Pernambuco – Para o presidente do PSDB de Pernambuco, Sérgio Guerra, as urnas de 2014 vão provar que o “tempo do PT já passou”. O tucano reconhece que o Brasil “tinha um encontro marcado com o Partido dos Trabalhadores” que se resolveu com a eleição de Lula presidente. Mas o fato de a legenda ter se “atrapalhado” no governo e perdido seus fundamentos históricos levaram o povo brasileiro a perder a esperança no PT.
Em entrevista à Rádio Folha de Pernambuco na manhã desta segunda-feira (16), Guerra voltou a defender a necessidade da candidatura à Presidência do governador Eduardo Campos (PSB) e a da ex-senadora Marina Silva (sem partido). Avalia que a pluralidade de candidaturas contribui para a Democracia e é a única forma de “salvar as eleições da ditadura do PT”: ‘A de que eu sou a favor e o resto contra’.
O presidente nacional do Instituto Teotônio Vilela também comentou sobre o julgamento do mensalão, ansiosamente aguardado pelo País com o voto do ministro Celso de Mello, nesta quarta-feira (18), na votação que pode garantir novo julgamento aos condenados no processo. Para Guerra, se o Supremo não punir os mensaleiros estará interferindo fortemente “na vontade do eleitor na eleição do próximo ano” porque a “esperança, que é o centro da decisão do voto, já caiu muito”. E como, na sua avaliação, o “problema central” da justiça brasileira é a impunidade, se o STF não punir, “será mais uma decepção para uma população que já está lotada de frustrações”.
Abaixo, a íntegra da entrevista:
O PT ESTÁ SEM CRÉDITO
“Quem tinha uma grande quantidade de votos no Nordeste não era o PT. O partido perdeu a maioria das eleições do Nordeste: Salvador, Fortaleza, Aracaju, levaram uma surra no Recife, não se colocaram em Maceió, em Natal não se habilitaram, saíram perdendo por aí. O que segurava o partido na região é uma lenda: o Lula. Que ainda tem uma popularidade que vem de sua história, foi acrescida pelos projetos sociais de transferência de renda, quer dizer, ele tem um crédito ainda. Mas o PT já está em descrédito com o Nordeste há muito tempo e os governos petistas mais ainda”.
CRÍTICAS DE EDUARDO A DILMA
“As críticas do Eduardo a Dilma, por ora, estão sendo bastante moderadas. Ele tem dito que é preciso ajudar o governo porque o Brasil tem de atravessar 2013, o que não será fácil. Então ele está sendo cuidadoso. O problema é que esse pessoal do PT não respira democracia. Eles gostam de concordância absoluta. Mas não podemos negar que o PT é um grande partido, tem uma grande histórias, mas já está na hora de ele sair. O PT já cumpriu o papel dele. O Brasil tinha um encontro marcado com o PT com a eleição do Lula. Agora está na hora de sair para dá vez a outras forças que queiram e tenham condições de fazer melhor”.
O POVO PERDEU A ESPERANÇA NO PT
“Esse suposto crescimento de popularidade de Dilma é falso. O fato é que o povo saiu das ruas e isso fez com que ela recuperasse algo. Mas nós temos dados objetivos de que a convicção da população sobre o governo da Dilma é de falta de esperança. O povo começa a dar sinais de que não pretende aceitar a continuidade do que está aí. Concretamente o governo e o Congresso, é preciso admitir, não fizeram nada diante do que foi pedido pelo povo nas ruas. Com isso, a esperança, que o centro da decisão do voto caiu muito. A população já não espera boas notícias da economia daqui para frente. Ao contrário, ela comprova que as notícias que chegam não boas e podem piorar”.
PSB x PT
“O PT não vai brigar explicitamente com Eduardo (Campos). É um partido que aparece como uma força viva mas eles sabem que seus fundamentos estão furados. Eles têm pesquisa na mão. E portanto não vão deixar escapar uma liderança do tamanho de Eduardo. O PT vai continuar lutando para permanecer vivo. Vivo e esperto. A Dilma pode ter ficado aborrecida em algum momento com o PSB, até porque democracia e crítica passam longe dela, mas o Lula é mais esperto. Ele sabe que tem de ter a cabeça no lugar e tranquilidade. Se ele puder acomodar as coisas ele fará isso. O que o Lula quer é que a Dilma continue no governo e ele a mandar. Que é o que acontece. ”
O DESAFIO DO PSDB
“O desafio do PSDB é encontrar o caminho do sentimento popular. Temos que mostrar que quando governamos, governamos bem. Mas, principalmente, que se chegarmos novamente ao governo vamos governar ainda melhor, representando as mudanças que a população espera. Eu tenho esperança que o partido consiga vocalizar isso e que nosso provável candidato, o senador Aécio Neves, tenha condições de representar esse sentimento do povo. Ele tem uma vida limpa, foi um excelente governador (MG) e tem boas ideias.”
ENCONTRO REGIONAL
“Vamos começar a discutir os problemas regionais. Além do encontro de Maceió (AL), sábado (21), teremos um aqui (Pernambuco), no Paraná, Manaus, Goiânia e outras capitais brasileiras. Na quarta (18), em Brasília, faremos o seminário nacional sobre mobilidade urbana. As cidades brasileiras estão em grave crise e o partido precisa discutir isso. Enfim, nós queremos discutir as questões do Brasil para que o voto seja dado em relação ao compromisso que cada candidato assumir e não apenas na personalidade ou na simpatia”.
SUCESSÃO LOCAL
“A eleição de Pernambuco tem um dado a ser esclarecido que depende da decisão de Eduardo Campos de ser ou não candidato a presidente da República. Em ele sendo é um cenário, em não sendo é outro. Nós do PSDB temos muita clareza sobre nosso caminho. Num primeiro momento, entendemos que somos um partido que vem crescendo progressivamente mas é preciso que cresça mais em representações federal e estadual sem incorporar gente que vai e volta. No segundo momento é que vamos cuidar da eleição majoritária. Não temos que nos meter nessa eleição agora porque o PTB, que está no governo estadual, não sabe se terá candidato (ao governo), o PMDB que agora está no governo fala em ter candidatura própria, o PT pode ou não apoiar o PSB, o DEM não tomou caminho. O caminho melhor para o PSDB é primeiro fortalecer nossas chapas para fazer boas bancadas e depois eleger um palanque seguro e decente para Aécio Neves. No mais, conversamos com Eduardo Campos, temos amizade com ele, a candidatura dele ajuda a Democracia, porque quanto mais candidatos, mais posições o povo terá para avaliar. E o PSB é um partido forte. Eu mesmo já fui dele por muitos anos. Então é um partido que tem direito e legitimidade para disputar a Presidência”.
MÚLTIPLAS ESCOLHAS
“Os jornais (locais) publicaram recentemente que o PSDB estava cobrando de Eduardo Campos que ele assumisse uma posição de governo ou de oposição. Não cobramos nada de Eduardo. Eu pessoalmente defendo a candidatura de Eduardo (à Presidência) para que as eleições sejam mais abertas, para que várias tendências disputem o voto do brasileiro, para que haja várias alternativas porque isso é bom para a Democracia. Só não é bom para a ditadura do PT: a ‘do eu sou a favor e o outro é contra’. Isso está errado. Por exemplo: Marina (Silva) tem de falar. Pessoalmente acho que quando isso ocorrer ela cai (nas pesquisas). A popularidade dela se sustenta muito mais no silêncio do que propriamente no que ela fala. Mas é fundamental que ela fale se tiver boas ideias para o Brasil. Não se pode deixar de fora das eleições alguém que teve 20 milhões de votos dos brasileiros. Mas tenho sinceras dúvidas se essa Rede (partido que Marina pretende criar) se viabilizará. Torço que para ela consiga porque o importante é que a gente salve as eleições para que elas não passem a impressão de que nada vai mudar e o Brasil se atrapalhe mais ainda”.
MENSALÃO, O JULGAMENTO
“Se a tese dos mensaleiros for aceita nenhum deles será punido. O julgamento ficará para o ano que vem e seguramente e aliviará a vida dos já condenados. Não é da minha natureza defender a punição de A ou B, mas o fato concreto é que nesse caso do mensalão tem de ter punição. O problema central da justiça brasileira é a impunidade. Se mais uma vez o Supremo Tribunal Federal não punir, será mais uma decepção para uma população que já está lotada de frustrações e isso vai interferir na eleição do ano que vem. Não contra o PT ou os mensaleiros, mas na vontade do eleitor. Essa eleição precisa ser surpreendente porque a sociedade tem toda razão de estar desacreditada das instituições no geral e da política em particular”
NOVAS FORÇAS NA POLÍTICA
“O povo que foi às ruas há dois meses foi decepcionado, insatisfeito e irritado. Se tudo continua do mesmo jeito, se a gente chega na eleição do ano que vem da mesma forma, com a mesma política, com os mesmos candidatos e com a impunidade no caso do mensalão, caso ela se concretize, penso que a Democracia brasileira estará em cheque e as ruas vão reservar resultados imprevisíveis. Esses que se acham donos do povo vão descobrir que não contam com ele. Por isso é importante que novas forças se apresentem na campanha e respondam às frustrações que a sociedade acumula e que que eu torço para que o Supremo não as tornem ainda maiores com a falta de punição no caso do mensalão”.
FRUSTRAÇÃO COM A VIDA PÚBLICA
“Em seu voto, o ministro Gilmar Mendes chama a atenção para o fato de que a protelação muda no núcleo o julgamento já feito . É uma manobra da pior qualidade. Espero que falem mais alto os interesses do País e a verdade e que se tenha uma solução favorável à justiça. Do contrário, o povo vai compreender, mais uma vez, que político não é punido e o Brasil virou um País do ‘salve-se quem puder’. Isso nos leva, sinceramente, a pensar dez vezes se vale a pena a vida pública. Não está valendo. É preciso mudar muito. E não vejo sinais de que está mudando coisa alguma. O Congresso vive de aprovar decisões demagógicas. Há uma grande falsidade nisso. Os discursos de que algumas medidas são em favor do povo é uma grande mentira. O fato concreto é que o problema do trânsito está aí, o supefaturamento de obras idem, o desemprego está voltando, a inflação também, há um desgoverno crescente. Uma coisa tenho convicção: Não sei quem vai ganhar a eleição para a Presidência da República, mas não será a Dilma”.
O OGU É UMA FORMA DE MENSALÃO
“Pessoalmente defendo o voto distrital pois só assim o político assume compromissos com o que prometeu e será cobrado por isso. O PSDB defenderá o voto distrital com muita determinação, porque se não mudar a natureza do voto, se não comprometê-lo com as ideias, vai continuar esse jogo de interesses e palavras que não vale nada. Mas lamentavelmente não acredito em nenhuma reforma política. A que está aí é uma tentativa de acomodação que, se não tomarmos cuidado, vai terminar sendo ruim para a Democracia. Agora, o próximo presidente do Brasil terá que ter como compromisso número um reformar a política do País. O Lula foi quem mais reuniu condições para fazer isso. Foi um presidente forte e poderia ter liderado esse processo. Mas se atrapalhou no governo, em nomeações e aparelhamento da máquina, e perdeu a credibilidade para fazê-la. O Lula preferiu o mensalão e deu no que deu. Até o orçamento da forma que está aí, com a liberação de emendas em troca de voto é uma forma de mensalão.”