Em passagem pelo Recife, o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), concedeu entrevista ao Jornal do Commercio.
Entre as várias observações que faz sobre a conjuntura política e seus desdobramentos na eleição presidencial deste ano, o senador aponta “um esgotamento do ciclo do governo petista”.
Para Nunes Ferreira, o “PT está num processo de degeneração” e isso, de alguma forma, avalia, “vai aparecer na campanha” pois acredita que a eleição presidencial será pautada “por uma nova política”. “Há uma necessidade de mudança que me parece evidente”, aposta.
Abaixo, trechos da entrevista concedida à repórter Bruna Serra do JC:
“Sinto o esgotamento do ciclo do governo petista. Ainda que não se transforme num movimento político forte, já é sentindo e muito na sociedade. A ideia de que o Brasil está mediocrizando do ponto de vista da sua economia, das oportunidades que as pessoas possam ter de produzir na vida. A mediocrização da política. Eu creio que a política sofreu um enorme retrocesso. Talvez mais ainda do que na economia, que no primeiro ano do governo Lula, quando ele conservava os fundamentos do PSDB e tinha recebido o governo numa conjuntura econômica favorável no cenário internacional.”
“O governo Dilma não tem nada a se aproveitar, principalmente na economia. Inflação voltando, alta. Na política, um enorme retrocesso, a velha política brasileira, a mesma que tinha sido alvo das críticas impiedosas do petismo e que, no entanto, se exacerbaram durante o governo do PT. Isso de alguma forma vai aparecer na campanha. Penso até que a candidatura do Eduardo Campos é um sinal desse esgotamento. Ela é, sobretudo, fruto de uma desagregação do bloco que governou e vem governando o País. Há uma necessidade de mudança que me parece evidente.”
“Por enquanto, a presidente Dilma está falando sozinha na sua candidatura à reeleição. Lançando mão de todos os instrumentos que a ocupação do poder lhe propicia. Ela está em campanha eleitoral aberta há mais de dois anos. O contraditório ainda não se estabeleceu. E tanto Eduardo Campos, quanto Aécio Neves são nomes novos. Não que sejam políticos novos. Ambos são experientes. Jovens, mas com a trajetória de realizações importantes nas suas respectivas carreiras. Mas são nomes novos enquanto candidaturas presidenciais.”
“Estamos caminhando para uma situação política em que há uma liberdade de escolha maior para o eleitor. Agora, o PSDB é um partido consolidado. É um partido que governa oito Estados, tem bancada, tem vocação para o governo. Tem quadros aptos, já governou o Brasil em duas oportunidades. Tem tradição governativa maior e uma presença maior no território nacional.”
“A campanha presidencial será pautada por uma nova política. Uma nova atitude dos políticos diante do povo, de uma nova concepção do que seja um bom governo. Não apenas em termos de melhoria na qualidade dos serviços públicos, mas de conduta, de ética, de preocupação com o bem comum, de rechaço aos privilégios. Por enquanto, dentre os candidatos colocados, Dilma é a velha política. É o PT esclerosado. É o PT num processo de degeneração. Essa última movimentação da presidente para compor seu novo ministério mostra isso. A preocupação apenas com a ocupação de espaço político a partir da fisiologia mais descarada.”
“O Congresso vai muito mal. Metido em picuinhas, em minúcias. Nenhuma grande reforma galgada nos trabalhos do Congresso. Os temas que são realmente importantes, como a segurança pública, não andam. Fisiologia tomando conta da relação entre o Executivo e o Legislativo. Falta de solenidade no trabalho parlamentar. O ambiente no plenário do Senado que é frequentemente interrompido por pessoas que nada têm a ver com o trabalho legislativo. Lobistas, gente interessada na aprovação de projetos, que estão lá no plenário, interrompendo o trabalho, abelhudos. Enfim. Essa situação não é nova. Sou a favor de uma reforma política, que, no meu entender, pode conferir ao nosso sistema político maior representatividade, tornar as eleições mais baratas e o eleitor mais próximo do eleito.”
“A presidente Dilma colocou a ideia da reforma política de uma maneira completamente canhestra, por plebiscito. Sem apresentar nenhuma ideia concreta. Mas eu penso que o próximo presidente deve encarar essa questão com seriedade. Chamar as lideranças dos principais partidos e chegar a um consenso, ou pelo menos um entendimento, do que é preciso mudar. Continuar desse jeito não dá.”