Terceiro maior PIB agropecuário brasileiro, a região do Vale do São Francisco, em Pernambuco, batizada, em tempos remotos, de “polígono da maconha” por causa das grandes plantações desta erva queimadas, espetacularmente, pela polícia para rechear as manchetes dos telejornais nacionais, produz hoje, 251 mil toneladas anuais de uva de mesa, 5 milhões de litros de vinhos finos e 100 mil litros de suco de uvas, além de toneladas de outras frutas.
A pujança econômica e social da região, onde o desemprego quase inexiste, é patente. Seis voos comerciais decolam e pousam diariamente em Petrolina com lotação esgotada e a cidade se prepara para receber um avião de carga de grandes proporções, aeronave que pousará no Brasil apenas lá e no aeroporto de Campinas, em São Paulo, decolando em seguida para o exterior.
A paz da região, porém, está ameaçada, do ponto de vista social e econômico desde que o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra, que, na década de 90, invadiu duas grandes fazendas produtoras de frutas – a Catalunha e a Rubem Berta – hoje abandonadas e dilapidadas, voltou a atacar.
Há dois meses o MST espalha o medo e o pânico no campo dos municípios de Lagoa Grande – conhecida como capital da uva e do vinho – e Santa Maria da Boa Vista, a 60 e 100 km de Petrolina, já tendo invadido as fazendas Goiás, Novo Horizonte, Milano – a pioneira e produtora dos vinhos da marca Botticelli – e a fazenda Bianchetti, a única do Nordeste e a segunda do Brasil a produzir vinhos e espumantes orgânicos.
Sob o argumento de que precisa de terra para abrigar seus filiados, o MST ocupa inicialmente as fazendas, como fez outrora com a Catalunha e a Rubem Berta (conhecida como a Fazenda da Varig), consegue convencer o Incra a desapropriá-las e, em seguida, liberar recursos para que o movimento administre o projeto. O Incra acaba pagando duas vezes – ao proprietário da terra desapropriada – e ao MST.
Se o Movimento conseguisse fazer as fazendas continuarem produzindo o São Francisco poderia ter hoje o mais exemplar e arrojado plano de reforma agrária do mundo, mas não é isso o que acontece como obervou em visita a região um grupo de deputados estaduais esta semana. Os sem-terra só ficam no local um certo tempo. Depois disso, pessoas infiltradas no movimento roubam tudo que vêm pela frente, desde motores de irrigação – alguns recolhidos através de guindastes nas caladas da noite – até canos, espalham o terror e desaparecem. Os assentados vão atrás em busca do sustento como trabalhadores braçais.
A ação do MST agora não tem se restringido, porém, às fazendas produtivas, o que já provocou este ano a suspensão da famosa Feira da Uva e do Vinho de Lagoa Grande, capaz de reunir 100 mil pessoas a cada dois anos.
Há poucos dias uma dissidência do grupo, o MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) invadiu e depredou em Petrolina um centro de pesquisas do semiárido do grupo Monsanto, inaugurado em março deste ano, e o MST ameaçou invadir a sede administrativa do projeto Nilo Coelho, que irriga 23 mil hectares e gera 90 mil empregos diretos e indiretos.
O MST diz que não faz assentamentos prosperarem porque não recebe assistência técnica e nem recursos necessários. Os produtores, pequenos, médios e grandes acusam o Ministério Público de ser moroso, a justiça autorizar reintegração de posse que não é cumprida pela polícia, e pedem socorro. Na Milano, trabalhadores que lá residem há 30 anos, dizem que não vão aceitar perder o que tem para os invasores.
No meio disso tudo, além da burocracia oficial, há uma equação difícil de fechar. A área rural está sob administração do Governo Federal e, por conta disso, o Estado também não age. E o problema vai se alastrando sem que se saiba onde vai parar. No final, perdem todos.
* Artigo assinado pela deputada estadual Terezinha Nunes (PSDB) e publicado no Blog de Jamildo
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