No mínimo são curiosas as opiniões de dois economistas famosos que expõem suas ideias na “Folha de São Paulo”, neste último, e sugestivo, primeiro de abril: Delfim Netto e Luiz Carlos Bresser-Pereira. Diferentes são suas trajetórias mas coincidentes são os seus sentimentos em relação aos governos petistas.
Delfim Netto foi ministro em diversos governos da ditadura. Sob a presidência de Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo ele foi, em períodos diversos, Ministro da Fazenda, da Agricultura, do Planejamento e embaixador na França. Quando da edição do Ato Institucional n° 5 assinou o então decreto que levou a ditadura à sua maior radicalização. Nunca se sentiu incomodado com a violência do regime militar. Pelo contrário, gozou por ser considerado o condutor da política econômica do governo. Malufista por décadas, autor de muitas estripulias durante os seus mandatos, hoje ele é só conselheiro de Lula e de Dilma. Para esses não há qualquer restrição.
Nesse último primeiro de abril, Delfim começa seu artigo com rasgados elogios ao primeiro período petista, sob o comando de Lula, sem deixar de cutucar o governo anterior, de FHC, pela “precária inclusão social com programas de focos confusos e apenas iniciados”. Omite as dificuldades de um período pós inflação galopante e as profundas mudanças estruturais que foram executadas.
A era lulista, segundo Delfim, começou com uma desconfiança generalizada, mas caminhou para uma “profunda mudança de filosofia”, “deixando de ser a inclusão social apenas um detalhe como no governo anterior” para tornar-se o “objeto principal do governo…” e aí vêm os elogios, “governo de um operário de pouca educação formal, compensada por uma inteligência prática privilegiada e uma imensa capacidade de articulação política”.
Nenhuma referência faz Delfim ao aparelhamento do Estado e seu uso criminoso para a manutenção do poder. Nada que surpreenda, já que foi um dos sustentáculos de uma ditadura que nos retirou a democracia mas deu alguns períodos de crescimento da economia.
Quanto a Dilma, Delfim diz que a presidente “demorou a reconhecer que tudo tinha mudado: as condições eram outras”. Mas segundo ele, ela assumiu corajosamente uma conversão econômica equivalente à de São Paulo na estrada de Damasco… com um programa razoável. E termina a coluna com a seguinte pérola, vinda de quem vem: “A democracia não é uma dádiva divina. É difícil, mas é o único caminho para a civilização”.
Delfim, este sim, fez uma conversão espantosa. Oportunismo explícito.
Quanto a Bresser Pereira, foi ministro da Fazenda durante o governo José Sarney e foi ministro chefe da Secretaria da Administração Federal e Reforma do Estado e Ministro da Ciência e Tecnologia durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso.
Ele diz, em seu artigo, que a explicação fundamental para a perda da popularidade da presidente Dilma “está na hegemonia ideológica do conservadorismo liberal (alguém sabe o que é isso?) que dá à crise econômica de curto prazo uma dimensão que ela não tem, que acusa a presidente de estelionato eleitoral porque ela está fazendo o que tem que fazer e que procura vinculá-la ao escândalo da Petrobras sem qualquer fundamento”. Nem os mais radicais petistas elogiariam com tal entusiasmo e com tal incapacidade de ver o que está mais que visível.
Ao criticar os movimentos de rua contra Dilma, Bresser pergunta: “É então o golpe de Estado que se quer? Para obrigar Dilma trair seus princípios e se submeter à politica liberal e dependente que a oposição defende?” Afinal que diabo é essa política liberal e dependente que a oposição defende?
Bresser então defende um grande acordo político que deve ser desenvolvimentista, “de centro, em vez de direita ou de esquerda”, e termina também com uma pérola: “porque não se deve dar preferência nem aos trabalhadores nem aos empresários”. Genial! Parece piada.
Assim Delfim, esteio da ditadura militar, vai se identificando com Bresser Pereira, homem de confiança de FHC, ou vice-versa, os dois no afã de salvar a cara de Lula, de Dilma e do PT.
Afinal tudo que estamos assistindo, não só no plano ético/moral, mas no campo econômico com profundas repercussões sociais, é responsabilidade dos governos petistas. A obrigação dos que falam e escrevem com honestidade intelectual é fazer a análise crítica desses 12 anos de descalabro e procurar soluções que afastem do governo aqueles que foram os responsáveis pelo desastre que constatamos nos dias de hoje.
Os atuais dirigentes não tem mais condições de governar. Não tem credibilidade, não são respeitados pelo povo. Precisam sair. Como fazê-lo nos limites estritos da legalidade democrática, esse é o desafio a todos os patriotas.