Manoel Guimarães, do JC
Pedra no sapato durante o primeiro mandato do governador Eduardo Campos (PSB), a tucana Terezinha Nunes voltará à Assembleia Legislativa a partir de janeiro. Voz ativa das denúncias de desvio de verba pública no escândalo dos shows-fantasma da Empetur, ela promete reeditar o estilo combativo ao governo, mesmo ciente de que a postura teria lhe custado a reeleição. “Se aparecerem novas denúncias, vamos fazer. Não teremos dificuldade”, adianta nesta entrevista ao JC.
JC – Deputada, a senhora foi uma oposicionista combativa no primeiro mandato do governador Eduardo Campos. Como será sua postura agora, neste retorno à Assembleia após dois anos? Será mais light?
TEREZINHA NUNES – Fica no mesmo ponto. Canso de dizer que oposição não tem qualificação. Oposição é oposição. Apenas algumas pessoas, pelo estilo de trabalhar, ficam parecendo que são mais oposicionistas do que outras. Esse termo “light” foi criado mais pelo estilo do que pelo trabalho dos deputados. Você tem no PSDB deputados como Daniel Coelho, Betinho Gomes e eu, que vou assumir a partir de janeiro. Como somos votados majoritariamente na Região Metropolitana, temos mais liberdade para trabalhar, pois dependemos substancialmente do voto de opinião. Já aqueles que possuem base no interior têm menos possibilidades de fazer oposição, porque os prefeitos ficam temerosos de retaliação. Sendo o governador tão poderoso quanto é e demonstra ser, isso gera nos prefeitos um temor muito grande, e esses próprios gestores trabalham junto aos deputados para segurar um pouco, com receio de retaliação. É isso o que acontece.
JC – A senhora denunciou o escândalo dos shows-fantasma da Empetur, que foi a grande mácula da primeira gestão de Eduardo. Mesmo assim, ele se reelegeu e mantém alta aprovação. O que mudou desde então?
TEREZINHA – Com a minha saída, houve uma sinalização geral na Assembleia de que talvez não fosse bom fazer oposição. Falavam que perdi porque fiz oposição. Escutei muito esse tipo de comentário. Se criou um certo temor quanto a combater um governo bem avaliado, mas é necessário, faz parte da democracia. A gente tem que fazer oposição. O Estado não pode ficar sem oposição. Se nesse novo período que estarei na Assembleia aparecerem novas denúncias, vamos fazer. Não teremos dificuldade. Vamos fazer do mesmo jeito que fizemos na primeira administração. Temos consciência de que foi esse trabalho feito por nós que levou o governo a corrigir seus próprios rumos. Imagine se essa questão dos shows-fantasma não tivesse sido denunciada, e estivéssemos até agora à mercê desse grupo que organizou todo esse desvio de recursos públicos. Como estaria isso hoje? De que tamanho estaria, e de que forma macularia a imagem do governador quando fosse denunciado? Nós denunciamos na época em que isso foi feito, o governo corrigiu os rumos como pode corrigir, e as pessoas que agiram incorretamente estão sendo processadas. Então, isso estancou aquele processo de desvio de recursos públicos, favoreceu à sociedade, favoreceu à oposição e favoreceu ao próprio governo.
JC – O episódio contribuiu para a sua não reeleição?
TEREZINHA – Para mim, não foi. Eu estaria muito mal comigo hoje se tivesse recebido aquelas denúncias e não tivesse exposto na tribuna da Assembleia. Não sou de deixar de fazer o que acho que é minha obrigação. Acho que fui em parte penalizada. Não pela sociedade, mas pelas condições criadas no Estado, de temor do governador, e que levaram alguns prefeitos a não quererem votar em mim com medo de retaliação. Minhas bases foram invadidas por deputados do governos, que levaram lideranças através de promessas de apoio político. Tudo isso aconteceu, mas fiz meu papel e estou tranquila com minha consciência. Não me arrependo um milímetro do que trabalhei para mostrar a verdade à população e vou continuar fazendo isso.
JC – A ida do PMDB para a base de Eduardo gerou um rompimento entre o senador Jarbas Vasconcelos, a quem a senhora é muito ligada, e o deputado Sérgio Guerra. Como a senhora fica no meio desse fogo cruzado?
TEREZINHA – Tenho uma ligação política com Jarbas desde 1990, mas hoje estou no PSDB e meu partido tem como maior líder no Estado o deputado federal Sérgio Guerra. Não vou deixar de ser amiga de Jarbas. Continuo amiga dele, continuo conversando com ele quando é necessário, mas politicamente vou seguir o meu partido. Enquanto Jarbas estava na mesma linha que a gente no Estado, estávamos juntos. Agora que ele está apoiando o governo de Eduardo, politicamente estamos separados. Isso não impede que, dependendo do comportamento que for adotado nacionalmente por Jarbas, a gente volte a se encontrar politicamente. Mas hoje, no Estado, há uma posição dele a favor do governador e uma minha de oposição.
JC – Ficou decepcionada com a decisão do PMDB?
TEREZINHA – Jarbas teve as razões dele para tomar a atitude que tomou. Não sei quais, porque nunca conversamos sobre isso, mas temos que respeitar. A única coisa que eu colocaria é que o PMDB, antes de ter tomado essa posição de ir para a base do governo, tinha que ter sentado com toda a oposição e colocado claramente a posição que iria tomar. Foi o único erro que considero ter havido nesse processo.
JC – Desde a sua saída da Assembleia, o PSDB não manteve uma postura tão combativa a Eduardo. A que se deve isso?
TEREZINHA – A orientação que recebemos de Sérgio Guerra foi a de que o PSDB se manteria na oposição na Assembleia. Isso foi muito claro. Somos oposição na Assembleia e só vamos mudar de posição se houver um redirecionamento nacional. Enquanto o governador estiver aliado ao PT, vamos continuar como oposição a ele aqui no Estado. Essa é a orientação do partido. Agora, se o PSDB se entende com o PSB nacionalmente, vamos ter que nos realinhar aqui a essa nova realidade. Mas essa possibilidade, hoje, não existe.
JC – Mesmo tendo voz ativa na tribuna, a senhora não foi líder da oposição. Postulará essa vaga agora?
TEREZINHA – Meu nome para líder da oposição é Daniel Coelho. Ele teve dificuldade no primeiro biênio de ser o líder por conta do problema dele com o PV. É natural que agora o PSDB assegure a ele o apoio necessário para ele ser o líder da oposição. Vou exercer meu papel, independente de cargo que tenha. Fui presidente da Comissão de Cidadania e era uma das deputadas mais presentes na tribuna. O fato de não ser líder não me impediu de ir à tribuna. Essa questão dos cargos para o partido na Assembleia ainda está em discussão, não há nenhuma decisão tomada. Eu estarei na tribuna fazendo meus pronunciamentos, como fiz no primeiro mandato.
JC – Em breve, Sérgio Guerra deixará a presidência nacional do PSDB. Essa saída implicará em mudanças no diretório estadual?
TEREZINHA – Acho improvável que Sérgio não fique na direção nacional, em algum outro cargo. Mas se Sérgio não ficar, ele será naturalmente o presidente do PSDB de Pernambuco. Só se ele não quiser ser. Isso é uma coisa muito tranquila. Conversei isso com o presidente (estadual) Evandro Avelar e chegamos à conclusão de que essa é a situação mais natural.
JC – O PSDB terá candidato a governador em 2014?
TEREZINHA – É a nossa intenção. Temos vários nomes, como o prefeito Elias Gomes e os deputados Sérgio Guerra, Bruno Araújo e Daniel Coelho. São quadros que podem disputar o cargo sem dificuldades. Sérgio tem colocado que temos que nos preparar para disputar a eleição de governador, até porque teremos candidato a presidente da República e precisaremos ter um palanque em Pernambuco.