Tendo como discurso a defesa da volta da extinta Sudene, o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, começou nesta sexta-feira pelo Rio Grande do Norte uma ofensiva para tentar fortalecer sua candidatura na região, onde ainda leva grande desvantagem em relação a adversários diretos na disputa. O discurso marcou mais uma crítica ao atual governo.
Em Natal, onde PSDB e PMDB estão coligados e não terão problemas com a verticalização das eleições, Serra recebeu o apoio de 149 dos 167 prefeitos do Estado, num comício ao qual compareceram cerca de mil pessoas. À tarde, caminhou pelas ruas do centro da cidade, abraçou eleitores, foi beijado, agarrado e teve de se desvencilhar de pedidos de dinheiro. Não tinha um tostão nos bolsos.
Serra também prometeu retomar o projeto de perenização dos rios da região, uma promessa do presidente Fernando Henrique Cardoso que não saiu do papel. Mas com uma diferença: em vez de transpor as águas do rio São Francisco, prometeu a transposição das águas do rio Tocantins para o São Francisco.
O pré-candidato tucano aproveitou a viagem a Natal para acentuar uma mudança de estilo registrada nas últimas semanas: criticar abertamente o que não concorda no atual governo. Há duas semanas, foi a fórmula do aumento do preço da gasolina. Hoje, a extinção da Sudene.
No comício, Serra disse que até podia compreender a extinção da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) da forma como ela ocorreu, no rastro das denúncias de corrupção que atingiram sobretudo a Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia). Mas não concordava com ela.
¥A prioridade é refazer a Sudene no âmbito que ela já tinha, mas dentro de um projeto diferente de canalização de incentivos, de recursos e de investimentos¥, disse o pré-candidato.
No comício, realizado na sede do América Futebol Clube, um dos mais tradicionais de Natal, o tucano disse que o economista Celso Furtado, o criador da Sudene, fora fundamental em sua formação intelectual. E que _a exemplo do economista, que nos anos 60 deflagrou a ¥Operação Nordeste¥_, ele, se for eleito, lançará em seu governo a ¥Operação Novo Nordeste¥.
Além da volta da Sudene, Serra prometeu que um eventual governo seu terá uma coordenação forte para as áreas de incentivos fiscais, recursos do Banco do Nordeste e investimentos.
A ¥prioridade número um¥ da ¥Operação Novo Nordeste¥ seriam as exportações. Sobre o tema, Serra aproveitou para criticar o pré-candidato do PT ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva: ¥Exportação ajuda o mercado interno. Há uma idéia equivocada, que uma vez o Lula expôs, [segundo a qual] a exportação é contraditória com o mercado interno. É errado¥, disse.
Serra negou que o governo tenha ¥enterrado¥ o projeto de transposição do São Francisco. O que houve, segundo o tucano, foram posições divergentes dentro da própria região Nordeste, além de questões técnicas relacionadas com os problemas de vazão das águas do rio.
Inadvertidamente, Serra justificou o projeto com uma frase que fez lembrar o Brasil do milagre econômico do início dos anos 70: ¥[A transposição do Tocantins] traz água de uma região que tem água sobrando para outra que tem água faltando¥. Ao justificar os projetos de colonização da Amazônia, o general Emílio Médici dizia que se tratava de dar terras sem homens para homens sem terras.