Brasília (DF) – Prometida pelas gestões do PT como salvação para a população nordestina que convive com a seca e a escassez de água, a transposição do Rio São Francisco, anunciada pelo governo Lula em 2005, se arrastou por mais de uma década sem que as obras fossem entregues. Além dos atrasos, as obras, que deveriam levar água para 390 cidades do semiárido brasileiro, também foram permeadas por notícias de irregularidades e superfaturamentos, obrigando a população local a conviver com problemas como o assoreamento dos rios e a degradação de lavouras e pastos.
Reportagem especial publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta terça-feira (14) revela que paisagens como as veredas, áreas alagadas de vegetação singular que deram nome à obra-prima de Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, desaparecem a cada dia. As águas têm sido represadas por produtores que, diante da seca, estendem suas áreas de cultivo até próximo das margens de cursos d’água.
“Tirou o minador de água das veredas. Acabou a fresquinha da terra, a sombrinha. Tá secando tudo, acabando tudo. Tendência da coisa é ficar mais feia”, lamentou ao jornal o mateiro Adailton da Silva Pamplona. “Não corria só isso de água. A vereda era funda. Veja. Plantou eucalipto de cá e de lá, acabou”, disse ao Estadão.
Órgãos como o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que deveriam cuidar da questão hídrica e da preservação das fontes de águas, foram afastados do debate e relegados ao esquecimento pelas gestões dos ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Para o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Buritizeiro, Messias Israel Veloso da Silva, é preciso um recadastramento urgente de propriedades que usam a água do São Francisco e de afluentes para uma distribuição racional. O problema, segundo ele, não é o plantio de eucalipto, mas sim as práticas “arcaicas” de trabalho.
“Não tenho nada contra o eucalipto, acho inclusive que é uma atividade econômica necessária e importante para a região. O que não aceitamos é o plantio de árvores nas veredas e nos espaços das matas ciliares”, afirmou.
Outro problema é a degradação de lavouras e pastagens, que sofrem com falhas na irrigação. É o que diz o engenheiro agrônomo Pierre Vilela, do Instituto Antonio Ernesto de Salvo, entidade ligada à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais. “Um estudo sobre as pastagens de Minas mostra uma realidade dramática: o rebanho no Estado caiu 50% por causa da seca e problemas no pasto. Temos cerca de 25 milhões de hectares de pasto: 75% se encontram em estado de degradação avançado”, destacou.
De acordo com o agrônomo, desde a extinção da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), os médios produtores saem bastante prejudicados pelo esvaziamento do setor, que ficou no “limbo”. “Não incorporou tecnologia e inovação. O capital se esgotou e ficou mais rentável arrendar o terreno para a soja e a cana ou vender. Até o capital natural foi perdido”, completou.
Leia AQUI a íntegra da reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.