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“O ‘ mineirês’ e a tentativa de virar o jogo”, por Alan Gripp

Diálogo, humildade, abertura, erros. Se, por alguma razão, um brasileiro tivesse ficado completamente fora do ar nas últimas 48 horas não reconheceria a presidente Dilma Rousseff que reapareceu ontem, depois das manifestações que levaram multidões às ruas.

Dilma mudou no conteúdo e na forma. Fez esforço para parecer mais humana, o que amplificou até o seu “mineirês”. O tradicional “minha querida” deu lugar ao “ocê”, ao se dirigir aos repórteres na (rara) entrevista coletiva.

Foi um evidente cavalo de pau na comunicação da presidente, que, de tantos erros, contribuiu para o aumento do mau humor no país nas últimas semanas e fez a crise subir a rampa do Planalto.

Não foram poucos problemas. No domingo retrasado, quando a lista de políticos investigados na Lava-Jato obrigava a dupla Renan Calheiros e Eduardo Cunha a dar explicações, Dilma foi à TV para pedir “paciência” à população. Roubou-lhes a bola e, de quebra, tornou- se alvo do primeiro de muitos panelaços que virão.

No dia seguinte, visitou uma feira de construção em São Paulo, cidade claramente mais hostil a ela. Resultado: recebeu uma sonora vaia, protagonizada por trabalhadores do local, desidratando o discurso de que os batedores de panela da véspera se limitavam a felizes proprietários de varandas gourmet.

A crise se aprofundou com o discurso que passou a atribuir as manifestações a uma tentativa de “golpismo”, como fizeram Pepe Vargas e Miguel Rossetto. Jogaram gasolina na fogueira.

Ontem o governo acusou o golpe, e Dilma calçou as sandálias da humildade. Fez afagos nos descontentes das ruas, no Congresso e até nos repórteres. Vai precisar disso e de muito mais para controlar os ânimos do país, explicar o ajuste fiscal e reverter a sensação de estelionato eleitoral. Não é pouco.

Alan Gripp é editor do caderno País do jornal O Globo

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