Em audiência da Justiça Federal do Rio de Janeiro nesta sexta-feira (15/04), o ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez Otávio Azevedo revelou que a empresa pagou propina para o PT após ganhar o contrato de uma obra na Venezuela financiada pelo BNDES.
Segundo o delator, a cobrança do suborno pelo PT ocorreu após o banco liberar o financiamento. Essa é a primeira vez que um ex-presidente de empreiteira afirma que o PT cobrava propina por empréstimos do BNDES.
Reportagem publicada neste sábado (16/04) pelo jornal Folha de S. Paulo conta que o contrato foi fechado em 2008 com a ajuda do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teria negociado com o então presidente venezuelano, Hugo Chávez.
De acordo com o delator, tempos depois do acordo, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto cobrou como propina 1% do valor financiado pelo BNDES no projeto.
Em 30 de dezembro de 2010, o BNDES liberou um financiamento de US$ 865,4 milhões para a Usina Siderúrgica Nacional da Venezuela.
O banco diz ter obedecido todas as etapas e normas de financiamento para exportação de serviços. A propina de 1% requerida pelo PT correspondia, então, a US$ 8,7 milhões, o equivalente a R$ 14,5 milhões, de acordo com a cotação da época. O valor total do contrato era de US$ 1,8 bilhão, mas outras empresas participavam do projeto.
“Estávamos disputando essa obra com a Itália. A Andrade conversou com o Lula, que pediu diretamente ao Chávez para que olhasse para o Brasil. Foi o que aconteceu”, contou Otávio Azevedo ao juiz federal Marcelo Brêtas.
O delator reafirmou que o então presidente do PT em 2008, Ricardo Berzoini, o procurou naquele ano para comunicar que a propina de 1% não deveria ser paga apenas em contratos com a Petrobras, mas em todos os negócios fechados com o governo.
A partir daí, a Andrade Gutierrez passou a pagar propina também para obras de usinas, como as de Angra 3 e Belo Monte.
“Fizemos os pagamentos até em anos em que não houve eleição. A partir de 2010, João Vaccari assumiu a tesouraria [do PT] e as cobranças. Até 2010, foram pagos cerca de R$ 40 milhões”, destacou Azevedo.