G1 – Quem não gosta de notícia quase-boa? O IPCA-15 de julho foi uma delas. O resultado – alta de 0,07% –, ficou abaixo do esperado pela média dos economistas do mercado financeiro (alta de 0,10%). Tem outras coisas quase-boas no comportamento da inflação deste mês. O IPCA em 12 meses caiu para 6,4%, ante 6,7% até junho. A desaceleração do índice aconteceu em 9 das capitais pesquisadas pelo IBGE. Mais uma: o índice de difusão do IPCA chegou ao menor nível desde fevereiro de 2012 – 55,9%. Esse número mostra o quanto a inflação está espalhada na economia. No IPCA-15 do mês passado, ele estava pouco acima de 60%.
Ao voltar atrás no aumento das tarifas dos transportes, os governos municipais e estaduais acabaram ajudando mais a inflação do que quando adiaram os reajustes do começo do ano para junho. Os alimentos também esfriaram (e não é por causa do frio do inverno). No ano passado, nessa época, passamos pelo pico dos efeitos da quebra das safras de grãos no exterior, o que provocou um choque nos preços de uma boa parte da cadeia alimentar no Brasil. O tempo vai passando e a estatística vai se livrando do mau desempenho do passado. O dragão tirou só um cochilo e deve ficar calminho por pouco de tempo.
Como nem tudo são flores (já disse o poeta), não é bom comemorar muito alto o resultado do IPCA-15 de julho só porque o bichano deu uma trégua. Quem ronda os preços agora é o dólar. A alta da moeda norte-americana, mais forte nos últimos dois meses, é “fonte de pressão inflacionária” segundo análise do próprio Banco Central. Ainda não estamos nem perto de uma acomodação do dólar porque ela vai depender do que quer fazer o FED (banco central dos EUA) e de como vai caminhar a condução da economia aqui no Brasil. Do nosso BC já se espera uma nova alta dos juros em agosto, para 9% ao ano.
“Eu achava que o Copom subiria os juros em 0,25 p.p. na próxima reunião, mas mudei de idéia. Agora eu acho que ele vai subir 0,50 p.p. basicamente pelo que foi dito na ata do Copom. Lá está muito explícito que a alta do dólar vai gerar inflação no curto prazo e que será preciso usar a política monetária adequada para impedir que essa alta vire inflação por um período mais longo. Além disso, a inflação de serviços, que roda na casa dos 0,7% mostra um sintoma de pressões persistentes de um mercado de trabalho ainda aquecido”, disse ao G1 o economista Alexandre Schwartsman, da Schwartsman e Associados.
Schwartsman continua achando que o IPCA desse ano vai ficar acima de 6%. Os economistas do banco Itaú também projetam uma inflação de 6,1%, mesmo com esse resultado dos primeiros 15 dias de julho. Se o BC indicou que vai continuar subindo os juros, já esperando uma inflação perto de zero agora, é porque a notícia nem seja tão quase-boa assim.