Parlamentares do PSDB avaliam que faltou autocrítica e sobraram velhas promessas na pífia reação do governo federal aos protestos que levaram mais de 2 milhões de pessoas às ruas neste 15 de março. Após assistir a maior manifestação popular desde as Diretas Já com duras críticas ao seu governo e clamor por combate severo à corrupção, a presidente Dilma perdeu a oportunidade de dar uma imediata satisfação à sociedade, fazer um mea-culpa e apresentar soluções reais aos problemas causados aos brasileiros por sua própria gestão. Preferiu acionar ministros, que deram declarações fora de sintonia com os anseios das ruas.
Na opinião do deputado Betinho Gomes (PE), o governo está “completamente desorientado” e tentou apresentar um mesmo receituário para uma crise que só cresceu. “É mais do mesmo”, criticou. “Esta é a hora de a presidente falar como estadista, apontar rumos. Mas o governo não consegue dar uma solução concreta aos problemas que eles mesmos criaram. Naturalmente o descrédito e desconfiança só aumentam”, avaliou nesta segunda-feira (16), ao prever que as manifestações populares devem continuar.
Ao contestar as afirmações de que os protestos teriam sido realizados apenas por eleitores que não votaram em Dilma, o parlamentar ressaltou: “O que tivemos foram cidadãos brasileiros cobrando respostas para os problemas do país. Com certeza entre estes estava muita gente arrependida por ter votado nela”.
líder do partido na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), disse que o discurso do governo é “alienado, arrogante e afronta a sociedade”. Repetindo a mesma cantilena ditada por Dilma em 2013, após os protestos de junho daquele ano, José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) anunciaram medidas “anticorrupção” e falaram em reforma política. Enquanto os dois concediam entrevista coletiva, um novo panelaço ocorria em várias cidades. Nesta segunda-feira, após reunião de Dilma com nove ministros e seu vice, Michel Temer, foi a vez de Eduardo Braga, titular de Minas e Energia, ir a público. Segundo ele, o governo não mediu esforços para impedir “que esse momento difícil chegasse”.
Para o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), as falas dos ministros na noite de domingo foram “patéticas”. Os ministros, segundo ele, foram à TV falar como “se estivesse em outro planeta”. Na avaliação do tucano, o governo deve se desculpar após tomar medidas que vão de encontro ao prometido na campanha.
O deputado Caio Narcio (MG) avaliou a reação do governo como uma demonstração de que o governo petista “sempre finge que o problema não é com eles”. Em sua avaliação, a população não vai se conformar com a mesma ladainha de sempre, expressada pelos ministros na noite de domingo. “A população está vacinada com esse tipo de enganação. É só o povo ir à rua que eles dizem que vão mudar tudo. Não tem chance de a população acreditar de novo neste governo, que perdeu a confiança das pessoas”, analisou
Presidente acuada – Para o deputado Antonio Imbassahy (BA), a presidente Dilma conseguiu aumentar ainda mais a indignação dos brasileiros ao escalar ministros para falar à imprensa em seu nome. “Eles trouxeram a público um discurso alienado e arrogante, que a população não aguenta mais, enquanto a presidente Dilma, acuada pelos protestos, se encolheu e escondeu”, disse Imbassahy.
O líder da Oposição na Câmara, Bruno Araújo (PE), também questionou o silêncio de Dilma. “Cadê a presidente? Como milhões de brasileiros vão às ruas e quem aparece para respondê-los são auxiliares. Não se acovarde, Dilma”, cobrou.
O deputado João Gualberto (BA), por sua vez, ressaltou as semelhanças da reação governista aos atuais protestos com aqueles acontecidos em 2013. “Assim como na primeira vez, é apenas uma estratégia equivocada para ganhar tempo, reduzir a pressão; simular uma conexão com o desejo popular. É uma clara demonstração de que ela não entendeu, ou finge não entender, os apelos da população. Um pacote anticorrupção não será o instrumento da mudança reverberada pelas vozes da rua”, alertou.
O deputado João Campos (GO) lembrou que o PT está há 12 anos no poder e só agora anuncia medidas contra a corrupção. “Estranho, não? Lula e Dilma nunca quiseram reforma politica. No ano passado o PT obstruiu a votação da reforma politica por nove meses na CCJ da Câmara. O governo da Dilma perdeu toda a credibilidade, o povo não quer e não aguenta ouvir nem ela, nem seus ministros”, avaliou.
* Do PSDB na Câmara