Com a esperança, cada vez mais remota, de reverter o quadro pró-impeachment na Câmara dos Deputados, a presidente Dilma propôs na última quarta-feira um pacto pela governabilidade, caso consiga reverter os votos que lhe são desfavoráveis. Falou em procurar a oposição e os movimentos sociais.
De comportamento arredio ao diálogo, por temperamento ou por falta de experiência política – chegou à presidência sem ter sido vereadora, prefeita, deputada, governadora ou senadora – Dilma acenou tardiamente por uma conciliação. Além disso, certamente, nove entre dez políticos hoje desconfiam de seu real propósito.
E não é pra menos. Eleita em 2014 com uma margem pequena de votos sobre o adversário Aécio Neves – alcançou 51,5% dos sufrágios – Dilma teria sido aconselhada por pessoas próximas a acenar aos adversários e até chegou a tentar isso afirmando, ao ser eleita, “conclamo, sem exceção, todos os brasileiros para nos unirmos em favor do futuro de nossa pátria, do nosso povo, do nosso país”.
Antes recebera uma prova de abnegação do outro lado da mesa. Aécio telefonara para ela e, como afirmou à imprensa, disse-lhe: “O importante agora, presidente, é unir o Brasil em um projeto honrado e que dignifique a todos os brasileiros”.
No TSE, ao ser diplomada, a presidente afirmou “iremos em busca de todos os poderes da República e das forças vivas do país para firmar um pacto contra a corrupção”, assunto que, como se sabe, já se aproximava cada vez mais do Palácio do Planalto àquela altura do campeonato.
Teria Dilma tido dificuldade de convencer sua base aliada a seguir seu comando ou ela própria não estava convencida ou não quis levar adiante o seu propósito? É difícil saber mas, entre a vitória e a posse em 1º de janeiro deste ano, a presidente mudou.
Em seu pronunciamento para o segundo mandato esqueceu a disposição inicial e adotou novamente o discurso do “nós contra eles”, colocando-se acima dos simples mortais e realimentando a ideia de que “nunca antes na história desse país” se fizera tanto. Dava a impressão, confirmada depois pelos fatos, que se considerava onipotente para continuar governando só por sua cabeça.
A possibilidade de diálogo, portanto, se desfez. Daí para a frente, como é visível, a crise foi se agudizando, os problemas crescendo e a presidente continuou se isolando sem buscar entendimento.
Por duas vezes reuniu os governadores mas para ter apoio a uma medida impopular, a criação da CPMF, que, no final, serviu foi de estopim contra ela com a sociedade manifestando-se contrária à criação de novos impostos.
Dilma pode até ter tido o propósito de apenas montar um discurso posterior à decretação do impeachment ao acenar com o diálogo tardio.
Teria mais a ver com sua personalidade. Chegar ao ponto em que chegou sem sentar à mesa em busca de ajuda é algo que cabe à psicologia explicar. A não ser que haja um outro motivo que somente a história vai ser capaz de revelar.
*Presidente do PSDB Mulher de Pernambuco.Artigo publicado no Diario de Pernambuco neste sábado (16/04)