Para quem passou anos investindo na polarização do nós contra eles, pobres contra ricos, patrão contra empregado, o resultado da pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, junto a setores da periferia paulistana, deve ter sido um susto.
O objetivo era conhecer melhor esse segmento social e, para isso, foram ouvidos moradores de bairros periféricos e favelas de São Paulo, todos ex-eleitores do PT entre os anos de 2000 e 2012. Em 2014, esse grupo já não votou em Dilma Rousseff.
O retrato que salta da pesquisa é contundente. A polarização existente na realidade desses brasileiros opõe, na verdade, Estado a cidadão, governo a sociedade, renegando chavões de discursos ultrapassados e apontando mais uma face da crise de representatividade presente no país.
Sai de cena uma população cativa do Estado benfeitor e se afirma uma nova mentalidade cidadã, que acredita na meritocracia e na capacidade de crescer pelo esforço individual. Caem por terra os clichês de uma esquerda antiquada e populista, refém de um discurso estacionado no século passado. O mundo mudou, o país mudou. Mas há quem ainda não acredite nisso.
O fracasso da gestão econômica patrocinada pelo PT já é conhecido dos brasileiros, que hoje têm a árdua missão de resgatar o país de uma recessão histórica que provocou uma queda de quase 10% do PIB per capita nos últimos anos, esmagou os setores produtivos e mantém milhões de desempregados.
O que a pesquisa revela agora é a consciência de uma parcela expressiva de brasileiros que foram beneficiários de políticas que os incluíram no mercado de consumo, mas que fracassaram como projetos mais amplos de cidadania.
Essas pessoas não se acomodam com benesses assistenciais, mas anseiam por oportunidades de crescimento, por menores restrições ao desenvolvimento de seus negócios próprios e por um país que valorize aqueles que produzem.
Nesse contexto, o Estado é percebido por elas como adversário, não como aliado do cidadão, seja esse o trabalhador ou o empresário.
A pesquisa vem a público justamente em um momento crítico da vida nacional. Por um lado, aí estão os números do impacto recessivo junto à população e o crescimento da pobreza. Somos um dos dez países mais desiguais do mundo, informa a ONU. Por outro lado, é nesse contexto de crise social e restrição orçamentária que se impõe a necessidade de reformas estruturais capazes de salvar o país e recolocá-lo nos trilhos do crescimento.
As escolhas são difíceis, mas não podem ser demagógicas ou populistas. O que todos querem é trabalhar em paz, em um ambiente sadio, sem corrupção e sem a mão opressiva do Estado. O recado está dado. Resta saber se ouvido.
*Coluna publicada nesta segunda-feira (10/04) na Folha de S. Paulo