O Dia Nacional de Luta reunirá amanhã, no Centro do Rio, dois movimentos distintos da história recente do Brasil. Dois mundos opostos se encontrarão na Candelária, a partir das 15h, e a grande curiosidade é saber como se comportarão.
Os indignados jovens manifestantes do ciclo de protestos de junho marcharão juntos pela primeira vez com a abastada elite do movimento sindical. Marcharão?
São inúmeras as diferenças entre estes dois mundos.
As centrais sindicais são ricas, têm estruturas burocráticas inchadas, funcionam de forma hierarquizada e, desde o governo Lula, fazem parte do establishment. As greves e lutas das décadas de 1970 e 1980 foram trocadas pelas conversas palacianas, por recursos públicos e cargos ministeriais. Poderosas, podem convocar suas campanhas com anúncios nas televisões, imprimem milhões de panfletos e cartazes e têm frotas de carros de som para animar as palavras de ordem.
Quanto aos indignados, vimos como funcionam. As convocações são por redes sociais, as assembleias e as passeatas não comportam lideranças, as reivindicações e palavras de ordem são variadas e às vezes confusas, os cartazes são de cartolina e criativos, e não dependem de apoio oficial ou de carros de som. Na maior passeata no Rio colocaram 300 mil nas ruas.
Pode-se dizer que o movimento sindical brasileiro hoje é o sistema. E que os indignados são o anti-sistema.
O movimento sindical vem com palavras de ordem bem definidas: redução da jornada de trabalho, fim do fator previdenciário, 10% do PIB para educação, 10% do Orçamento para saúde, transporte público de qualidade e reforma agrária. E o movimento das redes e das ruas? Ninguém sabe. Provavelmente tarifa zero, fora Renan, o uso abusivo dos jatinhos da FAB e de helicópteros, dignidade, respeito, sem Copa, padrão FIFA na saúde e na educação, fim da violência policial. A ver.
O que vai prevalecer amanhã nas ruas do Centro do Rio, o barulho dos carros de som dos sindicatos ou a polifonia dos gritos da garotada? E como se comportarão os sindicatos quando a turba deixar a concentração e ocupar as ruas? Seguirão? E como se comportarão os sindicalistas organizados se houver enfrentamento com a polícia? Como tratarão os anarcopunks e blacks blocs mascarados que estão em todas?
Amanhã, às 15h, os jovens indignados e os sindicalistas acomodados têm um encontro marcado na Candelária. O que vai sair daí, ninguém sabe.
Marcelo Beraba é diretor da sucursal do Rio do jornal O Estado de S.Paulo