Brasília (DF) – A construtora Odebrecht comprou, em junho de 2010, um prédio de três andares na Vila Clementino, na zona Sul de São Paulo, onde planejava instalar a sede do futuro Instituto Lula. De acordo com a força-tarefa da Operação Lava Jato, a aquisição foi feita em nome da DAG Construtora, de Salvador, que pertence a Demerval Gusmão, amigo e parceiro de negócios de Marcelo Odebrecht, dono da empreiteira. Em 2013, a DAG, também a pedido da Odebrecht, pagou o jatinho que levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Cuba, República Dominicana e Estados Unidos.
Segundo o jornal O Globo desta terça-feira (12), as investigações revelam que a família do ex-presidente sabia dos planos de usar o prédio para o Instituto. No início deste ano, a Polícia Federal (PF) localizou e apreendeu uma pasta endereçada à Marisa Letícia, mulher do petista, que continha um projeto de reforma do imóvel, incluindo auditório, sala para exposição e até apartamento com cinco suítes na cobertura.
Para o deputado federal Nilson Pinto (PSDB-PA), a descoberta da Lava Jato é mais uma comprovação da relação “espúria” que se estabeleceu entre Lula e uma das maiores empreiteiras do país. “É trafico de influência, é crime. Não há palavras mais amenas para descrever o que se passou. Se a lei é igual para todos, como deve ser neste país, então este crime tem que ser condenado”, afirmou.
Os documentos apreendidos em março, na 24ª fase da Lava Jato, voltaram a ser analisados pela força-tarefa no fim de junho, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) devolveu a Curitiba os inquéritos que investigam supostas vantagens indevidas dadas ao ex-presidente. O conteúdo da pasta e as negociações para compra do prédio são descritas num relatório de análise da PF, obtido pela reportagem.
O Globo cita ainda que, embora o prédio tenha sido efetivamente comprado pela DAG, o Instituto Lula não ganhou a sede e acabou sendo instalado no prédio do antigo Instituto Cidadania, no Ipiranga, onde permanece até hoje. Os responsáveis pela compra teriam desistido do projeto original de uso depois de descobrir que o imóvel estava envolvido em pendências judiciais dos antigos proprietários.
Além da pasta com o projeto de reforma, a PF apreendeu na residência de Lula, em São Bernardo do Campo, e-mails impressos que indicam que a negociação do prédio, de 5.268 m² de área construída, chegou a ser feita por Roberto Teixeira, amigo e advogado do ex-presidente.