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“O silêncio do Brasil”, por José Aníbal

2010_09_22-Jose-Anibal-4870Eu entendo que este governo nutra pela Venezuela chavista boa dose de admiração, além de respeitosa lealdade.

Também compreendo as afinidades existentes entre os dois. Mas a condescendência do Estado brasileiro com a degeneração institucional da Venezuela e com a escalada da violência política atenta contra a nossa história e tradição diplomática.

Com relatos de truculência e prisões arbitrárias, lá se vão 15 dias de protestos ininterruptos.

O maior deles, há uma semana, terminou com três mortos e quase 30 feridos.

Milícias têm atuado contra adversários e manifestantes sob os bigodes do Estado.

A imprensa foi dobrada.

A oposição protesta contra a omissão de organismos multilaterais e de vizinhos, Brasil à frente.

O presidente Nicolás Maduro reagiu como de costume: criando factoides.

Denunciou uma conspiração golpista e expulsou diplomatas americanos.

Criminalizou os partidos de oposição e prendeu inimigos.

Convocou e insuflou partidários para enfrentar os manifestantes.

Por fim, solicitou aos governos amigos na região que fizessem vista grossa e que se calassem. E foi atendido.

O voluntarismo messiânico dessa escola política parece ser incapaz de entender e de tolerar o sistema de contrapesos da democracia.

Se o governo é ruim, como é o da Venezuela, o sistema republicano não perdoa.

À mercê de estruturas mentais superadas e portador de um heroísmo fraudulento e autoritário, Nicolás Maduro não é mais do que uma figura patética.

Que ele fale com Chávez por meio de passarinhos, é um problema do povo venezuelano.

Que o Brasil abandone seus princípios e enxovalhe sua trajetória diplomática, é um problema nosso.

Foi o nosso multilateralismo e a vocação para a resolução pacífica de controvérsias que fez de nós líderes do continente.

Quando a gente acha que este governo não pode mais se rebaixar, ele se supera.

*José Aníbal é economista, deputado federal licenciado e ex-presidente do PSDB

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