformação equivalente àquela por que passou com a introdução da máquina a vapor. É uma mudança de patamar, de paradigma, não apenas no modo de produção, mas no modo de relacionamento humano.
Estado – E que conseqüências trarão essas mudanças?
FHC – É curioso, mas vai levar ainda muito tempo para que todos percebam o impacto deste novo mundo que nasce dessa revolução tecnológica. Suas conseqüências apenas começam a ser sentidas agora.
Estado – E sua avaliação sobre os resultados concretos da privatização?
FHC – Foi um sucesso absoluto, embora os fracassomaníacos digam que o serviço é caro. Admitamos que sim, mas antes o serviço praticamente não existia. E, na verdade, está barateando. Veja, ontem uma pessoa amiga me dizia que, quando se mudou para São Paulo, teve que comprar um telefone por US$ 5 mil. Veja o quanto mudou. Esse mesmo amigo me disse que seu telefone celular da BCP teve um problema. Ligou para a companhia e ouviu a informação de que iriam trocar o aparelho. Perguntou quanto custaria e lhe disseram que não custaria nada. Hoje o acesso ao telefone é muito mais amplo e mais fácil, com uma rede que passou de 19,3 milhões de linhas fixas em 1994 para 47 milhões, hoje. O grande impacto virá da convergência tecnológica entre comunicações, informática, redes, banda larga, fibras ópticas, multimídia e tudo o mais.