Apesar do ambiente econômico desfavorável em 2001, marcado pela crise da Argentina, elevação da taxa básica de juros interna e da taxa de câmbio, racionamento de energia elétrica, contração da economia mundial, dentre outros fatos, a indústria brasileira registrou crescimento de 1,5% no ano, após ter alcançado taxa de 6,6% em 2000.
No mês de dezembro de 2001, a produção industrial cresceu 1,0% frente a novembro, na série livre de influências sazonais. Esse último indicador e o de média móvel trimestral, que não utilizam a base de comparação de 2000, apontam uma tendência de recuperação no ritmo da atividade industrial. Já no indicador mensal ( em relação a igual mês do ano anterior) houve decréscimo de 6,1%, mais intenso que o verificado em novembro (-1,8%) e outubro (-3,2%), devido à excepcionalidade do mês de dezembro de 2000, que teve nível recorde de toda a série dos índices com ajustamento sazonal. O indicador acumulado dos últimos doze meses passou de 2,1% em novembro para 1,5% em dezembro.
Em 2001, o setor industrial apresentou trajetória declinante
Em 2001, dos vinte ramos pesquisados, sete sustentaram o resultado positivo: as indústrias de produtos alimentares, extrativa mineral, papel e papelão, bem como os segmentos do complexo metal-mecânico. O desempenho de maior impacto sobre o índice global veio de produtos alimentares (5,1%), cujos destaques foram produtos influenciados pelas vendas externas, como açúcar cristal e aves abatidas. Em seguida figuraram segmentos do complexo metal-mecânico, tais como material elétrico e de comunicações (7,3%), mecânica (5,3%) e material de transporte (5,3%), onde destacaram-se itens associados a investimentos e à questão energética: baterias e acumuladores e transformadores de alta tensão; tratores agrícolas; e vagões ferroviários, respectivamente. O quinto ramo em termos de impacto foi o da produção extrativa mineral (3,5%), impulsionada pela maior produção de petróleo e gás natural. Entre os ramos industriais em queda no ano de 2001, as indústrias têxtil (-5,7%) e de vestuário e calçados (-6,5%) exerceram as principais pressões negativas.
Nos índices por categorias de uso, a maior expansão em 2001 ficou com bens de capital (12,8%), em conseqüência de aumentos em todos os subsetores, destacadamente: bens de capital para energia elétrica (42,5%), para a construção (23,7%), máquinas e equipamentos para a agricultura (19,4%) e equipamentos para o setor de transporte (12,2%). Alavancando estes resultados encontram-se planos de investimentos, sobretudo os de modernização da agricultura e da rede ferroviária, e os de construção de termelétricas e hidrelétricas. Outro segmento que também expandiu produção em 2001 foi o de bens de consumo semi e não duráveis (1,9%), revertendo assim o comportamento de queda observado nos três anos anteriores. Três subsetores sustentaram o resultado positivo da categoria: outros bens não duráveis, cujo incremento de 10,1% esteve fortemente relacionado ao aumento na fabricação de baterias e acumuladores; alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico (3,8%), onde os principais destaques foram itens voltados para a exportação, como aves abatidas e café solúvel; e carburantes, com acréscimo de 3,0%.
Por outro lado, os segmentos de bens intermediários (-0,3%) e de bens de consumo duráveis (-0,6%) registraram pequenos recuos em suas produções em 2001, quando comparadas com as de 2000. Nos bens intermediários, a ligeira retração não foi mais acentuada devido às performances dos subsetores de combustíveis e lubrificantes básicos (petróleo, gás natural) e elaborados (óleo diesel, óleo combustível, etc.), com taxas respectivas de 4,3% e 5,4% de crescimento; alimentos e bebidas elaborados para a indústria (7,2%), cujos destaques foram os açúcares cristal e demerara; e peças e acessórios para bens de capital (rolamentos, capacitores eletrônicos, etc.), com aumento de 0,7%. Os bens de consumo duráveis, por sua vez, sofreram os efeitos do racionamento de energia elétrica, da elevação da taxa de juros e da queda do rendimento médio real, que contraíram, principalmente, o consumo de eletrodomésticos (-9,1%) e de móveis (-1,1%). Deste modo, os crescimentos observados nos subsetores de veículos automotores para passageiros (4,1%) e de equipamentos de transporte não industrial (18,9%), não foram suficientes para neutralizar a queda na fabricação dos outros duráveis.
Os índices em bases trimestrais (confronto com igual trimestre do ano anterior), confirmam que o setor industrial foi desacelerando seu ritmo de atividade ao longo do ano, a medida em que fatores adversos ao seu desempenho se sucediam, e a base de comparação acelerava a sua trajetória de crescimento (ano de 2000). Após as expansões de 7,3% e 3,2% nos dois primeiros trimestres do ano de 2001, a taxa global assinalou um ligeiro recuo de 0,2% no período julho-setembro, para atingir a marca de -3,6% no último trimestre do ano passado.
Média móvel trimestral mostra reversão da tendência de desaceleração da indústria
Mas a evolução dos índices de média móvel trimestral indica que o resultado de dezembro – mesmo num patamar 6,3% inferior ao de fevereiro de 2001, produziu uma reversão da tendência declinante da produção industrial, que vigorou de março até o trimestre encerrado em novembro. O movimento dos bens de consumo duráveis (que entrou numa fase de recuperação a partir de outubro), juntamente com o dos bens de consumo semi e não duráveis (cuja fase de crescimento iniciou-se em agosto), explicam tal reversão no índice global, já que os segmentos de bens de capital e bens intermediários mantiveram a trajetória de queda.
Em dezembro, a produção industrial cresceu 1,0% em relação a novembro
O aumento de 1,0% verificado na passagem de novembro para dezembro últimos refletiu, sobretudo, o comportamento positivo de três categorias de uso e de dez dos vinte ramos pesquisados.
No corte por categorias de uso, o segmento produtor de bens de capital foi o único a assinalar decréscimo (-2,1%), o quarto consecutivo neste tipo de comparação. Assim, entre agosto e dezembro o recuo de bens de capital chegou aos 11,7%. A produção de bens intermediários cresceu 0,3% e a de bens de consumo semi e não duráveis 0,8%, ficando o segmento de bens de consumo duráveis com a taxa mais elevada (6,1%). Vale ressaltar que há três meses consecutivos os bens de consumo duráveis vêm apresentando taxas positivas nesta comparação, devido aos sinais de melhora do ambiente econômico, às vendas de final de ano, ao comportamento menos defensivo do consumidor frente ao racionamento de energia elétrica e, no concernente à indústria automobilística, à oferta de condições mais atrativas para financiamento de veículos novos. Deste modo, entre setembro e dezembro, o segmento de bens de consumo duráveis acumulou crescimento de 22,0%, e registra em dezembro nível de produção 5,3% superior ao de junho de 2001.
No indicador mensal houve decréscimo de 6,1%
No comparativo dezembro 01/dezembro 00, o decréscimo de 6,1% reflete o impacto de uma base de comparação significativamente elevada. Por conseguinte, teve um perfil generalizado, uma vez que dezoito ramos apresentaram variações negativas. As exceções ocorreram na farmacêutica e fumo, que obtiveram acréscimos de 18,9% e 9,0%, respectivamente. Os desempenhos de química (-7,4%), material de transporte (-13,9%), mecânica (-8,5%), produtos alimentares (-5,7%), material elétrico e de comunicações (-7,2%) e metalúrgica (-4,3%) foram determinantes para a contração global da indústria. No corte por categorias de uso, apenas a área de bens de consumo semi e não duráveis (0,4%) mostrou uma ligeira variação positiva, sustentada pelo aumento no subsetor de outros bens não duráveis (35,0%), onde se de
stacaram os itens baterias e acumuladores e medicame
ntos. As áreas de bens de consumo duráveis (-19,2%) e bens intermediários (-7,3%) prosseguiram com queda, enquanto que a área de bens de capital registrou o primeiro recuo (-3,0%) desde novembro de 1999, neste tipo de comparação. Em dezembro, praticamente todos os subsetores de bens de capital pressionaram negativamente o resultado global desta categoria de uso, pois as taxas positivas restringiram-se aos bens de capital para energia elétrica (5,6%) e às maquinas e equipamentos para a agricultura (31,2%).
Em 2001, os setores de alta intensidade fecham em queda
Quanto aos índices agregados segundo o grau de intensidade no gasto com energia elétrica (tabela 2), estes mostram que na passagem de novembro para dezembro houve decréscimos nos setores de alta intensidade (-0,4%) e de média intensidade (-1,4%), enquanto os de baixa intensidade assinalaram crescimento de 2,1%. Na comparação com dezembro de 2000, todos exibiram queda, sendo a mais intensa nos setores de média intensidade (-7,9%). No acumulado do ano de 2001, tanto os setores de média quanto os de baixa intensidade registraram taxa positiva de 2,9%. Somente os de alta intensidade apresentaram recuo de 2,1% nesta comparação.