Depois de sete anos, índice converge para a meta e taxa acumulada no trimestre é a menor desde o Plano Real. Abre-se uma avenida para derrubar os juros e impulsionar o processo de recuperação da economia
Depois de ter flertado com o descontrole durante a maior parte do governo Dilma, a inflação finalmente voltou para pertinho da meta. Trata-se de uma conquista relevante e que pode ser creditada em boa medida ao maior rigor da gestão Michel Temer em relação ao assunto.
A inflação acumulada em 12 meses recuou para 4,57%, segundo informou o IBGE nesta manhã. Desde agosto de 2010, o IPCA não retrocedia ao patamar estabelecido como alvo pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A taxa acumulada no trimestre é a menor desde o início do Plano Real. Há espaço para cair mais e, sobretudo, derrubar ainda mais as taxas de juros, impulsionando o processo de recuperação da economia ora em marcha.
Em seu mais recente relatório trimestral de inflação, que a cada três meses traz amplo diagnóstico do comportamento de preços no país, o Banco Central traçou cenário bastante otimista. Para este ano, o prognóstico de referência – ou seja, na hipótese de serem mantidos a taxa de juros e o câmbio em vigor – indica IPCA de 3,6%. Em 2018, a inflação poderia descer a 3,3%.
São ambos percentuais bastante abaixo da meta definida pelo CMN, de 4,5%, mas ainda dentro da margem de variação tolerável, de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o Comitê de Política Monetária (Copom) tem uma avenida enorme pela frente para reduzir ainda mais, e com mais ímpeto, a taxa básica de juros.
Na semana que vem, o Copom volta a se reunir e deve determinar mais um corte na Selic. As apostas mínimas encontram-se agora em um ponto percentual, o que levaria a taxa básica para 11,25%, a mais baixa desde outubro de 2014, mas ainda alta. As estimativas predominantes no mercado apontam juros de 8,75% no fim deste ano – por que não chegar a 8%?
Cada ponto percentual a menos na Selic resulta em economia de R$ 26 bilhões por ano para o governo – o dispêndio atual com pagamento de juros da dívida pública gira em torno de R$ 400 bilhões, mas vai cair. O corte também precisa chegar à ponta, em que as taxas aos tomadores finais de crédito ainda mantêm-se extorsivas.
Se a política monetária faz a sua parte, o outro lado da estabilidade da moeda cabe à política fiscal. O desafio é grande. O governo luta para conseguir cumprir a meta fixada para este ano, mas ainda terá de cortar mais despesas até para fechar o quarto déficit seguido nas contas públicas. Também e sobretudo por isso, são tão necessárias as reformas.
A inflação foi rapidamente derrotada também porque passou a ser tratada como prioridade de governo. Não foi o que aconteceu na gestão da ex-presidente. Até porque, talvez, a cartilha petista ainda não se dê conta de que a carestia é mais perversa com os mais pobres, a quem a alta inclemente dos preços mais castiga. Do mesmo jeito que esta postura negligente foi defenestrada da vida nacional, agora chegou a hora de dar tchau à inflação.