Brasília (DF) – Deflagrada pela Polícia Federal em março de 2014, a operação Lava Jato expôs para o mundo o elaborado esquema de corrupção que dilapidou a Petrobras durante os 13 anos de gestão petista. Só que, muito antes de o escândalo estar sob os holofotes e o escrutínio público, o PSDB já alertava para os perigos e as consequências nefastas que os desmandos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff trariam para o desenvolvimento da mais importante empresa do país.
Em 2006, ainda no governo Lula, o PSDB já apontava o uso eleitoreiro da estatal por parte do PT. Na época, o então presidente petista anunciava aos quatro ventos que a empresa havia alcançado a tão sonhada autossuficiência em petróleo. O mito foi desmentido alguns anos depois pela própria estatal, que em 2013 reconheceu ainda não ser autossuficiente em combustíveis. Mas a propaganda já estava feita, e o falso anúncio acabou sendo um dos carros-chefes da campanha de Lula à reeleição.
Já em 2007, sete anos antes de eclodir a operação Lava Jato, tucanos condenavam o aparelhamento político da Petrobras. Em agosto daquele ano, a gestão petista promoveu uma mudança no comando da empresa e da subsidiária BR Distribuidora com o objetivo de acomodar os aliados políticos de Lula. “Isso é um desastre e representa um risco enorme para os interesses nacionais e dos acionistas do setor petrolífero”, afirmou à época o então deputado federal Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES). O alerta, no entanto, foi sumariamente ignorado.
No mesmo ano, Bruno Araújo (PSDB-PE), que era deputado federal e hoje é ministro das Cidades, defendeu que a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara aprofundasse investigações do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o desvio de US$ 170 milhões em contratos para a construção das plataformas P-52 e P-54 da Petrobras, na Bacia de Campos (RJ). Para o tucano, a suspeita de irregularidades aliada à existência de uma quadrilha especializada em fraudar licitações da estatal, descoberta pela Operação Águas Profundas, da Polícia Federal, manchavam a imagem da empresa.
“Quando a Petrobras fica exposta com a Operação Águas Profundas, da Polícia Federal, e com a investigação do TCU, acende-se uma luz amarela para fiscalização“, disse Araújo em 2007.
Desvio de dinheiro
Alguns anos depois, em 2012, a Petrobras voltou às capas dos jornais por outro motivo: desvio de dinheiro para campanhas eleitorais do PT. Conforme denunciou reportagem da revista Época, a Controladoria-Geral da União (CGU) encontrou indícios de que um convênio da estatal com a ONG Pangea servia para abastecer o caixa dois da campanha petista na Bahia, estado do ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli. Segundo a CGU, entre junho de 2004 e dezembro de 2006, a ONG sediada em Salvador recebeu R$ 7,7 milhões da Petrobras para dar assistência a catadores de lixo em dez municípios baianos. O destino de mais de R$ 2,2 milhões não foi comprovado pela associação. Ainda assim, mesmo com os indícios de desvio, a estatal aprovou outros dois patrocínios para a Pangea em 2010: um de R$ 2 milhões e outro de R$ 1,4 milhão.
“Mais uma vez o PT se utiliza do governo para fins eleitorais”, reprovou à época Bruno Araújo, então líder do PSDB na Câmara. “Para os petistas, tudo serve apenas para atender aos seus anseios. Quando o governo Fernando Henrique quebrou o monopólio da Petrobras para fazer dela a grande empresa que é hoje, não imaginava o que o PT faria”, ressaltou o tucano.
PSDB cumpriu o seu papel
Enquanto oposição ao governo petista, o PSDB cumpriu o seu papel ao apontar os erros das gestões Lula e Dilma, debatendo possíveis soluções com a sociedade. Foi o que aconteceu em 2013, quando o partido, ao lado do Instituto Teotonio Vilela (ITV), promoveu o seminário “Recuperar a Petrobras é o nosso desafio”. Na época, a situação da Petrobras beirava a calamidade. A estatal havia sofrido uma desvalorização de R$ 53,9 bilhões, de acordo com a consultoria Economatica, uma queda de 47,1% em seu valor de mercado, e caíra para o segundo lugar no ranking das empresas mais valiosas do Brasil.
No seminário, diversas lideranças do partido e técnicos do setor petrolífero se reuniram para discutir os problemas e propor mudanças. Mas as sugestões foram, mais uma vez, ignoradas, tanto pelo governo do PT quanto pela presidência da empresa, comandada por Graça Foster.
“A oposição sempre alertou”, destacou Luiz Paulo Vellozo Lucas. “Não obstante, o governo do PT seguiu persistindo no discurso de um nacionalismo totalmente superado, baseado em mitos. Como se o PSDB quisesse privatizar o petróleo, quisesse privatizar a Petrobras, defendesse os interesses das empresas privadas. As mentiras e oportunismo político do PT prejudicaram o Brasil e prejudicaram a Petrobras”, constatou o tucano, também ex-prefeito de Vitória.
Consequências que perduram
As consequências dos repetidos alertas feitos pelo PSDB quanto aos rumos da Petrobras estão às vistas de todos, na forma do maior escândalo de corrupção da história brasileira: o ‘Petrolão’, que agora revela ramificações em diversos países da América Latina. Vieram à tona diversas negociatas nebulosas da empresa, como a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que levou a um prejuízo milionário, e o superfaturamento de obras como a da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. A cúpula petista também foi implicada em peso no escândalo.
“Os brasileiros estão envergonhados, indignados com aquilo que vem acontecendo com a nossa mais importante empresa pública, submetida à sanha de um grupo político que, para se manter no poder, permitiu que um vale-tudo fosse feito [na Petrobras]”, ressaltou o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, em 2014, quando a Operação Lava Jato foi deflagrada.
“O conjunto da obra deixa as pessoas indignadas com o que estão vendo no Brasil. Esse é o sentimento crescente: indignação com o pouco cuidado, apreço e respeito ao dinheiro público. Esse governismo de cooptação, muito mais do que de coalização que tomou conta do país hoje, é uma das principais razões para as denúncias sucessivas de desvios e irregularidades que nós assistimos no Brasil”, avaliou, na ocasião, Aécio.
Hoje, sob a gestão do presidente Pedro Parente, a empresa luta para se reerguer. O caminho para recuperar a confiança do mercado ainda é longo, mas já começou a ser trilhado com a ajuda do PSDB, que encampou uma proposta do atual ministro das Relações Exteriores, senador licenciado José Serra (SP), que muda as regras de exploração do petróleo do pré-sal.
Aprovada, a legislação prevê o fim da obrigação de que a Petrobras seja a única operadora do pré-sal, acabando também com a necessidade de a estatal ter participação compulsória de, no mínimo, 30% nos consórcios de exploração.