JORNAL O TUCANO
Informativo
da Executiva Nacional do Psdb
RELÓGIO ADIANTADO
A tentativa de abrir a sucessão presidencial
com três anos de vantagem pode vir a ser uma desvantagem. Em tese porque a prática está
indicando que é possível interessar o cidadão pelo processo político, sem prejudicar a
ação de governo no presente. Não há, porém, candidatura capaz de durar tanto tempo
exposta ao tempo. É a questão.
Nos últimos 12 meses, o meio político ficou meio
alvoroçado e favorável ao exercício de especulações. À medida que pesquisas de
opinião traziam à tona insatisfações sociais, os interesses oposicionistas se
materializaram em discutir o futuro. E sucessão presidencial é futuro puro. Era
inevitável a personalização de hipóteses. Não há limitação a que qualquer
cidadão, brasileiro nato, alimente a aspiração de ser candidato, só quem não pode ser
candidato é o presidente Fernando Henrique, pela circunstância de que a Constituição
só admite uma reeleição.
Políticos são seres atentos às oportunidades. Se
perde uma vez, não recupera a chance. Notoriedade é fonte de votos, se for bem
trabalhada. O fato é que, quando a democracia se consolida, torna-se mais difícil
atravessar a barreira invisível que separa candidatos naturais (de partidos) e candidatos
oferecidos por conta própria. Os pretendentes se antecipam por conta própria, criam
fatos aparentes. O processo político é seletivo e antropofágico. Como depois da crise
cambial veio a tensão das CPIs, a situação política adiantou o relógio e facilitou o
aparecimento de nomes que criaram um fato aparentemente consumado, com vista ao futuro. E,
uma vez começado o jogo, só poderiam recuar depois de passada a onda. As pretensões
políticas tornaram-se candidaturas prováveis, ou pelo menos, verossímeis.
Pertence ao passado a eleição de figuras do
rádio, característica da volta do Brasil ao caminho eleitoral depois da Segunda Guerra.
Logo, porém, ficou demonstrado que a popularidade radiofônica (não havia a televisão)
e esportiva elegia, mas só excepcionalmente reelegia. A fama advinda das qualidades
artísticas e esportivas não foi suficiente para moldar personalidades políticas. A
política é que abastece as eleições com ofertas de candidatos.
A televisão, nos anos 60, repetiu a experiência,
mas com menor sucesso. Até hoje nada confirma potencial político da televisão para
eleger um candidato a presidente ou a governador. Uma candidatura, seja a presidente, a
governador, ou a prefeito, depende do imponderável que os livros de ciência política
não ensinam. Os políticos com faro eleitoral confiam mais na intuição do que no
conhecimento técnico ou na popularidade sem compromisso.
Nem mesmo a História, que os antigos chamavam de
mestre da vida, ensina tudo: fica faltando a percepção das circunstâncias, atributo
político pessoal, que os grandes campeões de votos têm. São eminentemente subjetivas
(dizem respeito a cada um) as indicações para um candidato se antecipar sem cair em
ridículo e fazer papel secundário. Uma coisa é um candidato perceber a sua hora e outra
é se deixar envolver numa onda de especulação que tem mais a ver com a maré política.
E política é sempre maré.
Quanto ao que está passando, e que se vê como
distração, mostra que é cedo para discutir candidaturas, mas nada impede o livre jogo
de preferências. Os cidadãos manifestam-se em pesquisas políticas e a política
preenche necessidades. Quando nada, pode-se considerar o interesse dos eleitores e dos
políticos pela sucessão como decorrência natural a partir da evidência de que o
presidente Fernando Henrique não pode pensar em ser candidato. Reeleição é só uma.
Natural que os partidos apurem suas possibilidades e avaliem com freqüência a opinião
pública.
Para o PSDB, qualquer discussão sobre sucessão,
neste momento, é inadequada, inoportuna e, o mais importante, desgastante para o pretenso
candidato. Naturalmente, os nossos quadros apresentam nomes dos mais significativos que
podem vir a ser o candidato, mas três anos em política é tempo suficiente para mudar
todo o quadro nacional tanto em termos políticos como econômicos, o que significa que um
bom candidato hoje poderia não ser na época adequada do lançamento de uma candidatura
oficial. Portanto, tudo na vida tem sua hora certa, e a política não foge a essa regra.
Publicado no Jornal do Brasil do dia 10/01/2000.