Depois de desincumbir-se junto ao STF da missão confiada pelos colegas da Câmara, o deputado Aécio Neves marcou a diferença entre companheirismo e responsabilidade de presidir a instituição: mandou cortar a diária dos faltantes às sessões. No dia seguinte a presença na Câmara foi robustecida por um número mais que suficiente para deliberar.
Desnecessário louvar a firmeza do presidente Aécio Neves, que tempera o comando da Casa com severidade impessoal e companheirismo jovial. Não deixa de ser igual a todos os eleitos quando a prerrogativa de presidente da Câmara o obriga a aplicar, com mão firme, medidas de respeito aos cidadãos. A representação política é propensa a alternar fases responsáveis com intervalos de desrespeito pelos representados. Há, em conseqüência, um hiato entre a representação política e a sociedade, entre eleitos e eleitores, com sensível prejuízo para a credibilidade da instituição parlamentar.
A agenda do Legislativo está acumulada por insuficiente vontade de trabalho. Deputados e senadores são eleitos para trabalhar e não para fazer presença social em solenidades públicas. A semana parlamentar vem encurtando desde a mudança da capital – e portanto do Congresso – para Brasília. A supressão da sexta-feira, seguida da insuficiência de quórum para os trabalhos na segunda-feira, criou a necessidade de maior rendimento na semana parlamentar. Mas não foi o que aconteceu. Com a ociosidade política durante o ciclo militar, quando o Congresso não tinha poderes legislativos, a semana se reduziu às sessões de quarta e quinta-feiras. Depois, reduziu-se à quarta-feira. Ultimamente, nem isso. É desrespeito.
A opinião pública não entende que a Medida Provisória, criada pela Constituinte para ganhar tempo, tenha se tornado fonte de descrédito e de mais desgaste para o Legislativo, que deixou acumularem-se e se reeditarem medidas apenas nominalmente provisórias. A recente modificação na sistemática também não frutificou: as MPs se acumulam como sinal de desinteresse. O presidente Aécio Neves fez bem em agir com mão forte. O país tem pressa e o ano apenas começou. Ano de eleição não é ano de folga parlamentar.