No Paquistão, o sexto país mais populoso do mundo, com uma história contemporânea caracterizada por ditaduras militares, censura à imprensa, instabilidade política, terrorismo de toda ordem, falsas promessas nos parlamentos, escândalos governamentais e corrupção na máquina administrativa do estado, chegaram ao ponto, recentemente, de proibir, nas escolas públicas e particulares, a compra do livro Eu sou Malala, de Malala Yousafzai.
As suas ideias eram vistas como um ato de rebeldia. A menina, de apenas 17 anos, tornou-se ganhadora do Nobel da Paz 2014. Malala torna-se a mais jovem a ganhar tal Prêmio.
Antes dessa honraria, Malala já havia se tornado para o mundo ocidental o símbolo da luta pelo direito das mulheres paquistanesas à educação e contra o terrorismo.
Em 2012, sofreu um atentando pelas denúncias que fazia. “Para você ser poderosa, basta apenas ir à escola”. Este era o grito de guerra de Malala em defesa das mulheres oprimidas do seu país.
A reação do poder armado veio de imediato: deram-lhe um tiro na cabeça, no ônibus em que ia à escola, mas sobreviveu e se mudou para a Inglaterra.
De lá, continuou sua luta pelos direitos das mulheres à educação.
A lição dessa jovem heroína ganhadora do Nobel nos transporta a um tempo brasileiro e pernambucano em particular, antes do golpe de 64, quando o jovem prefeito do Recife e futuro governador, Miguel Arraes, teve a coragem de criar o Movimento de Cultura Popular (MCP), uma instituição sem fins lucrativos que iria ser, anos depois, uma espinha na garganta e na alma dos censores culturais do regime militar.
Funcionava no Sítio da Trindade, antigo Arraial do Bom Jesus, localizado no bairro recifense de Casa Amarela. Suas atividades iniciais eram orientadas, fundamentalmente, para conscientizar as massas através da alfabetização e educação de base.
Era constituído por estudantes universitários, artistas e intelectuais, e tinha como objetivo realizar uma ação comunitária de educação popular a partir de uma pluralidade de perspectivas, com ênfase na cultura popular, além de formar uma consciência política e social nos trabalhadores, preparando-os para uma efetiva participação na vida política do País e para os enfrentamentos das incertezas.
O Movimento de Cultura Popular nasceu do povo guerreiro do Recife, contra as estreitezas dos obscurantistas, contra o primarismo dos ignorantes. Uma paisagem política, naquela época, a mostrar profundas semelhanças morais com a do Paquistão dessa menina admirável ganhadora do Nobel. Foi no MCP que surgiu a figura do grande educador que foi Paulo Freire.
Meu avô Miguel Arraes deixou esse legado histórico, no campo da Educação, a seu neto e meu irmão, Eduardo Campos. Ele foi fiel a este sonho. A partir das duas gestões governamentais de Eduardo Campos, várias iniciativas foram realizadas. Pernambuco saiu dos números inexpressivos de aproveitamentos, para mais de 100 escolas funcionando em tempo integral.
Contou com programas ousados e inovadores, que tiraram o nosso estado do sucateamento escolar e das manchetes negativas.
Tanto as estaduais como municipais e da rede privada, obtiveram melhor rendimento. O estado, pela primeira vez, teve a sua política de educação fundamental premiada dentro e fora do Brasil. Todos os resultados dos alunos tiveram a intervenção dos professores.
É por isso que hoje temos o 4o melhor Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do Brasil, e a melhor escola para se estudar no país, já que os dados do governo federal mostram que temos a menor taxa de abandono entre todos os estados brasileiros no ensino médio.
Investir em educação sempre foi prioridade para Eduardo. Era um dos seus lemas centrais no grande sonho da Presidência da República. Escolas com mais infraestrutura e ensino em tempo integral. Professores valorizados, com bônus de desempenho e notebooks.
Alunos com tablets, acesso à internet e programa de intercâmbio para países como Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Argentina e Espanha. E, agora, mais uma prova do trabalho do Governo de Pernambuco para melhorar a educação em todas as regiões: em 2012, foram 9.693 escolas de todo o Brasil disputando o prêmio máximo como escola modelo atribuído pelo governo federal. E a grande vencedora foi a Escola Estadual Tomé Francisco da Silva, em Quixaba, no Sertão do nosso estado. Eduardo era fascinado pela busca de novos projetos educacionais adequados à nossa realidade, dele não faltando estímulo para políticas de qualificação do setor. Cada época dará sempre o testemunho de vultos emblemáticos da Educação, como este que nos vem do Paquistão na voz de uma menina.
Eduardo Campos colocou a educação no centro do seu ideário para o Brasil: “No dia em que os filhos do pobre e do rico, do político e do cidadão, do empresário e do trabalhador estudarem na mesma escola…nesse dia o Brasil será o país que queremos.”
Com a morte prematura de Eduardo tenho confiança que os seus ideais e projetos para as políticas de Educação servirão de inspiração para Aécio Neves, que conta com o nosso apoio no segundo turno. Aécio Neves confirmou em carta aberta ao Brasil o seu compromisso prioritário com a Educação quando esteve, recentemente, no Recife. “Propomos agora ampliar a cobertura das creches, universalizar o acesso à pré-escola e a adoção da educação em tempo integral para os alunos no ensino fundamental. O futuro do Brasil será decidido nas salas de aula”, afirmou em carta ao Brasil.
Apostar no futuro é votar em Aécio, que é a alternativa de mudança. É preciso coragem para mudar o Brasil. Ela começa com seu voto e passa pela sala de aula.
* Antônio Campos é Advogado, Escritor e Membro da Academia Pernambucana de Letras e irmão do saudoso governador de Pernambuco Eduardo Campos e neto do também saudoso Miguel Arraes. O artigo foi escrito para o Portal Conversa com Brasileiros.