Brasília (DF) – A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a nove anos e seis meses de prisão pelo juiz federal Sergio Moro, por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP), continua a repercutir dentro e fora do país. Nesta quarta-feira (12), o presidente da Transparência Internacional, José Ugaz, avaliou que a sentença proferida por Moro “é um sinal significativo de que o estado de direito está trabalhando no Brasil”.
José Ugaz afirmou que “não há impunidade, mesmo para os poderosos”, e destacou que “não é surpreendente” o fato de que “juízes e investigadores estejam sendo atacados de todos os lados”. O presidente da Transparência Internacional também cobrou que os parlamentares brasileiros e o Supremo Tribunal Federal (STF) ajam com imparcialidade nas apurações da Operação Lava Jato.
“A Transparência Internacional exige garantias de que as investigações possam prosseguir e que todos os processos judiciais permaneçam independentes e livres de interferências de qualquer partido político”, disse.
Mas a percepção de que o barco do Partido dos Trabalhadores está afundando não se restringe à oposição ou a observadores internacionais. Um dos fundadores do partido e ex-secretário-geral da legenda entre 1984 e 1988, o cientista político Francisco Weffort constatou que, “do ponto de vista político, a condenação de Lula é o golpe mais sério sofrido pelo PT ao longo de sua história”.
Weffort, que após deixar o PT foi ministro da Cultura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2002, ponderou que a figura de Lula “era apresentada pela direção do partido como intocável”. Agora, o partido “precisa fazer uma autocrítica muito severa”.
Reportagem do jornal Folha de S. Paulo também traz a análise do professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco, Marcus Melo, que concluiu que a condenação de Lula representa a culminância de uma linha histórica de desgaste do PT que se iniciou em 2005, quando veio à tona o escândalo do mensalão. Em sua opinião, a decisão de Moro exemplifica “um avanço do Estado de Direito”, e mostra que “ninguém está acima da lei”.
‘Justiça foi feita’
O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) considerou que a Justiça finalmente foi feita, ainda que em parte. “Desde 2003 venho lutando e muito para demonstrar ao país os atos criminosos praticados pelo ex-presidente Lula. Passados quase 15 anos, ele foi condenado a nove anos e seis meses de cadeia”, apontou, em vídeo publicado em sua página no Facebook.
“O meu sentimento é de que a Justiça foi feita, mas em parte, porque estou convencido de que serão necessárias muitas outras condenações e muitos anos de prisão para que o ex-presidente Lula realmente pague por todos os males éticos e financeiros que ele causou ao país”, observou o parlamentar.
Disputa em 2018
Na contramão da Justiça está o Partido dos Trabalhadores. Em resposta à condenação de sua maior figura política, a presidente da legenda, senadora Gleisi Hoffmann (PR), se limitou a fazer ataques ao juiz Sergio Moro, dizendo ser “lamentável” que um juiz “se dê ao papel de fazer política” com o objetivo de excluir o ex-presidente da disputa eleitoral de 2018.
Quem também saiu em defesa de Lula foi a ex-presidente cassada Dilma Rousseff. Em nota, a petista afirmou que a condenação de Lula é “uma flagrante injustiça e um absurdo jurídico que envergonham o Brasil”. Também investigada na Lava Jato, Dilma reiterou que Lula é “inocente”, e responsabilizou “setores da grande imprensa” por um “roteiro pautado” para cassar os direitos políticos do ex-presidente.
Não é essa a avaliação que fazem os cientistas políticos Francisco Weffort e Marcus Melo. Para os dois, caso Lula participe da disputa eleitoral de 2018, dificilmente será eleito à Presidência da República, muito por conta de sua alta rejeição entre os brasileiros. Um exemplo é a pesquisa Datafolha realizada em junho: 46% dos entrevistados disseram que não votariam no ex-presidente petista de jeito nenhum.