O ministro da Saúde, José Serra, foi lançado formalmente hoje (17) como pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB durante reunião da Executiva Nacional. A largada para a campanha ocorreu logo após a reunião da Executiva, em cerimônia ocorrida no Espaço Cultural da Câmara dos Deputados. Em seu pronunciamento, José Serra disse que a redução da desigualdade não é um sonho impossível, e lançou, como lema de seu ¥futuro governo¥, a frase ¥nada contra a estabilidade, tudo contra a desigualdade¥.
Segundo o ministro, o Brasil já atingiu capacidade produtiva e nível de renda bem superiores aos que tinham as nações asiáticas no início do processo que lhes permitiu reduzir a pobreza absoluta de mais de 60% para menos de 10% da população, no espaço de uma só geração. Ele lembrou que o Brasil moderno foi construído sob a liderança de homens que juntaram a esperança, a vontade e a competência, citando Getúlio Vargas, que sonhou com um Brasil industrializado, e Juscelino Kubitschek, que trouxe para o Brasil investimentos estrangeiros para impulsionar a indústria automobilística brasileira. Serra lembrou ainda de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e Franco Montoro, que combateram a ditadura recuperando a democracia.
Ele disse também que muitos brasileiros tiveram a esperança de acabar com a inflação, mas que isso só aconteceu no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O pré-candidato do PSDB à Presidência da República citou ainda a luta do governo brasileiro para quebrar, ¥em circunstâncias justificadas¥, patentes de remédios considerados essenciais. Ele disse que os críticos falavam ser ¥impossível¥ conseguir isso, porque o governo americano não permitiria e porque a Organização Mundial do Comércio (OMC) derrubaria a medida, alegando que Brasil está inserido em um mundo globalizado. O ministro afirmou que esse ¥impossível¥ é companheiro do ¥fica para depois¥, que foi usado por décadas para retardar a produção de medicamentos genéricos no Brasil. Segundo ele, foi possível a quebra de patentes graças à obstinação e competência negociadora do Brasil, com a ajuda da opnião pública nacional, organizações não-governamentais, dos 150 países da OMC e do entendimento do governo dos Estados Unidos. O ministro afirmou ainda a que o Brasil não pode perder tempo discutindo se deve ou não participar do processo de globalização. ¥Esse debate é falso. O problema real é outro: quais são nossas verdades e certezas, quais são nossos interesses como nação.¥
Para o ministro José Serra, a globalização não acaba com o conceito de ¥localidade¥, e ressaltou que o mundo continua sendo formado por nações poderosas, com interesses diferentes. ¥Países que seguiram ou foram obrigados a seguir as certezas dos outros pagaram caro pelas más escolhas¥, afirmou ao lembrar que esse foi o caso da Argentina. ¥Uma certeza, talvez uma conveniência, dos outros (de que o peso valia um dólar), levou o nosso país-irmão às dificuldades que atravessa e das quais espero sinceramente que logo se liberte.¥
O ministro afirmou ainda que, para haver progresso, é necessária a redução das desigualdades regionais.
Ao encerrar seu discurso de pré-candidato, Serra acenou para o diálogo com os outros partidos da base governista. ¥Não hesitaremos em buscar o diálogo com outros partidos, movimentos sociais e personalidades públicas. Tenho consciência de que uma ampla convergência de vontades políticas é importante para a vitória e essencial para a vida democrática e o êxito da ação governamental.¥ Serra disse isso depois de apresentar seu currículo, salientando que foi o primeiro ¥não médico¥ a assumir o Ministério da Saúde. Em seguida, afirmou: ¥Não compartilho a tese fácil, cômoda, de que a política é apenas a arte do possível. Para mim, política é a arte de ampliar os limites do possível. Ampliá-los ao máximo, até o limite de nosso engenho e nossa tenacidade.¥
Estiveram presentes ao evento de formalização da pré-candidatura do ministro governadores, ministros, parlamentares e militantes tucanos, entre eles os governadores Tasso Jereissati, do Ceará, Almir Gabriel, do Pará, Marconi Perillo, de Goiás, Albano Franco, de Sergipe, Geraldo Alckimin, de São Paulo, e Dante de Oliveira, de Mato Grosso. Presentes ainda Pimenta da Veiga, ministro das Comunicações, o presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (MG), e o presidente nacional do Partido, deputado José Aníbal (SP). Renata Covas, filha do ex-governador Mário Covas, compareceu representando a família do ex-governador.
José Aníbal abriu a solenidade afirmando que o Partido não se preocupa em antecipar a campanha eleitoral, pois quer fazer um ¥bom embate de idéias como fez em 1994 e 1998 e fará vitoriosamente em 2002¥. Enfatizou que a candidatura do PSDB se intensificará após 24 de fevereiro, data da convenção do Partido. Segundo José Aníbal, a campanha se dará em situação nacional de estabilidade econômica e política graças ao trabalho do presidente Fernando Henrique. Ele ressaltou o trabalho do ministro à frente do Ministério da Saúde e afirmou que, ¥pela primeira vez, a ação do ministro da Saúde chega ao cidadão¥.
Aníbal observou que Serra é de São Paulo, mas que ele se tornou ¥cidadão do Brasil, não agora, mas de antes, de quando se tornou presidente da União Nacional dos Estudantes¥. Ele agradeceu os tucanos que desistiram da candidatura à Presidência, governadores Tasso Jereissati (CE) e Dante de Oliveira (MT), e o ex-ministro Paulo Renato. Ele afirmou ainda que, se vivos estivessem, o ex-ministro Sergio e Motta e o ex-governador Franco Montoro estariam hoje e aqui compartilhando conosco todo o entusiasmo¥.
Em seguida, José Aníbal passou a palavra ao presidente da Câmara e anfitrião, Aécio Neves. Segundo Aécio, José Serra tem todas as qualidades para ganhar as eleições por sua ¥história política e inquestionável honestidade¥.