Eu entendo que este governo nutra pela Venezuela chavista boa dose de admiração, além de respeitosa lealdade.
Também compreendo as afinidades existentes entre os dois. Mas a condescendência do Estado brasileiro com a degeneração institucional da Venezuela e com a escalada da violência política atenta contra a nossa história e tradição diplomática.
Com relatos de truculência e prisões arbitrárias, lá se vão 15 dias de protestos ininterruptos.
O maior deles, há uma semana, terminou com três mortos e quase 30 feridos.
Milícias têm atuado contra adversários e manifestantes sob os bigodes do Estado.
A imprensa foi dobrada.
A oposição protesta contra a omissão de organismos multilaterais e de vizinhos, Brasil à frente.
O presidente Nicolás Maduro reagiu como de costume: criando factoides.
Denunciou uma conspiração golpista e expulsou diplomatas americanos.
Criminalizou os partidos de oposição e prendeu inimigos.
Convocou e insuflou partidários para enfrentar os manifestantes.
Por fim, solicitou aos governos amigos na região que fizessem vista grossa e que se calassem. E foi atendido.
O voluntarismo messiânico dessa escola política parece ser incapaz de entender e de tolerar o sistema de contrapesos da democracia.
Se o governo é ruim, como é o da Venezuela, o sistema republicano não perdoa.
À mercê de estruturas mentais superadas e portador de um heroísmo fraudulento e autoritário, Nicolás Maduro não é mais do que uma figura patética.
Que ele fale com Chávez por meio de passarinhos, é um problema do povo venezuelano.
Que o Brasil abandone seus princípios e enxovalhe sua trajetória diplomática, é um problema nosso.
Foi o nosso multilateralismo e a vocação para a resolução pacífica de controvérsias que fez de nós líderes do continente.
Quando a gente acha que este governo não pode mais se rebaixar, ele se supera.
*José Aníbal é economista, deputado federal licenciado e ex-presidente do PSDB