PSDB – PE

Jornal OTucano 25

JORNAL O TUCANO

Informativo

da Executiva Nacional do Psdb

RELÓGIO ADIANTADO

A tentativa de abrir a sucessão presidencial

com três anos de vantagem pode vir a ser uma desvantagem. Em tese porque a prática está

indicando que é possível interessar o cidadão pelo processo político, sem prejudicar a

ação de governo no presente. Não há, porém, candidatura capaz de durar tanto tempo

exposta ao tempo. É a questão.

Nos últimos 12 meses, o meio político ficou meio

alvoroçado e favorável ao exercício de especulações. À medida que pesquisas de

opinião traziam à tona insatisfações sociais, os interesses oposicionistas se

materializaram em discutir o futuro. E sucessão presidencial é futuro puro. Era

inevitável a personalização de hipóteses. Não há limitação a que qualquer

cidadão, brasileiro nato, alimente a aspiração de ser candidato, só quem não pode ser

candidato é o presidente Fernando Henrique, pela circunstância de que a Constituição

só admite uma reeleição.

Políticos são seres atentos às oportunidades. Se

perde uma vez, não recupera a chance. Notoriedade é fonte de votos, se for bem

trabalhada. O fato é que, quando a democracia se consolida, torna-se mais difícil

atravessar a barreira invisível que separa candidatos naturais (de partidos) e candidatos

oferecidos por conta própria. Os pretendentes se antecipam por conta própria, criam

fatos aparentes. O processo político é seletivo e antropofágico. Como depois da crise

cambial veio a tensão das CPIs, a situação política adiantou o relógio e facilitou o

aparecimento de nomes que criaram um fato aparentemente consumado, com vista ao futuro. E,

uma vez começado o jogo, só poderiam recuar depois de passada a onda. As pretensões

políticas tornaram-se candidaturas prováveis, ou pelo menos, verossímeis.

Pertence ao passado a eleição de figuras do

rádio, característica da volta do Brasil ao caminho eleitoral depois da Segunda Guerra.

Logo, porém, ficou demonstrado que a popularidade radiofônica (não havia a televisão)

e esportiva elegia, mas só excepcionalmente reelegia. A fama advinda das qualidades

artísticas e esportivas não foi suficiente para moldar personalidades políticas. A

política é que abastece as eleições com ofertas de candidatos.

A televisão, nos anos 60, repetiu a experiência,

mas com menor sucesso. Até hoje nada confirma potencial político da televisão para

eleger um candidato a presidente ou a governador. Uma candidatura, seja a presidente, a

governador, ou a prefeito, depende do imponderável que os livros de ciência política

não ensinam. Os políticos com faro eleitoral confiam mais na intuição do que no

conhecimento técnico ou na popularidade sem compromisso.

Nem mesmo a História, que os antigos chamavam de

mestre da vida, ensina tudo: fica faltando a percepção das circunstâncias, atributo

político pessoal, que os grandes campeões de votos têm. São eminentemente subjetivas

(dizem respeito a cada um) as indicações para um candidato se antecipar sem cair em

ridículo e fazer papel secundário. Uma coisa é um candidato perceber a sua hora e outra

é se deixar envolver numa onda de especulação que tem mais a ver com a maré política.

E política é sempre maré.

Quanto ao que está passando, e que se vê como

distração, mostra que é cedo para discutir candidaturas, mas nada impede o livre jogo

de preferências. Os cidadãos manifestam-se em pesquisas políticas e a política

preenche necessidades. Quando nada, pode-se considerar o interesse dos eleitores e dos

políticos pela sucessão como decorrência natural a partir da evidência de que o

presidente Fernando Henrique não pode pensar em ser candidato. Reeleição é só uma.

Natural que os partidos apurem suas possibilidades e avaliem com freqüência a opinião

pública.

Para o PSDB, qualquer discussão sobre sucessão,

neste momento, é inadequada, inoportuna e, o mais importante, desgastante para o pretenso

candidato. Naturalmente, os nossos quadros apresentam nomes dos mais significativos que

podem vir a ser o candidato, mas três anos em política é tempo suficiente para mudar

todo o quadro nacional tanto em termos políticos como econômicos, o que significa que um

bom candidato hoje poderia não ser na época adequada do lançamento de uma candidatura

oficial. Portanto, tudo na vida tem sua hora certa, e a política não foge a essa regra.

Publicado no Jornal do Brasil do dia 10/01/2000.

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