O renomado ex-físico e não tão renomado ex-vice presidente da Companhia Paulista de Força e Luz Rogério Cezar de Cerqueira Leite é um conhecido detrator da política nacional de medicamentos genéricos, todos sabem.
Ele fala mal desse gênero de fármacos desde a aprovação da lei nº 9.787, que criou o segmento de medicamentos genéricos, em fevereiro de 1999. Posicionou-se inexplicavelmente contra a criação de medicamentos muito mais baratos para a população, o que sugere uma enorme simpatia objetiva pelas grandes multinacionais produtoras de medicamentos de referência -aqueles que, nas farmácias, ostentam em suas embalagens títulos estranhos, exóticos e esnobes e que carregam em seus preços a dificuldade de acesso a um público que cada vez mais se aproxima dos genéricos nas drogarias do país inteiro.
É de fato estranho que um intelectual como Cerqueira Leite assuma tal posição em relação ao esforço do governo em oferecer ao povo medicamentos mais baratos. Mais estranho ainda que acredite ingenuamente nas fontes que lhe repassaram dados tão equivocados sobre a pirâmide de números que sustentam a política e as ações dos medicamentos genéricos.
Por exemplo, em artigo publicado nesta Folha no último dia 10, ao se referir aos números dos primeiros passos dos genéricos, Cerqueira Leite afirma que havia ¥70 fármacos na praça no final do ano passado¥. Não sabemos de onde ele tirou esse número. Se tivesse se dado ao trabalho de consultar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que, em sua página na internet divulga todos os números relacionados a genéricos, teria tomado conhecimento da real quantidade de registros, princípios ativos e apresentações. Os números em dezembro de 2001 são: 304 genéricos em comercialização, produzidos por 29 indústrias em 550 apresentações, que correspondem a 122 princípios ativos.
Em seu artigo, o físico usa expressões grosseiras, típicas de quem não tem argumentos para contestar a política dos genéricos, apenas preconceitos. Os números, porém, não mentem, muito menos aquele público de pacientes de baixa renda e da classe média que visitam as farmácias em busca de medicamentos com preços mais acessíveis para vários tipos de doenças, desde o grupo das cardiopatias, às infecções, diabetes, cânceres e Aids, entre outras.
Em sua ânsia de tentar deturpar a realidade dos genéricos, o ex-professor da Unicamp ignora, por exemplo, que em alguns casos, os genéricos já são mais vendidos do que os medicamentos de referência. Um bom exemplo é a amoxicilina, cujas vendas superam de longe (52%) o número de unidades comercializadas pelo respectivo produto de referência, o Amoxil (13%).
Temos ainda os casos do cloridrato de ranitidina, o omeprazol ou o captopril, que deixaram para trás os medicamentos de marca dos quais são cópias fiéis, com o mesmo grau de eficiência, contudo bem mais baratos
Outro dado que o ex-físico ignora é que, se é verdade que as multinacionais dominam 85% do comércio de fármacos no Brasil, por outro lado as indústrias nacionais de genéricos detêm 85% do mercado de medicamentos genéricos e foram o destaque, em termos de resultados, no setor farmacêutico brasileiro em 2001 devido à aposta nesse segmento de mercado. E a tendência é que esse mercado cresça ainda mais com a abertura de novas plantas industriais de empresas de capital nacional e estrangeiro e com a ampliação de parques industriais de grupos já fixados no país.
Os resultados da política de genéricos também passam pela questão social, com a geração de empregos por indústrias nacionais que ampliaram sua capacidade de produção devido ao aumento no seu volume de vendas após a implantação da política nacional de medicamentos genéricos, como os casos dos laboratórios Medley, EMS, Biosintética e Eurofarma, os maiores produtores de genéricos do país. Eles investiram, de 2000 a 2001, em torno de R$ 400 milhões em ampliação e modernização de suas plantas fabris, gerando mais de 3.000 novos empregos.
A verdade é que, se fôssemos responder a todas as confusões que o dr. Cerqueira Leite produziu em seu texto, não caberia no espaço normal de uma coluna de jornal. Mas não podemos deixar de lembrar ao sr. Cerqueira Leite que a política de redução de preços do coquetel anti-Aids que ele tenta ridicularizar é uma das ações do ministro José Serra mais comprovadas, elogiadas e reconhecidas internacionalmente, tanto pela imprensa quanto por organismos internacionais vinculados à questão da saúde pública.