RECIFE – O diretor nacional de formação e aperfeiçoamento do Institutito Teotônio Vilela, vereador André Régis, será um dos palestrantes na convenção do PSDB, hoje, em Brasília. A ocasião marca a troca de comando nacional da legenda com a eleição do senador Aécio Neves para presidente do partido.
Momento mais do que oportuno, na avaliação de Régis, para que o PSDB promova um debate interno em torno de uma nova forma de se comunicar com a sociedade.
Para André Régis, que também é vereador do Recife, é chegado o momento de o PSDB se posicionar como um partido que atua em favor do contribuinte, do cidadão.
“A comunicação do PSDB não deve ser pró-assistência. Fizemos o Bolsa Escola e outros programas sociais que resultaram no Bolsa Família, mas nosso discurso não pode ser reduzido a isso”, defende.
Ele acredita que o futuro presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, reúne as condições para reposicionar o partido na sociedade porque “tem uma comunicação fácil com todos os segmentos sociais”.
“Há dois anos, Aécio já vem defendendo uma nova agenda para o país. Isso gera uma interlocução importante com a sociedade e é um ativo do PSDB”.
O PSDB precisa renovar a comunicação com a sociedade?
Em primeiro lugar a gente precisa contextualizar. Há uma mudança no PSDB programada, não há nada fora do comum. É uma alternância de comando absolutamente rotineira. Claro que um novo presidente gera expectativas para um partido como o PSDB, um partido vitorioso, que mesmo tão jovem (24 anos) tem muito a mostrar em termos de êxito seja na presidência da República ou nos governos estaduais e municipais. O fato de a gente passar a viver agora um momento peculiar, de ter um presidente do partido que também é presidenciável, é um fator positivo porque pode energizar o PSDB. É um presidente que está marchando com certa antecedência para uma disputa eleitoral. O que fez muita falta nas disputas anteriores.
Porque ressaltar esse tema “O PSDB e a sociedade” neste momento?
Não se trata de forma alguma de uma cobrança. É uma reflexão. Se estamos mudando, precisamos refletir. O que não significa dizer que erramos. Mas nos perguntarmos se daqui pra frente vamos continuar com a mesma forma de comunicação. Porque há um novo contexto histórico, de relação do Brasil com o mundo, há muitos os problemas estruturais que estão atravancando o processo civilizacional e de desenvolvimento econômico e social. Esse momento exige uma discussão sobre qual a relação com a sociedade.
O próprio PSDB já reconheceu que errou na interlocução com a sociedade.
Errou, mas esse não é um debate eleitoral. Essa discussão (de erros) remete à eleição. Comunicamos-nos mal perdemos as eleições. Essa não é tônica da minha discussão: dizer como nos comunicarmos com a sociedade para chegarmos à presidência. Posso trazer mais indagações do que respostas que serão colocadas para a nova direção partidária e para os que militam no PSDB. Como forma de organização das ideias e construção do que a gente entende como sendo o caminho adequado para trilhar. A discussão que levanto é a de quem está antenado com os novos meios de fazer campanha, com a forma como a sociedade está enxergando um partido de oposição dentro de um contexto de esgotamento de modelo (de governo). Então trago pontos para uma reflexão que nos permita construir um diálogo em favor de uma aproximação com a sociedade. Inclusive daqueles que são do PSDB, mas não têm tido um exercício partidário. A gente tem um capital muito forte que precisa ser ativado.
Como deve ser essa nova comunicação, como o PSDB deve se colocar?
Primeiro tem de reconhecer os obstáculos que muitas vezes foram praticamente instransponíveis para o partido. Houve um período da era Lula que não importava o que se dissesse. A oposição não era considerada. As forças não permitiam. A sociedade de um modo geral tende a bonificar o governo, quando sua vida melhora, e a penalizá-lo nos momentos de dificuldade. O elemento razão na política não é imperativo, não é uma coisa absoluta. Mas temos de insistir no que fizemos pelo Brasil. O governo Fernando Henrique conseguiu renovar as instituições, domar o ímpeto dos governadores, acabando com o federalismo predatório, acabou com a inflação, etc. É importante esse debate até para não ficarmos nos achando incompetentes. Se fôssemos, não teríamos vencido duas eleições presidenciais no primeiro turno. Já as duas últimas eleições, 2006 e 2010, nós as disputamos com o debate econômico ausente. A primeira se deu dentro do contexto do mensalão e a segunda em torno de questões também externas ao debate econômico. Hoje, observamos que aos poucos o debate político se associa ao econômico. Pela ameaça de volta da inflação, a discussão de um novo federalismo, de redistribuição de riqueza da federação, está se estabelecendo. E nesse debate o PSDB leva vantagem porque tem o que mostrar. Esse debate está voltando porque há uma piora da qualidade de vida do brasileiro. A economia não cresce, o governo Dilma vai para o final do terceiro ano de governo sem crescimento, o país está parado. Na medida em que isso refletir na redução do emprego a percepção da sociedade em relação ao governo irá mudar. A satisfação vai diminuir e o sentimento de mudança surgirá com força.
A conjuntura então é favorável ao PSDB?
Não podemos esquecer os obstáculos como o da resistência da sociedade em relação à política. O que podemos fazer para diminuir esse padrão de resistência é abrir o PSDB para a sociedade, oxigená-lo, trazer as pessoas para o partido para que elas percebam aos poucos que o PSDB é diferente. Não somos um centro de catequese, mas um local de pessoas dispostas a defender uma nova visão de futuro. A forma de atração é um desafio. Mas o tradicional não nos favorece. Temos de buscar as cabeças que pensam, a universidade, romper um pouco com o mundo eleitoral. Se quisermos construir, temos de ter um diálogo mais presente, mais permanente. Temos de ir ao encontro dessas pessoas com teses que possam ser abraçadas e que têm tudo a ver com o PSDB.
Quais as teses que o PSDB precisa defender para se aproximar da sociedade?
É preciso que agente assuma um compromisso maior em defesa do contribuinte. Mostrar que ninguém aguenta mais pagar essa carga tributária exorbitante. Mostrar que não queremos ser sócios da arrecadação. A gente precisa se mostrar como um partido pró-contribuinte. Pró-cidadão. Que é a favor de um mundo aberto, globalizado. Um partido que respeita as instituições. Enfim, um partido antenado com as transformações que estão ocorrendo no mundo. Essa é a mensagem. Nós rompemos com a política velha. Não temos apenas um candidato novo. O mundo PT está se exaurindo. O PT, enquanto ideia, morreu. Sua substituição é praticamente inevitável e o PSDB precisa se colocar como alternativa.
O senador Aécio Neves é um bom porta-voz dessa mensagem?
Ele tem condições para isso. Tem uma vida longa na política, uma comunicação fácil com todos os segmentos, uma linguagem universal, abrangente. Há dois anos, Aécio já vem defendendo uma nova agenda para o país. Isso gera uma interlocução importante com a sociedade e é um ativo do PSDB. Por isso precisamos promover uma oxigenação do partido e, para isso, temos de mostrar à sociedade refratária à política que somos diferentes. Esse é um desafio. O Instituto Teotônio Vilela pode cumprir um papel importante nessa tarefa, assim como os novos meios de comunicação que são as redes sociais. O acervo que o PSDB tem de eleitores é muito grande, mas precisamos fazer com que eles se tornem agentes multiplicadores. Para isso, o partido precisa provar que exerce novas práticas políticas, que protege o contribuinte, que defende a eficácia no serviço público, o combate ao desperdício… A comunicação do PSDB não deve ser pró-assistência. Fizemos o Bolsa Escola e outros programas sociais que resultaram no Bolsa Família, mas nosso discurso não pode ser reduzido a isso. Nosso discurso tem de ser pró-liberdade do cidadão, que se dá com respeito ao contribuinte, mas essencialmente com a construção de capital humano que só será possível mediante a educação. Em suma, o PSDB deve ter real noção dos obstáculos, decorrentes do passivo da estrutura política nacional e ter uma prática de ruptura com essa estrutura, e jamais ser desprovido de um conteúdo, de ideias. O PSDB tem história que o legitima e já mostrou que tem a capacidade de enxergar o futuro. Foi assim na Constituinte, apesar de o partido ainda não existir. Foram os líderes do PMDB, que formaram depois o PSDB, os grandes artífices dessa base em que a democracia brasileira se assenta.