Brasília (DF) – O ministro das Relações Exteriores, José Serra, afirmou, em entrevista ao jornal Correio Braziliense publicada neste domingo (31), que o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff já é um episódio “menor” na atual conjuntura política. O chanceler destacou que nem mesmo as lideranças petistas querem a volta de Dilma ao cargo. “O impeachment está resolvido na minha cabeça e na cabeça da torcida do Flamengo. Nem o PT quer a volta da Dilma”, avaliou.
O ministro acrescentou que identificou senadores petistas felizes com as perspectivas para o futuro. “Primeiro porque não têm de justificar o governo Dilma. Segundo, têm o discurso de vítima, que em política vale ouro, e terceiro, porque podem votar no quanto pior, melhor, sem dor de consciência como sempre fizeram”, apontou.
Ainda assim, Serra lembrou que a batalha por um Brasil melhor não está ganha. O governo do presidente Michel Temer terá muitos percalços pela frente para corrigir os problemas causados pelas crises política, econômica e social que o país enfrenta. “Governar o Brasil é muito difícil, do ponto de vista econômico, desde logo, do ponto de vista político do jeito que as coisas estão. Eu estou esperançoso, estamos trabalhando para isso, mas você não pode dar de barato, que isso já está garantido”, disse ao Correio.
Ao tratar da política externa brasileira, o chanceler ressaltou que já é hora de o país assumir o papel que uma nação continental deveria ter. Ele defendeu parcerias comerciais com o México e com o continente africano, negociações que foram deixadas em segundo plano pelas gestões Dilma e Lula.
“Do ponto de vista global, a era petista foi uma era de retrocesso porque arruinou a economia brasileira. Tem que olhar o fim, o balanço e, em matéria externa não teve grandes avanços. A questão com a África foi pura retórica. A África, hoje, é um continente que cresce muito depressa. Tem que ser olhada como mercado”, argumentou.
“A Nigéria exporta para o Brasil bilhões em petróleo, chegou a exportar oito, hoje deve ser quatro e não importa nada do Brasil. Agora, quando eu digo a África como mercado, eu não estou dizendo que não devemos olhar do ponto de vista cultural, histórico, os laços e etc., mas isso não esgota. A relação econômica é essencial e é positiva, tende a ser positiva para a gente. O Brasil tem complementariedade com a África na produção de alimentos industrializados, maquinário agrícola, material para transporte e deve aproveitar isso”, constatou o tucano.
Mercosul
Sobre o impasse quanto à presidência do Mercosul, que pode ser transferida para a Venezuela, José Serra reiterou que o país liderado por Nicolás Maduro não tem condições de administrar o bloco econômico. Além de a situação dos direitos humanos no país ser vista com preocupação, a Venezuela não cumpriu os requisitos normativos necessários para integrar o Mercosul, entre eles uma série de acordos, protocolos e regras, dentro do prazo de quatro anos estipulado.
“O governo venezuelano não consegue tocar a Venezuela. Hoje, teve uma empresa aqui, eu falei: vocês estão em um regime de três dias por semana? E responderam: por semana? Abre a cada cinco meses. Eu acho que a solução venezuelana vai ter que ser interna. Não acho que tem que ter intervenções. Foi um equívoco a entrada [no Mercosul] e está se mostrando isso, foi fruto de um golpe”, completou.
Leia AQUI a íntegra da entrevista do ministro José Serra para o jornal Correio Braziliense.