Um levantamento realizado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) com base nas notas obtidas pelos estudantes aprovados nas universidades brasileiras por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014 revela o preocupante nível de qualidade na educação dos futuros professores do país.
Segundo o estudo, 19,1% dos candidatos que realizaram o exame naquele ano e foram aprovados para uma graduação em pedagogia tiraram notas de até 450 pontos, o mínimo exigido para os candidatos receberem um certificado de conclusão do ensino médio via Enem. As informações são de matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo nesta segunda-feira (28).
Ouvido pela reportagem da Folha, José Francisco Soares, ex-presidente do Inep, avalia a pontuação como “muito baixa”. Segundo ele, a nota de 450 pontos equivale ao acerto de seis a oito questões por prova, em um total de 45 itens. “É preocupante que futuros professores terminem a escola com formação tão frágil”, disse Soares.
O resultado ruim apresentado por quase um quinto dos aprovados nos cursos de pedagogia do país também foi lamentado pelo deputado federal Nilson Pinto (PSDB-PA), na foto ao lado. Professor e ex-reitor da Universidade Federal do Pará, o tucano acredita que a educação brasileira ficou estagnada nos últimos anos por conta de políticas equivocadas desenvolvidas para o setor pelos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Para o parlamentar, apesar do slogan “pátria educadora”, o que se viu no país durante as gestões do PT foi um “descontrole total” da educação
“Os resultados das avaliações do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], feitas a cada dois anos em todo o Brasil, já estavam demonstrando há bastante tempo que nos últimos 10, 12 anos, o Brasil não evoluiu absolutamente nada no que concerne à qualidade do ensino médio. Nós patinamos, nós ficamos estagnados, enquanto outros países avançaram”, criticou Pinto. “A educação brasileira é, bem nitidamente, a cara do PT no governo nesses 13 anos. Esse resultado do Enem confirma apenas aquilo que nós já vínhamos dizendo há bastante tempo”, acrescentou.
Na visão de Nilson Pinto, o PT não conseguiu dar continuidade aos avanços na educação brasileira iniciados durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
“O Brasil teve, no governo do Fernando Henrique Cardoso, no governo do PSDB, um grande salto na educação básica no que concerne aos números, ao quantitativo, ou seja, foi um momento de inclusão. Se universalizou o ensino fundamental, que chegou praticamente a todos os lares, se avançou muito no ensino médio. Houve um avanço significativo, mensurável, facílimo de ser percebido. A tarefa que competiria ao governo petista em seguida seria a de cuidar de avançar com a qualidade, e o resultado foi um descalabro completo”, avaliou.
Desvalorização dos professores
A matéria da Folha destaca ainda que, de acordo com especialistas, existem dois fatores que explicam as notas de corte baixas para os cursos de pedagogia no Brasil: a baixa concorrência para o curso nas universidades e falta de atratividade da carreira, gerada especialmente pelos baixos salários pagos a categoria no país, e também condições ruins de trabalho e o desprestígio da profissão atualmente.
Nilson Pinto vê o baixo interesse pela profissão como um resultado de um tratamento equivocado dado a ela nos governos do PT. De acordo com o tucano, a categoria passou por um processo de “sindicalização” nos últimos anos. Para o parlamentar, a educação passou a ser “mais um item na pauta do sindicato” com as administrações de Lula e Dilma, o que deixou o setor “a mercê” do partido.
“A educação foi cooptada pela mediocridade petista. Não houve a valorização do nosso professor, não houve o respeito e a valorização ao mérito. Optou-se, na política petista para a educação, por uma igualdade medíocre, que nos colocou a todos no patamar em que estamos, e que é bem demonstrado por essa pesquisa. Não é por acaso que esse resultado aconteceu. Isto é resultado de política de governo”, lamentou.