“A economia vai bem, mas o governo vai mal”, afirma FH
Tucano participa de seminário do PSDB em São Paulo
São Paulo (9 de agosto) – Ao avaliar o atual cenário nacional, o presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, afirmou nesta quinta-feira que “a economia vai bem, mas o governo vai mal”. A análise foi feita durante o seminário “Fundamentos da Economia e os Desafios do Crescimento”, promovido pela Executiva Nacional do PSDB e o Instituto Teotônio Vilela em São Paulo. O tucano destacou que os economistas que participaram do evento foram unânimes na constatação de que o governo Lula administra mal o país.
Além disso, também houve consenso na avaliação de que a atual gestão se beneficia da boa conjuntura internacional, sobretudo em função da demanda crescente por commodities brasileiras; que o país perde oportunidades em razão dos erros da condução da política econômica; e que a administração petista não propicia um ambiente favorável aos investimentos.
CONVERGÊNCIA DE IDÉIAS
Fernando Henrique observou ainda a convergência em relação à necessidade do aumento dos investimentos em educação e saúde. Ele lembrou também da demanda pelo combate à impunidade. “A lei, no momento, é que o crime compensa. E quem morre mais são os pobres da periferia”, assinalou. As conclusões do seminário servirão de base para o III Congresso Nacional do PSDB, marcado para setembro.
Já o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan destacou a falta eficácia na condução da política econômica sob a gestão Lula. “Não existe política macroeconômica de esquerda ou de direita. Existe política macroeconômica mal ou bem conduzida, com mais ou menos competência. E o que falta hoje é um componente novo, chamado eficácia”, afirmou. Na avaliação de Malan, o seu sucessor na Fazenda, o atual deputado Antonio Palocci (PT-SP), teve “bom senso” ao não levar para o Ministério figuras expoentes do pensamento econômico do PT.
O ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros observou que a crise aérea é o exemplo mais visível e evidente da falta de capacidade gerencial do governo Lula. “Toda a infra-estrutura do país está sucateada. Ficamos chocados com o número de mortos com o acidente de TAM, mas todos os anos várias pessoas morrem nas nossas estradas, o que daria para encher vários aviões”, comparou.
O economista e pesquisador da Unicamp José Roberto Afonso defendeu a necessidade de um rigoroso ajuste fiscal. Segundo o economista, o ajuste hoje é feito somente por estados e municípios, que devem seguir os limites exigidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Para ele, a União também deveria se enquadrar nos mesmos limites. Afonso observou que os gastos do governo federal só aumentam.
CONVICÇÃO
Na avaliação de Fernando Henrique, o PSDB encara agora o desafio de traçar um rumo para o país e angariar a confiança dos brasileiros. Para ele, o partido deve continuar defendendo suas propostas com convicção. “Política não se faz sem convicção e coragem. Por isso, devemos falar claro. Em geral, os políticos falam de modo complicado e os que não falam complicado são os que o povo gosta. O [presidente] Lula, por exemplo, fala claro, mas, às vezes, não sabe onde quer chegar”, avaliou o tucano. Na perspectiva do ex-presidente da República, o PSDB teve papel fundamental na consolidação da democracia e no controle da inflação. “Ao contrário do que ocorre hoje, fizemos tudo o que dissemos no passado. Não tínhamos um discurso na campanha e outro no governo. Consolidamos a democracia e acabamos com a inflação”, ressaltou.
“Vamos mostrar à população que, se ganharmos as eleições, a economia continuará progredindo de maneira positiva e o governo melhorará”, disse. O tucano lembrou que coube à gestão do PSDB “preparar o país para o futuro”, com a adoção das agências reguladoras, da Lei de Responsabilidade Fiscal e de condições macroeconômicas sólidas. “O Brasil tem condições de dar grandes saltos mas, infelizmente, o governo é muito tímido”.
FH também condenou o uso político da crise aérea. Segundo ele, essa não é uma questão partidária. “Esse é um assunto muito sério. Muita gente morreu. É claro que os governos tem responsabilidade. Mas dizer que a crise vem de outros tempos não absolve o governo atual. Estourou tudo agora e quando estourou tem de assumir e fazer. É evidente que faltou comando. Foram dez meses para se ter um comando”, declarou. “O governo dormiu no ponto. Estava evidente que havia desconexão, que faltava comando”, afirmou.
Sobre a indicação de Nelson Jobim para o Ministério da Defesa, o presidente de honra do PSDB afirmou que ele é um “bom ministro”, mas disse que ainda vai esperar um tempo para julgar os efeitos das medidas adotadas por ele para solucionar o caos nos aeroportos. “Hoje há uma crise institucional e o principal problema do Brasil é a impunidade. Precisamos apurar e punir. Se não há punição, o povo não tem confiança”, disse o tucano, para quem a impunidade “passa a sensação de que o crime compensa e de que se pode transgredir a lei”. “O PSDB tem de ser muito claro em relação a isso. No Brasil, não há plenamente estado de direito. Se o direito não for efetivado, ele não existe. Para solucionar isso, é preciso consciência não só do governo como da população. É preciso criar consciência do respeito às leis”, acrescentou.
PAINEL
O tucano comentou ainda sobre a tentativa do Planalto de prorrogar a cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). “Esse assunto foi tratado no painel do seminário na manhã de hoje e ficou claro para nós que atualmente existe abundância de recursos e desperdício de verbas, principalmente nas mãos do Estado”, avaliou.
FH explicou que a CPMF foi criada ao longo do seu governo porque havia escassez de recursos. “Na época, a situação era outra. Tínhamos que controlar a inflação e o imposto inflacionário havia desaparecido. Havia ainda a necessidade de se investir em saúde. Atualmente, nada justifica a manutenção da CPMF no limite que está”, assinalou.
Fernando Henrique declarou que apóia proposta do presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), que prevê redução gradual da contribuição provisória “até que no futuro o imposto seja meramente fiscalizatório”. Pela proposta de emenda constitucional de autoria do parlamentar cearense, a alíquota da CPMF começará a sofrer redução gradual a partir de 1º de janeiro de 2008 – quando cairá para 0,28%. A partir daí a alíquota sofrerá redução a cada seis meses, até atingir 0,08% em julho de 2010, quando se manterá em caráter permanente. Sobre o tema reforma política, o tucano afirmou que defende a adoção do voto distrital para vereadores.